sexta-feira, 28 de setembro de 2018

ENTRE MORTOS E FERIDOS
(romance histórico)

                                                                Por Joaquim A. Rocha




16.º Capítulo


CACHEU

 
     Mais uma semana passara. Velozmente. Lisboa estava a transformar-se. Viam-se por todo o lado estrangeiros – queriam conhecer a cidade da revolução, do 25 de Abril. Os negros também eram cada vez em maior número. Vinham de África à procura de um trabalho, de uma ocupação, fugindo à fome e à guerra civil. Até se dizia que metade dos cabo-verdianos já estava em Portugal!  

     Os dois amigos continuavam, como sempre, a encontrar-se:

 - Boa tarde, amigo Cândido. Então hoje vai-me falar de Cacheu. Era uma vila ou cidade?


- Uma pequeníssima cidade; berço de nascimento de Honório Barreto, nascido ali a 24/4/1813 e falecido em Bissau a 26/4/1859. Um homem negro que ascendeu a Governador da Província e que ofereceu a Portugal algumas parcelas do território da Guiné, sua pertença, ou adquiridos aos nativos. Foi também tenente-coronel do exército (2.ª linha). A sua estátua ainda lá permanecia, não imponente, apenas uma simples estátua de granito, com dois metros e meio de altura.


- O mais certo é que ela tenha sido destruída depois da independência?!

- Duvido. Trata-se de um conterrâneo, a sua vida decorreu no transacto século. Se fosse agora, o Partido de Nino Vieira jamais perdoaria a sua fidelidade à pátria de Eça de Queirós e de Aquilino. Quereria realçar a diferença, destacar-se, destronar os heróis alheios, destruir os símbolos do colonialismo.               

- Tudo bem, mas ponhamos essas especulações de lado – interrompe Henrique, com receio de voltar à conversa fiada.

  

     Cândido quase não o ouviu. Quando estava inspirado, nada, nem ninguém, o parava. Era um conversador nato. Continua ele:     

 

- Cacheu, no ano de 1966, não era uma cidade feia nem bonita. Aliás, chamar àquele conjunto de casebres escuros, embora banhados por um sol resplandecente e pródigo, algumas ruas de terra batida, uma miniatura de loja – taberna e mercearia – poucas centenas de habitantes, cidade, mesmo no atrasado continente africano, tornava-se abusivo. Na maior habitação abrigava-se a tropa. Ali perto existia um humilde mercado, onde se vendia peixe e carne, e demais produtos da região. Havia também a antiga fortaleza, com os seus canhões apontados para o mar. Junto à “cidade” viam-se palhoças que albergavam numerosas famílias de autóctones: manjacos, brames e mancanhas.

- Tantas etnias! – exclama Henrique, estupefacto.

- E sabes que se distinguiam pelo físico e pela cor?!

- Não, não sabia – confessa o jovem lisboeta.

- Contudo é verdade. Mas do que mais gostei em Cacheu foi do rio que lhe deu o nome: largo e majestoso. Nele pescava-se peixe e marisco com abundância. De vez em quando chegavam os barcos da marinha, trazendo cerveja e víveres para os militares ali colocados. Uma festa, quando aportavam! Bem-dispostos, folgazões, os marinheiros transportavam com eles a alegria de viver – até parecia que não estávamos em guerra!

     Em Cacheu arranjei logo um fio de pesca e anzóis. O isco ia comprá-lo ao mercado: peixes, que cortava em pequenos bocados. Sentava-me na frágil estrutura de madeira – pomposamente designada por cais – onde atracavam os navios, e aí lançava a linha e ficava à espera que algum peixe esfomeado caísse na ratoeira que eu lhe armara. Em todas as espécies animais existem criaturas imprudentes e ingénuas – são essas as vítimas dos predadores. A natureza assim nos moldou e nós não podemos alterar seja o que for, sob pena de provocarmos a nossa autodestruição. Tudo obedece a uma lógica e a um ritmo constante; tudo caminha para um equilíbrio, que pode ser instável se o ser humano adquirir mais poder e contrariar as forças do universo. Mas que sei eu? Onde estão as certezas?

- Julgo que se o Homem não interviesse, destruindo, algumas espécies tornar-se-iam autênticas pragas – diz Henrique, exibindo os seus conhecimentos.

- És capaz de ter razão, mas o que é de mais é moléstia. O ser humano tem de conter os seus ímpetos, não eliminando à toa, senão a natureza vingar-se-á, e até – não tenhas disso quaisquer dúvidas – os inocentes pagarão por um mal que não fizeram.   

 

- E chegou a pescar alguma coisa de jeito?! – pergunta Henrique, a rir, ignorando os arrazoados do amigo.

- Pesquei alguns exemplares enormes! Um deles, furioso por ter sido apanhado, furou-me o dedo mindinho da mão direita quando o estava a tirar do anzol. Chamei-lhe todos os nomes feios que no momento me vieram à ideia! Fui à enfermaria a correr e tive de apanhar uma “pica” contra uma mais que provável infecção. Não havia muito tempo que levara outra: uma carraça tinha-se-me pegado à pele, camuflada com os pêlos da púbis, a sugar-me o sangue, como se eu fosse um boi pastando tranquilamente na savana. O paciente enfermeiro, de seu nome Ferreira, com uma pinça, meticulosamente, arrancou-a do meu corpo. Disse-me: «Safaste-te de boa; a cabrona não queria sair!»

- Os perigos que encerra África! E que fazia ao peixe que pescava?!

- O que conseguia pescar, levava-o à cozinha, grelhava-se e bem regado com umas cervejas transformava-se num verdadeiro petisco.

- Até parecia que estavam no paraíso!

- Não obstante toda esta aparente calma, continuávamos em acérrima zaragata com os “turras”. Daí partíamos para as matas de São Domingos, Susana, Varela… que só falar delas os nossos cabelos ficavam em pé!

- Eram mais perigosas do que as anteriores?!

- Todas elas eram problemáticas, mas estas tinham a agravante de se situarem na fronteira com o Senegal, país que – tal como a República da Guiné – apoiava aberta e decididamente o nosso adversário.

     Numa das operações deparámos com os Felupes. Eu tremia como varas verdes, sacudidas pelo vento, porque tinha ouvido dizer que os membros dessa tribo usavam setas envenenadas e que não havia cura para esse veneno. Nada tínhamos, porém, a temer. Eles, pelos vistos, eram neutrais, não tomavam partido. Só não queriam que os brancos os prejudicassem, que os obrigassem a alterar a sua maneira de viver. Se o tentassem, aí sim, teriam de enfrentar um inimigo poderoso.

- É um povo especial!

- Sem dúvida. Roupa, a bem dizer não usavam: apenas uma simples tanga – feita de fibra natural, salvo erro – lhes cobria o pirilau e o rabo.

     Apesar de essa zona ser perigosíssima, como já te disse algures, não era, mesmo assim, considerada a pior das piores; contudo, tivemos alguns recontros com o mafarrico; sofremos algumas emboscadas, perdemos dois camaradas; imensos feridos; continuámos a queimar, a destruir sem piedade, diversas aldeias conotadas com os guerrilheiros do PAIGC, e fizemos também alguns prisioneiros – a rotina!   

- E que faziam aos presos?                                

- Os detidos eram geralmente interrogados por indivíduos civis, por um agente (suponho que pertencente aos quadros da polícia política), de cor negra, verdadeiro gigante. Um dia assisti, por casualidade, a um desses bárbaros interrogatórios e fiquei estupefacto, de boca aberta: o brutamontes ia matando o homem – até para cima dele saltou!

- Incrível! Desumano!

- Outros prisioneiros eram levados connosco às operações, com o fim de nos indicarem (prometia-se-lhes a liberdade e proteção da tropa se aceitassem) os locais onde se encontravam os postos avançados dos seus correligionários.

- E colaboraram convosco?!

- Nunca cederam. Pagaram, contudo, com a vida tal recusa. A coerência exige muitos sacrifícios.

     Numa dessas batidas pelo mato (há tanto tempo e parece que foi ontem) levámos três suspeitos. Os nossos guias, servindo-se da língua deles, pediram-lhes que denunciassem os seus irmãos de Partido e nos conduzissem às suas posições. Responderam à solicitação de forma ambígua. No entanto, lá os seguimos e às tantas os guias informam o capitão: «Nosso capitão, os prisioneiros estão a fazer-nos andar às voltas; nós já passámos por aqui há pouco!»

     O caudilho, arrebatado, ferido no seu orgulho de oficial de carreira, ordena: «Matem esses filhos da mãe. Pensam que brincam connosco?!»

     Logo se ofereceram uns quantos voluntários. Pasme-se: quase todos eles de cor negra!

     Usou-se um estratagema indigno para os abater. De acordo com instruções do graduado, os guias informaram os cativos de que «podiam ir embora em liberdade, já não eram necessários, tinham cumprido com eficiência a sua tarefa  

     Duvido que eles tivessem acreditado. Não pareciam parvos e sabiam que em tempo de guerra mercês, dádivas, não existem. Não tinham, todavia, alternativa. O destino deles estava de antemão traçado.

     Olharam uns para os outros e iniciaram a caminhada lentamente. Os guias, num vozeirão de assustar o mais destemido, berram: «Corram; o nosso capitão pode arrepender-se

     Os homens começaram a correr como lebres, como danados, em ziguezague, na esperança vã de salvarem a pele, mas as balas são mais rápidas. Uma verdadeira chuva delas cai sobre as costas dos desgraçados, que nem tempo tiveram para dizer ai ou ui!

- Um verdadeiro assassínio – comenta Henrique.

- É também a minha opinião, mas de que vale?! Esses crimes ficarão impunes para sempre. E mais: daqui a uns anos os oficiais de um e de outro exército abraçar-se-ão como amigos! Tudo esquece.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

QUADRAS AO DEUS DARÁ
 
Por Joaquim A. Rocha




Já amei dez mil mulheres,

Ainda amava muito mais,

Se não te encontrasse a ti,

Nascida dos vendavais.

 

 

 

Adeus grandes oradores,

Vosso reino pereceu;

Éreis melros, ruissenhores,

Reis do mundo, reis do céu!

 

 

 

O palrar não adianta,

As obras sim é que contam;

O cantor sem voz, espanta,

Mulas bravas não se montam.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

LEMBRANÇAS AMARGAS
romance



                                                                       Por Joaquim A. Rocha





XXV
 
            Na toca do lobo a raposa ri e dança

     Passou mais algum tempo e agora estou quase a trajar de cinzento, a cor da farda do exército português. A minha mãe continuava a fazer jus à alcunha que alguém lhe pôs: «pinguça». A minha namorada, com quem pensava casar logo que da tropa regressasse, não me ligava mais: o carro e a conta bancária falaram mais alto do que o coração. Mas quem pode condenar esse desejo legítimo de viver sem dificuldades de espécie alguma? Deitemos para trás das costas os impertinentes ou pertinentes juízos; isso já aconteceu há muito tempo e não é agora que alguém se vai preocupar com coisas do passado. Venham mas é assistir ao espetáculo:
 


- Não acredito! A dançar com o Artur? E disse-me ela que não vinha à festa, estava adoentada, a mãe também tinha problemas de saúde, pulha, impostora!

- Não querias acreditar, eu bem te avisei.

- Apetecia-me partir-lhe a cara no meio desta gente toda. Cabra!

- As mulheres são todas iguais, umas megeras; tu vivias de olhos tapados, eu há muito tempo que te andava a chamar a atenção, mas não querias ouvir, pensavas que eu te mentia.

- Vou lá e parto-lhe as bentas, filha da mãe, era só amor, eu era o seu ídolo, preferia morrer a casar com outro, e agora aparece-lhe este, com carrinho, meia dúzia de francos no bolso do casaco, e toca a trocar-me por ele!

- Espero que te sirva de lição, faz como eu: tenho sempre uma ou duas de reserva, comigo elas não brincam. Vem comigo, vamos-lhe beber uns copos para esquecer.

- Primeiro quero que ela me diga aqui, no meio desta multidão, porque é que me trocou. Por ser pobre?

- Acalma-te. Olha que o Artur dá-te uma moia, o tipo tem o corpo puxado, é um latagão, tem aí os irmãos também, os cunhados, o melhor é esqueceres, não te faltarão raparigas, lixa-te para ela e para as da laia dela e vamos embora.

- Cabrona, mentirosa, falsa; nunca mais quero namorar na vida, jamais confiarei numa mulher, já não me bastava ter uma mãe sem jeito, agora também esta desavergonhada a desrespeitar-me, a abandonar-me como se eu tivesse peçonha; tantas promessas, tantos sonhos, e tudo deitado por água-abaixo; hoje destruiu as minhas ilusões, a minha razão de viver, oxalá vá para África, para a guerra, e por lá fique, ao menos morrerei lutando pela pátria.  

- Vamos embora, estás a martirizar-te, não adianta, mesmo que fosses ter com ela só arranjarias sarilhos, ela já fez a sua escolha, trocou-te pelo dinheiro, pelo carro, por um futuro mais desafogado. Que lhe podias tu oferecer? Um rancho de filhos borrados, uma cozinha minúscula para cozinhar para ambos e para os fedelhos, uma carteira magra, amiúde vazia, sempre a contar os tostões, a lamentar talvez ter casado contigo. Assim vai para França, mesmo que trabalhe vai ver dinheiro, o tal «l’arjão», como os emigrantes lhe chamam, algum conforto, virá passar as férias no seu popó, terão aqui uma vivenda, os filhos que nascerem em França estudarão e até podem vir a ter boas profissões, um futuro risonho; se gostas dela deixa-a seguir o seu rumo em paz.

- E o amor?

- Qual amor? O amor é ter a pança cheia, roupa para vestir, calçado, uma boa casa, dinheiro, vislumbrar um amanhã melhor para os filhos; tu, por enquanto, não lhe poderás oferecer nada disso, vais assentar praça, por lá andarás três ou quatro anos, irás quase de certeza para a guerra colonial, podes ficar ferido, doente, eu sei lá!

- Talvez tenhas razão, mas é cruel o que ela me fez, não lhe merecia isto; olha que gosto imenso dela, para mim não existe mais ninguém, nunca mais a esquecerei, magoou-me muito, não sei se lhe perdoarei um dia esta atitude, este procedimento, abominável e impiedoso.

- Vamos beber uns copos, olha, vem ali o Bordelhas, dizem que a pinga da Amélia é fora de série.

- Ora viva! Aqui os dois tão sossegadinhos, até parece que estão a tramar alguma.

- Aqui o Cândido é que sofreu um grande desgosto, a Bera trocou-o pelo Artur…

- Que grande novidade a tua, amigo Rina! Isso já toda a gente sabe, na Vila não se fala noutra coisa, que ela não é tola, não, dizem que o marmanjo tem pilim, olha, mulheres é o que há mais, eu se quisesse engatar aí uma…, mas não estou para a aturar, vamos mas é beber que estou com a garganta seca.
 



- Lá, lalá, lalá! O mundo está louco, o mundo está louco, e eu já estou rouco!


- Ó Cândido, filho de uma putona, cala-te que eu quero dormir. Caramba! Bebemos que nem uns camelos do deserto, estamos borrachos como cachos, e eu que tenho de pegar às oito!

- Deixa lá cantar o enganado, Bordelhas. «Quem canta seus males espanta». Que horas são?

- O sino da torre deu as sete, vamos para casa comer uma bucha e arrancar para o trabalho, e logo hoje que tenho de ir para a serra, nem posso com as pernas.

- Vão vocês embora, eu ainda fico aqui debaixo desta árvore, não posso com a cabeça.

- E querias tu pelejar com o Artur, nem sequer aguentas uma borracheira, és um podriqueiro!

- Ó Rina, sabes bem que não estou habituado, é a minha primeira bebedeira a sério, nunca tinha ficado fora de casa, a minha mioleira anda às voltas, parece que vou vomitar.

- Vamos levar-te a casa, a tua mãe que te faça um chá.
 
                                      
- Senhora Matilde, faça um chá ao seu filho que ele está doente.


- Ó desgraçado, que andaste tu a fazer esta noite?

- Apanhámos todos nós uma grande piela; foi de caixão à cova!

- Vai-te deitar, vai, que estás bonito; pareces um cadáver!

terça-feira, 18 de setembro de 2018

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha






 
                                  Roubos
 
No Correio de Melgaço n.º 149, de 16/5/1915, lemos a seguinte comédia num acto: «Um meliante qualquer, de Paderne, do qual não se sabe o nome, que trabalha há tempos em Espanha, roubou, a 14/5/1915, a Manuel José Fernandes, proprietário de Alvaredo, um redeiro, que aquele cidadão tinha a secar perto do rio Minho. Preso, com o objecto roubado, foi conduzido a esta Vila por dois cabos de polícia, daquela freguesia, um armado com uma espingarda caçadeira e o outro munido de um bom cacete. O atrevido gatuno, porém, ao chegar a Galvão de Cima, perto da Vila, deu às de Vila Diogo, deixando os representantes da autoridade com cara… à banda! O cabo da polícia que trazia a arma caçadeira ainda deu ao gatilho por duas vezes, mas… cruel decepção!.. a arma era velha e para maior infelicidade estava descarregada, não podendo fazer fogo sobre o gatuno que – auxiliado pelas rijas gâmbias – atravessou campos e o regato de Prado, pondo-se em bom lugar. Os seus perseguidores ainda tentaram procurá-lo pelos campos de centeio, mas em vão o fizeram, pois não o viram mais. Resolveram então vir contar o caso ao administrador do concelho e fazer-lhe entrega da rede roubada, que o meliante tinha deixado como recordação.» Quer dizer: o pobre diabo deixou-lhes a rede, carregou com ela quase cinco quilómetros a pé, e ainda queriam que ele fosse para a cadeia. Bons tempos!  
 

 


PEREIRA, Firmino. Filho de Bernardino Pereira e de Marcelina Esteves Cordeiro, residentes no lugar das Lages. Neto paterno de Francisco Pereira e de Maria Joana Gonçalves; neto materno de Francisco António Esteves Cordeiro e de Mariana Gonçalves, todos lavradores. Nasceu em Penso a 2/3/1872 e foi batizado no dia seguinte. Padrinhos: os avós maternos, de Casal Maninho. // Proprietário. // Casou com Maria Amália da Cruz Rodrigues. // Em Junho de 1918, quando andava a sachar nas suas propriedades, os gatunos partiram o vidro de uma janela de sua casa, roubando-lhe um relógio e corrente de prata, dois cordões de ouro, uma aliança de ouro, e algum dinheiro, pouco, por não terem encontrado mais (Jornal de Melgaço n.º 1211, de 22/6/1918).   
 


*


ALMEIDA, Maria das Dores. Filha de ------------- Almeida e de --------------------. Nasceu por volta de 1858. // Em 1918 a Câmara Municipal concedeu-lhe uma licença para ela vedar um seu quintal, sito à Feira Nova (JM 1198, de 9/3/1918). // Tinha a profissão de forneira. // A 26/4/1906 foi madrinha de Paulo José de Sousa. // A 9/3/1919, enquanto ela estava na feira, assaltaram-lhe a casa, de onde furtaram um cordão de ouro e 81$50 (JM 1242, de 13/4/1919). // Faleceu na Vila a --/--/1933, com 75 anos de idade. 

domingo, 16 de setembro de 2018

MAIS UM AMIGO QUE NOS DEIXA





CARVALHO, David. Filho de Germano Domingues e de Esperança de Carvalho, naturais de Parada do Monte, concelho de Melgaço, comerciantes. Nasceu nessa freguesia da montanha a 30/11/1955. // Ainda estudou algum tempo em Melgaço e depois em Lisboa, mas acabou por desistir. // Em Melgaço fundou, juntamente com Maximino Reinales, e outros, um conjunto musical, ao qual batizaram de «GAUDEAMUS». Ele tocava guitarra elétrica e era o vocalista. Por essa altura, devido em parte à guerra colonial, a maioria dos melgacenses emigrara. As festas nas aldeias praticamente deixaram de existir; a Câmara Municipal, mesmo que quisesse ajudar, não tinha dinheiro; por isso, estes conjuntos regionais deixaram de ter procura. Daí, o David emigrar para França, onde se encontravam já alguns dos seus irmãos. // Mais tarde casou com Lurdes Barbeitos, natural de São Gregório, freguesia de Cristóval, concelho de Melgaço. // Em 2013 parece que morava com a companheira em Melgaço, ele já bastante doente. // Morreu em França a 10/9/2018.  // Com ele morre também o seu blogue «Melgaço do Passado e do Presente».

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO

Por Joaquim A. Rocha





Macróbios

SOUSA, Maria dos Anjos. Filha de Manuel Pereira de Sousa, natural de Penso, Melgaço, e de Egita Maria Rodrigues, natural de Monção. Nasceu em Penso a --/--/1923. // Trabalhou durante anos, como ajudante, no hospital da Santa Casa da Misericórdia, sito na Vila de Melgaço. Era uma empregada exemplar. Tratava os enfermos com carinho, fazia por eles tudo que podia. O doente, mesmo que vivesse cem anos, nunca mais se esquecia daquele rosto calmo, daquela dedicação desinteressada, daquela voz maviosa, ternurenta. // Em 1995, e em 1999, estava solteira e residia no lugar de Pomar, freguesia de Penso (A Voz de Melgaço n.º 1035 e n.º 1111). // Nos últimos anos da sua vida esteve internada no Lar Pereira de Sousa, no lugar de Eiró, freguesia de Rouças. // Faleceu no estado de solteira, a 5/6/2018, com noventa e cinco anos de idade, e foi sepultada no cemitério de Penso, Melgaço.   
 



VAZ, Baltazar. Filho de Manuel Inácio Vaz e de Facelinda Rodrigues, lavradores, residentes no lugar de Felgueiras, freguesia de Penso. Neto paterno de Vicente Vaz e de Maria Emília Esteves; neto materno de Manuel Rodrigues e de Maria Teresa Fernandes. Nasceu em Penso a 2/7/1905 e foi batizado na igreja a 4 desse mês e ano. Padrinhos: os seus avós paternos, rurais. // A 24/7/1917 fez exame do 1.º grau, obtendo a classificação de ótimo; era aluno do professor Carlos Manuel da Rocha (Jornal de Melgaço n.º 1168, de 28/7/1917). // Casou na CRCM a 1/4/1926 com Aduinda de Jesus Fernandes. // Trabalhou arduamente na estrada a partir cascalho, na agricultura, e foi cesteiro. // Trabalhou também com seu irmão Custódio a fazer latadas de arame. // Eram três irmãos e três irmãs. Todos eles sabiam tocar: o Custódio tocava violino, o António tocava guitarra, e o Baltazar tocava violão, sem nunca terem tido mestre! A irmã Maria cantava muito bem, segundo consta. // O Baltazar sabia ler e, por vezes, organizava pequenas peças de teatro, representadas no Clube de Penso. // Ambos os cônjuges faleceram no lugar de Felgueiras, Penso: a esposa a 16/9/1976 e ele a 11/3/1999, com 93 anos de idade. // Pai de Ângela, de Domingos, e de Maria.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha



Casa fidalga em ruínas (vila de Melgaço)



CASA DE MIDÃO


     Marca de alvarinho produzido na freguesia de Paderne, Melgaço, por Armando Abel Gonçalves. No concurso de vinhos alvarinhos de 2006 obteve a medalha de ouro. O 2.º lugar foi para a Casa do Cerdedo, Rouças, e o 3.º para a Adega do Sossego, Peso, Paderne. Em 2009 foi novamente o 1.º classificado (Revista Municipal n.º 48, de Agosto/2009).  

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CASA DO MINHO

 

Existem duas: uma no Rio de Janeiro, fundada em 1924, e outra em Lisboa, fundada no ano de 1923. A do Brasil já teve à sua frente o grande artista melgacense, Manuel Igrejas. De acordo com os seus estatutos, na de Lisboa não se permitia discutir política nem religião. Um dos seus ilustres dirigentes (presidente da Direção) foi o melgacense por adoção, juiz conselheiro Manuel Fernandes Pinto, que nascera em Monção na segunda metade do século XIX. Por decreto de 2/12/1886 foi nomeado delegado do procurador régio para Melgaço, tomando posse a 27 desse mês. Como foi promovido a juiz de Direito a 18/5/1889 teve de ir para Monchique. Em 1897 foi para Montalegre. Voltou para Melgaço como juiz, tendo sido empossado a 2/6/1900. Por ter sido promovido à primeira classe em 1906 seguiu para Idanha-a-Nova. Também foi juiz em Ceia, e em duas varas em Lisboa. Foi colocado no Tribunal da Relação de Lisboa e acabou por ser vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Em 13/2/1913 foi designado para o cargo de Governador Civil de Viana do Castelo. / Casara em Lisboa, a 8/9/1897, com Ludovina Amélia, filha de Vitorino da Rocha Gonçalves, melgacenses. / Faleceu na capital do país a 12/7/1944. A sua viúva acabou seus dias em Melgaço a 10/10/1954, com 80 anos de idade. / Os descendentes do Dr. Juiz Pinto são proprietários da “Casa da Calçada”, por um filho dele, Dr. Henrique, ter casado com Maria Higina de Magalhães. / A Direção da Casa do Minho (Lisboa) decidiu construir uma nova sede. O projeto era do arquiteto Fernandes Pinto, neto do Dr. Juiz Pinto, e já tinham o terreno para o efeito (VM 936, de 1/4/1991). Suponho que esse projeto não foi avante. / Em 1975 tinha cerca de 600 sócios, o que era pouco para tantos minhotos que havia em Lisboa. / Em 1995 estava instalada, provisoriamente, na Rua dos Anjos. Aguardava a aprovação do projeto e que se tirassem as barracas no terreno cedido pela Câmara Municipal de Lisboa para a sua construção; esperava também um subsídio do MPAT a fim de arrancar a primeira fase (VM 1041, de 1/12/95). / A 19/12/1995 foi assinado, entre a DGOTDU, CCRLVT, e a Casa do Minho, um protocolo de comparticipação para o projeto de execução da nova sede… (VM 1046, de 1/3/1996). / Em 2007 escreveu-se que a sua sede era na Rua Professor Orlando Ribeiro, 3 D – Lisboa (VM 1291, de 1/12/2007).         

sábado, 8 de setembro de 2018

OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de «Os Lusíadas» de Camões)
 
Por Joaquim A. Rocha




Primeira Parte

(1500 a 1820)


 

1

 

Em mil e quinhentos sai do Restelo

A frota comandada por Cabral;

Os navios levavam pão, vitelo,

Muita carne, conservada em sal…

Iam em busca de terras, dum selo,

Para a nobre causa de Portugal.

Descobriram, por “acaso”, o Brasil,

Rico de matas, ouro, rios mil.

 

2

 

Na frota ia Bartolomeu Dias,

Que dobrara o cabo das Tormentas,

O Nicolau, comedor de azevias,

De refeições simples mas suculentas…

Tiveram tardes quentes, noites frias,

Manhãs terríveis e mui ternurentas.

 Duarte Pacheco ia contente,

Malta do mar era a sua gente.

 

3

 

Dom Henrique, um padre franciscano,

Futuro carrasco, inquisidor, 

Com barba comprida, de muito ano,

Culto e excelente orador,

Assaz feio, coxo como Vulcano,

Era mensageiro de seu senhor.

Rezou no Brasil a primeira missa

Sem receber dinheiro ou premissa.

 

4

 

Puseram-lhe o nome de Vera Cruz

Àquele espaço belo, sem fim;

Ar puro, florestas, muita luz,

 Gente nua, com língua avessa ao latim.

Desconhecendo a morte de Jesus,

Ignorando todo o mal, o Caim.  

Amando somente a natureza,

A cor do sol, o céu, casta beleza.

 

5

 

Tentaram converter aquela gente,

Ensinando a rezar ao deus cristão;

Dizendo que estava sempre presente

Na sua alma e no seu coração…

No seu espírito, na sua mente,

Apesar de ser tal mera ilusão.

Depois de tanta luta, tanto esforço,

Não conseguem vergar o forte dorso.