O NOSSO RIO MINHO
Com o dilúvio nasceste,
em os Cantábricos Montes;
e bebendo de mil fontes,
como serpente desceste.
Deram-te nome de rei,
Minos de Creta, chacal;
filho d’Europa imperial
e de Zeus, senhor da Lei.
Republicano e monárquico,
português e espanhol,
amando a lua e o sol,
disciplinado e anárquico.
Foste palco de tragédias,
viste morrer muita gente;
e, julgando-te indiferente,
sujaram-te as águas nédias.
Tanto corpo, tanto drama,
em teu leito se espojou;
e o desgosto imperou
como a aranha na trama.
Viste celtas e romanos,
suevos, godos e mouros;
brancos, morenos e louros,
uns feras, outros humanos.
Alimentaste gente esguia,
com teu peixe bom e raro;
o salmão, bonito e caro,
sável, truta e enguia.
Da lampreia já não falo
- quão famoso te tornou –
mas partiu, e mui chorou,
abraçadinha ao escalo.
Nas tuas margens singelas
(que deliciam olhares)
erigiram-te altares,
as moças feias e belas.
Tu lembras-te, rio Minho,
quando fomos companheiros,
os dois juntos, prazenteiros,
como pássaros no ninho?
Contavas-me teus segredos,
ternos amores felizes,
e as guerras meretrizes,
e os imensos degredos.
Dos cântabros e mafomas,
ástures, galaicos feitos,
bravas armas, fortes peitos,
fazendo tremer mil Romas.
Da Condessa Dona T’resa,
que recebeu o condado,
mas talvez por ser herdado
o perdeu sem mui destreza!
Do nosso Afonso Henriques,
que quis alongar Portugal
e, num milagre genial,
o conseguiu em Ourique.
Ó meu saudoso gigante,
meu corcel d’ asas aladas,
deixa, por águas passadas,
repousar minh’ alma errante.
Recorda o tempo remoto,
datas d’ outrora enfatiza;
mas ama sempre a Galiza,
e continua minhoto.
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