CARTAS SOBRE CASTRO LABOREIRO
No jornal «Correio de Melgaço» n.º 184, um dos seus correspondentes dá inicio a uma série de cartas. Como têm importância para a história de Castro Laboreiro, freguesia do concelho de Melgaço a partir dos finais de 1855, vou transcrevê-las.
1.ª - «Sr. Redactor – não julgue que lhe vou falar dos palácios sumptuosos
de Albandia (deve ser Alhambra) ou Granada, que os prosélitos de Mafoma erigiram
no reino vizinho; nem (…) das casinhas colmadas (…) que nesta freguesia se
aninham, desde os mais altos pendores das serras até aos mais recônditos pontos
agasalhados dos vales. Não! Se o flagelo da neve e frio contínuos, que nos
paraleliza com os noruegueses e russos, se o excesso de trabalho, que nos confunde com os negros
africanos, se o aumento progressivo das contribuições, conjuntamente com a
nossa posição topográfica, longe dos centros, que nos comunicariam descantes de
sociabilidade e haustos de vida, nos não privassem de um certo número de
regalias, que os nossos compatriotas e mesmo regionalistas fruem, vá; pois já
estamos habituados à vida nómada, que nos legaram os antepassados com puras
gemas de honra e nobilíssimos exemplos de trabalho; mas que, como em país
conquistado, o fisco nos assoberbe com a maior rudeza e crueldade, nos espolie
os direitos conquistados (…), abusando enfim (…) do poder a que não sabe dar
restrição, nos amesquinhe e desrespeite, não podemos consentir; e eis a razão
por que resolvemos tornar do domínio público factos (…) para que chamamos a atenção do Chefe da Guarda Fiscal neste concelho. – Além da proibição do trânsito de cereais, de lugar para
lugar, abuso a que a Autoridade Administrativa já pôs termo (…) nós temos o
registo civil dos vitelos! – Pariu-nos uma vaca? Vamos ao posto fiscal!!!
Julgamos ser os únicos nesta parte da Terra… Porém, há mais, e muito sério: - sem
dúvida, os povos da raia compram, no país vizinho – já pela sua grandeza, já
porque não luta, por enquanto, abertamente com a crise da guerra, os animais de
trabalho e criação, que submetem a direitos. Um chefe de posto semi-analfabeto
e, mesmo, sem competência, assim o julgamos, lembrou-se de traçar um só caminho
para todo o gado importado, sem se importar de que o importador é, hoje, um
benemérito, mas sim de que, sem trabalho, podia, com os subordinados, fazer a
colheita! É inadmissível o projecto (infelizmente com força de lei) do tal
comandante de posto. E se não vejam: - as feiras espanholas, desde Milmanda a
Vila Nova de Bande, desde Couço a Porqueiroz, Lobeira e Entrime, compreendem um
semi-círculo de raia com 30 a 40 kms. Pois os compradores castrejos se
comprarem em Milmanda, e em risco de perderem os bens comprados, terão de vir
ao caminho do último ponto, percorrendo os 40 kms, por país estrangeiro (…) só
para satisfazer o capricho estulto de um empregado sem competência, para estabelecer
meios estratégicos de assalto. Não obsta esta irregularidade a que já diversas apreensões fossem feitas a
habitantes desta freguesia, a nosso ver, indevidamente. Por isto, e porque é
tempo de normalizar a nossa situação, pedimos ao Chefe da Guarda Fiscal, neste concelho,
que nos oiça e ao povo desta freguesia, situada entre caprichosos monstros de
mármore e granito, e, por si, com alta competência, veja da justiça que nos
assiste… C.L., 26/1/1916.»
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