sexta-feira, 29 de novembro de 2019

MELGAÇO: PADRES, MONGES E FRADES
 
Por Joaquim A. Rocha 


desenho de Luís Filipe G. Pinto Rodrigues

// continuação…


AZEVEDO, António Jacinto (Padre). Filho do capitão João de Araújo Azevedo e de Mariana de Araújo Teixeira. Nasceu em Carvalho de Lobo a 11/11/1699, e foi batizado na igreja de Rouças nesse dito dia. // Tornou-se irmão da Confraria das Almas da Vila, SMP, a 6/12/1724. // Morreu em Rouças a 5/1/1787, sendo sepultado na igreja da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço. // Gerou um filho numa mulher, cujo nome se desconhece, ao qual deram o nome de António; o rapaz foi criado pelo avô paterno, que no testamento lhe deixou vinte mil réis.

 

AZEVEDO, Carlos António (Padre). Filho de António Jacinto de Araújo Azevedo e de Jerónima Luísa de Araújo Gomes Magalhães. Neto paterno de João de Araújo Azevedo e de Guiomar Gomes de Abreu; neto materno de Sebastião Gomes do Souto e de Jerónima de Araújo Magalhães. Nasceu na Casa de Soengas, Chaviães, a 28/6/1807. // Quis ser clérigo, por isso, a 28/5/1830, seus pais fizeram-lhe o património. // Estudou em Braga. // Estabeleceu-se em Santa Maria de Leirado, Galiza, na paróquia de San Pedro da Torre, próximo da cidade de Ourense, onde foi capelão da Senhora do Rosário, capela fundada em 1641 por um dos seus antepassados, licenciado Lorenzo Pereira de Araújo. // Morreu a 1/11/1861, às vinte horas, na sua casa de Soengas, Chaviães, de repente. // Tinha 53 ou 54 anos de idade. // Não fizera testamento. // (Sobre ele ver “À la Recherche de mes Racines”, páginas 153 e 154). 

 

AZEVEDO, Manuel de Araújo Caldas (Padre). // Nasceu no século XVIII. // Era natural do lugar do Maninho, freguesia de Alvaredo. // Gerou em Brites Maria de Araújo, solteira, de Ribeiro de Carse, bispado de Ourense, uma menina, Maria Araújo Azevedo Caldas, que viria a casar com Belchior, filho do boticário Luís de Araújo Fernandes Lobarinhas. Uma bisneta do padre, Maria Engrácia de Araújo Lira de Abendanho, casou com Francisco José de Abreu Lima e Castro, natural de Paderne, passando o casal a morar no Maninho, Alvaredo, mudando depois para São Gregório, onde ela morreu a 13/1/1850. // (ver “O Meu Livro das Gerações Melgacenses”, volume I, páginas 602 e 603).  

 

AZEVEDO, Manuel José Lopes (Padre). Nasceu na vila de Melgaço (confirmar). // A 11/2/1810, na igreja de São Paio, foi padrinho de Maria Joaquina, nascida a 6 desse dito mês e ano, batizada pelo padre João Manuel Durães, de Prado, filha de Domingos José Durães e de Josefa Maria Lopes de Azevedo, moradores na Carpinteira. Neta paterna de Sebastião Durães e de Maria Manuela Mendes, do dito lugar; neta materna de Domingos António Lopes de Azevedo e de Maria Pires Veloso, da Vila de Melgaço.

 

AZEVEDO, Manuel Nunes (Padre). Filho do capitão João Araújo Azevedo e de Mariana de Araújo Teixeira. Nasceu em Carvalho de Lobo e foi batizado na igreja de Rouças a 6/7/1690. Padrinhos: seus tios maternos, António Rodrigues e Eugénia. // A 25/3/1745 funda uma capela de missas de cariz perpétuo, dedicada à Senhora da Conceição, na igreja paroquial de Rouças, com a intenção «de cumprir as obrigações que tinha com a casa de seu pai.» // Designou seu irmão, Francisco de Araújo Poderé, primeiro administrador, e posteriormente os seus descendentes. Reservou para esse fim alguns dos seus bens, situados em Carvalho de Lobo, tais como vinhas, pastagens, e uma horta. // Morreu a 6/3/1751.  

 

BACELAR, Caetano Gomes (Padre). // Faleceu na freguesia de Paços a 18/9/1782.

 

BACELAR, Francisco Gomes (Padre). // Morreu na freguesia de Paços a 4/9/1780.

 

BACELAR, João Pereira (Padre). // Em 1674 cantou a primeira missa; foi pároco de Remoães.

 

BACELAR, Ventura de Araújo (Padre). Filho de Domingos Rodrigues de Araújo e de Isabel Gonçalves [de Araújo]. Nasceu na Vila de Melgaço no século XVII. // A 26/5/1705 inscreveu-se na Confraria das Almas. // Arranjou uma amante, Ângela de Araújo, solteira, filha de Maria Longares, natural da freguesia de Santa Cristina de Baleixe, Galiza. // Morreu no lugar da Pigarra, SMP, a 23/9/1755. // Pai de Jerónimo e de Ângela. Nota: ao seu apelido Araújo acrescentou Bacelar!

 

     [ARAÚJO, Ângela. Filha do padre Ventura de Araújo (Bacelar), natural da Vila de Melgaço, e de Ângela de Araújo, natural de Santa Cristina de Baleixe, Galiza. Neta paterna de Domingos Rodrigues de Araújo e de Isabel Gonçalves [de Araújo]; neta materna de Maria Longares, galega. Nasceu no século XVIII. // Criou-se na Quinta da Pigarra, SMP, em casa de uma das suas tias paternas. // Casou na igreja matriz da Vila a 12 de Agosto de 1734 com Bernardo Pereira, filho de Pedro Esteves e de Isabel Esteves, moradores na Corga do Ribeiro dos Homens. // Lê-se no livro do Dr. Augusto César Esteves, «O Meu Livro das Gerações Melgacenses», I volume, página 533: «Pelo seu testamento cerrado, aberto a 6/10/1738, apenas conseguiu dispor da terça dos seus bens em favor da tia, que a criou, visto seu pai andar ainda por este mundo e ninguém se ter lembrado de lhe falar na renúncia da herança da filha, constituída por poucos e desvaliosos bens.» // Faleceu sem geração.]    

 

     [ARAÚJO, Jerónimo. Filho do padre Ventura de Araújo (Bacelar), natural da Vila de Melgaço, e de Ângela de Araújo, solteira, natural de Santa Cristina de Baleixe, Galiza. Neto paterno de Domingos Rodrigues de Araújo e de Isabel Gonçalves [de Araújo]; neto materno de Maria Longares, galega. Nasceu no lugar do Rego, freguesia de Prado, a 20/10/1726. Padrinhos de batismo: Jerónimo Nunes e sua mulher, Isabel de Araújo, da Vila de Melgaço, tios do batizando. // Irmão de Ângela de Araújo.]

 

BARREIROS, Francisco Gomes (Padre). // A 1/4/1870 já era o abade de SMP, Vila de Melgaço. // Em 1885 mantinha-se no seu posto. // Penso que cessou funções de cura da Vila a 4/7/1886. // Depois daquele ano foi colocado em SMP o padre encomendado, Elias de Jesus Marques, natural de Prado.   

 

BARREIROS, Luís Manuel Domingues (Padre). Filho de Manuel José Domingues e de Isabel Gonçalves, lavradores. Nasceu em Alvaredo por volta de 1822. // Foi pároco da freguesia de Penso. // Em 1886 ainda era o pároco dessa freguesia. // A 9 de Maio de 1886, na igreja de Remoães, foi padrinho de João Caetano, nascido três dias antes, filho de Manuel Joaquim Esteves e de Maria Claudina Domingues. A madrinha era Rosa Domingues, solteira, ambos tios do neófito. // A 15/11/1891, na igreja de Penso, foi padrinho de Isabel, nascida no dia anterior, filha de José Esteves Cordeiro, natural de Penso, e de Rosa Maria Domingues, natural de Alvaredo, moradores na residência paroquial de Penso. A madrinha, Rosa Clara Domingues Barreiros, era sobrinha do padrinho. // Morreu na residência paroquial de Penso a 30/1/1893, com setenta e um anos de idade, com todos os sacramentos da igreja católica, com testamento, e foi sepultado na igreja daquela freguesia de Melgaço.

 

BARROS, António Augusto da Silva (Padre). Filho de António Augusto de Barros, de Fonte Arcada (falecido antes de 1951), e de Guilhermina da Silva (faleceu em Alvaredo a 24/1/1954), de Monsul, Póvoa de Lanhoso. Neto paterno de --------------- de Barros e de -------------; neto materno de Augusto Clemente da Silva e de Rosa de Jesus Araújo. Nasceu em Fonte Arcada, Póvoa de Lanhoso, a 26/4/19--. // Foi prefeito no Seminário de Braga (Padre Carlos Vaz, página 611). // Em 1950 era pároco de Alvaredo. Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 942, de 13/8/1950: «Alvaredo em festa e oração desde 26 a 30. – A convite do reverendo pároco desta freguesia, António Augusto da Silva Barros, deslocaram-se de Braga os reverendos padres e sagrados oradores, Apolinário Rodrigues Rios, vice-reitor do Seminário Menor de Braga, e Gonçalo Araújo Pinheiro, superior do mesmo Seminário, a fim de com as suas locuções darem o brilho esperado da festa do SS. Coração de Jesus. – Dia 26 – Chegada dos reverendos padres, pela tarde grande sermão, onde não faltaram as lágrimas sinceras da gente desta laboriosa terra.» // Em 1956, sabendo que o Dr. Júlio de Lurdes Esteves queria pedir a sua exoneração de Provedor da SCMM, juntou-se a outros, entre eles Mário Ranhada, e percorreram as freguesias do concelho recolhendo várias assinaturas. O objetivo era que o Governador Civil do Distrito não aceitasse a demissão e o convencesse a continuar nesse lugar. Queriam, também, que ele fosse presidente da Câmara Municipal, cargo que estava vago havia quatro anos. No «Notícias de Melgaço» n.º 1225, de 16/12/956, já se informa que o Dr. Júlio foi nomeado presidente da Câmara Municipal de Melgaço; a posse decorreria a uma quarta-feira, 19/12/1956, no Governo Civil. Começou a exercer o seu mandato no dia 20, mas devido a doença não esteve lá muito tempo. // Em 1973 o padre Barros deu ao Sporting Clube Melgacense 150$00, a fim daquele grupo desportivo se reorganizar. 

 

BARROS, Manuel José da Graça (Padre). // Na década de trinta do século XIX já era pároco da freguesia de Chaviães. // A 7/10/1839, na igreja de Chaviães, foi padrinho de Maria Rosa, nascida dois dias antes, filha de Maria Rita Pereira, moradora no lugar de Fonte. A madrinha era Maria Rosa Gonçalves, do lugar do Barraço. // A 10/8/1841, na igreja de Chaviães, foi padrinho de Joaquina Rosa, nascida quatro dias antes, filha de Rosa Maria Trancoso, moradora no lugar do Outeiro. // A 1/10/1842, na igreja de Chaviães, foi padrinho de Rosa Cândida, nascida a 29/9/1842, filha de Francisca Teresa Pereira, do lugar da Fonte, e de Matias José de Araújo [Azevedo], do lugar do Outeiro. // A 24/1/1847, na igreja de Chaviães, batizou Maria Rosa, nascida seis dias antes, filha de Manuel José Domingues e de Francisca Rosa Vaz, lavradores.   

 

BATISTA, Orlando (Padre). Filho de António Batista e de Albertina de Jesus Fernandes. Nasceu em Pousafoles, Fiães, a --/--/193-. // Ordenou-se sacerdote no seminário de Braga no ano de 1962. // Fixou residência há muitos anos em Valença do Minho. // Em 1999, sendo pároco de Gondomil e Friestas, foi também nomeado capelão do hospital de Valença (VM 1123). 

 

BERNARDINO DE SÃO JOSÉ (Frei). // Filho de Sebastião Esteves do Souto (Brasileiro), e de Guiomar Gomes de Abreu Magalhães. Nasceu no século XVIII, na Quinta da Barqueira, São Martinho de Alvaredo, na altura termo de Valadares. // Foi o 22.º guardião do convento das Carvalhiças, SMP. Tomou posse do lugar a 28/8/1797. No período em que esteve à frente da guardiania adquiriram-se alguns livros para a biblioteca, fez-se de novo a Divina Imagem Dolorosa, etc. (ver mais em Obras Completas de ACE, volume I, tomo II, páginas 389 e 390).   

 

BERNARDO, Domingos José (Padre). Nasceu em Castro Laboreiro. // Em 1866 andava por Prado. A 7/10/1866, no batismo de Margarida Cândida, na igreja de Prado, ele assinou a rogo do pai da criança, Rafael Rodrigues, solteiro, analfabeto.

 

BERNARDO, Manuel António (Padre). Filho de Manuel Joaquim Bernardo (Pintor), castrejo, e de Maria Custódia Martins, do lugar da Peneda, freguesia da Gavieira. Nasceu no lugar do Ribeiro de Cima, Castro Laboreiro, a 21/12/1911. // Em 1929 regressava de Braga (ver um seu poema “Avé”, em Correio de Melgaço n.º 22, de 21/7/1929). // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 83, de 26/10/1930: «fizeram os exames de filosofia – 2.ª parte – os alunos (…) e Manuel António Bernardo; ficaram todos aprovados, dando, por isso, ingresso no Seminário de Teologia [de Braga].» // Escreveu no Notícias de Melgaço n.º 86, de 16/11/1930: «No penúltimo número lemos na secção deste jornal, “À sombra do Cruzeiro”, dirigida pelo Sr. Carlos de Castro, aquelas linhas em que focava a necessidade da construção de uma estrada que ligue a freguesia de Castro Laboreiro com a Vila de Melgaço. Não admira que o ilustre colega mostrasse aquele interesse na construção dessa estrada, pois que tem observado as necessidades do povo castrejo e o seu coração não pode deixar de anelar o bem de quem tem jazido em esquecimento perante as autoridades. Castro é a maior freguesia do Minho – e talvez de Portugal! Foi uma terra importante, está cheia de gloriosas tradições, no entanto é hoje a mais humilde freguesia de Melgaço. Castro Laboreiro, que noutros tempos foi um baluarte avançado do Minho, ameaçando a Galiza com sua alta e tenaz fortaleza, está hoje tão esquecido que nem sequer tem um caminho em condições a ligá-lo com a sede do concelho. Infeliz povo! Se o caminho que tens para Melgaço fosse no tempo dos imperadores romanos estaria em melhores condições. O caminho que existe, se é que merece o nome de caminho, é por assim dizer, intransitável, está uma vergonha, razão tinha Carlos de Castro. Mas não ficam aqui os males de que o povo castrejo amargamente se queixa. O seu castelo, padrão de glórias antepassadas, testamento de nobres feitos de armas, jaz em ruínas sem que ninguém se importe dele. (…) não temo dizer aqui a quem compete a conservação dos monumentos nacionais, que a fortaleza era superior à da própria Vila de Melgaço, quer pela antiguidade, quer pela posição. Mas de que vale esta comparação, se o próprio castelo de Melgaço (…) não é convenientemente prezado? Era bom que as autoridades olhassem para esses monumentos, que tantas glórias nos recordam. (…) / Por que é que Castro não recebe subsídios para as suas escolas? Acaso não paga o povo as suas contribuições? É de desejar que se dê remédio a estes males e a muitos mais que sucessivamente irei aqui apontando…» // Ainda no Notícias de Melgaço n.º 86, de 16/11/1930, escreveu: «O seu castelo (referindo-se a Castro Laboreiro), padrão de glórias antepassadas, testemunho de nobres feitos de armas, jaz em ruínas sem que ninguém se importe dele. (…) não temo dizer aqui a quem compete a conservação dos monumentos nacionais, que a fortaleza de Castro Laboreiro era superior à da própria Vila de Melgaço, quer pela antiguidade, quer pela posição. Mas de que vale esta comparação, se o próprio castelo de Melgaço… não é convenientemente prezado?» // No Notícias de Melgaço n.º 87, de 23/11/1930, prossegue: «No último número prometi voltar ao assunto (…) pronto a bater-me em prol dos interesses da freguesia onde nasci. Prometi falar da Guarda-Fiscal e do Registo Civil, mas como há muito a dizer, e ponderar, tratarei por enquanto da 1.ª questão, ficando a do Registo Civil para mais tarde. Não é meu propósito ofender a útil corporação que tanto bem fez à nação, mas discutir a questão das guias, apoiando-me na lei da imprensa que permite discutir as leis para conhecer a sua utilidade e conveniência. Por isso, desculpem-me os empregados da GF porque não quero referir-me às suas pessoas mas às leis que regulam seu serviço. Portanto, continuem eles cumprindo as ordens que lhes oficiam os superiores, porque é o seu dever, e não lhes dou louvor do contrário. Precisamente, essas ordens, é que eu vou ponderar, para avaliar da sua legalidade sem derivar agravo para ninguém. / É de todos sabido como durante alguns anos foi exigida a manifestação dos gados na zona da fronteira para obstar à exportação do mesmo para Espanha. Devido às circunstâncias financeiras dos dois países e ao obstáculo posto por parte de Espanha à entrada do gado, o trânsito cessou, continuando no entanto os manifestos em vigor. Quando em princípios de Dezembro de 1928 esteve nesta freguesia, em distração venatória, Carlos de Barros, ex-Governador Civil de Viana, houve quem lhe representasse quanto era custoso aguentar os manifestos, devido à rudeza do povo, que na maior parte é analfabeto. De regresso a Viana o Sr. Carlos de Barros oficiou ao Ministério das Finanças referindo a situação do povo de Castro, e pedindo a extinção dos manifestos. Estes, com efeito, foram suprimidos, mas parece que não agradou à GF esta medida do governo e, por isso, dentro de pouco tempo começaram a aparecer as guias. Os manifestos haviam sido suprimidos nos primeiros meses de 1929 e já em Julho, do dito ano, baixava ao Ministério a representação… (ver mais acima). Ali se expunha quanto a Guarda-Fiscal molestava o povo com as guias, ajuntando um exemplar das mesmas… (…) / não diferem essencialmente dos extintos manifestos; (…) / as guias não têm razão de existir…» // No Notícias de Melgaço n.º 88, de 30/11/1930, Bernardo Pintor explana as suas ideias acerca das guias, e diz mesmo que tem dúvidas da sua legalidade. Pergunta: «se são legais porque não têm os impressos próprios?» E diz mais: «… são um meio de exploração à bolsa dos castrejos…» Os manifestos custavam 50 centavos e as guias atingiam 4$00, conforme fosse este ou aquele posto a vendê-las! Na Peneda compraram-se a 8$00! Uma simples folha A 4. / E termina: «como se há de crer legal uma coisa que não é uniformeNota: estávamos ainda na chamada Ditadura Militar; quando Salazar assumiu a chefia do governo nunca mais permitiu escritos deste tipo. // As afirmações do ainda seminarista foram de imediato contestadas. Bernardo Pintor não esperava aquela reação e contra atacou. Em 1.º lugar dirige-se ao diretor do jornal: «Sr. Diretor – em virtude do decreto com força de lei n.º 12.008 exijo a publicação do presente artigo na íntegra do seu conteúdo. Você intimou-me a cessar os meus artigos (…) pela razão que muito bem sabe, e eu conformei-me, ainda que a lei da imprensa me não proibia tal narração, mas agora tem de publicar o presente artigo porque fui atingido na correspondência de Cristóval. Não estou com mais preâmbulos. / Escrevi em três números seguidos um artigo sob o título “Interesses de Castro Laboreiro” que os leitores tiveram ocasião de ler. A censura, ou antes, o delegado da Comissão de Censura, impôs-me silêncio, alegando que eu não sabia escrever. Ainda que a intimação fosse feita contra a regra da lei da imprensa, submeti-me para não causar transtorno à publicação deste semanário. Todos devem saber quanto custa a um jovem na força da idade não poder lutar pelos seus ideais… pela verdade! Eu comentava factos e expunha o que o povo sofre para mostrar o caminho a seguir. Não pense alguém que eu sou lobo faminto que deseje devorar a Guarda-Fiscal, não. Eu reconheço a sua necessidade, mas dentro dos justos limites. Por isso lhe chamei «útil instituição» num dos meus artigos. Reconheço também quanto é prejudicial à nação o nefasto contrabando. Gostei até do artigo do Sr. Nóvoas e estranho que não continue a sua campanha contra os contrabandistas. Toda a minha repugnância está na questão das guias e seu preço.» / Em 2.º lugar, enfrenta o adversário: «Respondo, portanto, à correspondência de Cristóval porque isso me faculta o já mencionado decreto. / O (…) correspondente daquela localidade diz que «mercadoria é o que se compra e vende» e por isso também os gados devem ser considerados mercadorias porque se compram e vendem. Concedo-lhe que em sentido lato assim seja, mas em sentido estrito eu entendo que «mercadoria é o que se compra e vende, mas só enquanto é objeto de comércio, isto é, enquanto está exposto à venda ou transita de um lugar para ser vendido.» Se assim não é, os prédios são mercadoria, e portanto devem ser inscritos naqueles impressos a que me referia. Um fato, um chapéu, um guarda-sol, etc., segundo o meu parecer, são mercadorias só nas transações comerciais porque se, depois de possuídos por um particular, continuam a ser mercadorias, devem precisar de um impresso daqueles a que já aludi. Assim, eu julgo que o gado seja mercadoria enquanto é exposto à venda numa feira ou é objeto de comércio, não porém enquanto o lavrador o possui para seu governo (para seus trabalhos agrícolas). / Diz-me que só por intuição malévola se pode confundir a taxa das guias com impostos, mas… confesso a verdade: não compreendo como tamanho seja o seu preço. Se a guia faz falta por conveniência fiscal, não podia ter o preço duns $50, como tinham os manifestos? / Todo o lavrador é igual em face das leis e não compreendo como os da linha de fronteira sejam obrigados a pagar uma taxa, que não é pequena, pelos seus gados que se consideram mercadorias; e os que estão fora da referida linha, nada pagam, apesar de terem igualmente seus gados! / Diz-me que o seu preço é uniforme, mas eu mostrei nos meus artigos que não. Contra factos não há argumentos. Diz-me que a lei é de 1888, da monarquia. Quanto a Monarquia, saiba que eu me não filio em partidos políticos; só quero ver os direitos de cada um de nós respeitados. Mas atenda: os homens que presidem à Nação devem procurar o bem dos súbditos e não iludir o nosso povo que resgatou a Pátria com as pesadas contribuições. Por isso não acredito que o muito digno Ministro das Finanças, atendendo os pedidos dos povos da fronteira, suprimisse os manifestos e deixasse em vigor as guias que molestam o povo mais do que os manifestos. Se a lei foi publicada deveu ser abolida, porque se estivesse em vigor não precisava o Governo decretar os manifestos que têm o mesmo efeito das guias. / É próprio dos grandes homens não fazerem coisas inúteis. Quanto à lei ter 42 anos não se admire de não ser conhecida por mim, porque só tenho metade desses anos; e a Guarda-Fiscal, que é mais antiga do que a própria lei, parece-me não ter dela, lei, conhecimento até ao ano de 1929. Não poderia dizer-me qual o preço que a lei fixa às guias? Quem lhes fixou o preço atual? / Se a GF cumpre (…) a sua missão, é esse o seu dever, e portanto só merecerá os aplausos e admiração de quem tenha boa mentalidade. Seria de desejar que o muito digno correspondente de Cristóval esclarecesse estes casos pela sã filosofia e boa apresentação que teve na sua correspondência: isto para desilusão do povo que se julga ofendido nos seus direitos. Já vê que não quero mal à Guarda Fiscal, mas anelo somente o bem do nosso povo. / 11/12/1930, Bernardo Pintor. // A 8/7/1934 foi-lhe conferida pelo arcebispo primaz, na capela do Seminário Conciliar de Braga, a ordem de diácono (NM 239, de 22/7/1934). // No Notícias de Melgaço n.º 240, de 29/71934, lê-se: «o seminarista Manuel António Bernardo (…) dirigiu o coro aquando da missa nova cantada pelo padre José Augusto Alves, da Gave, rezada a 22/7/1934 na sua terra natal.» // Ordenou-se sacerdote na Sé de Braga a 15/8/1934 e cantou missa nova no dia seguinte no Santuário do Sameiro (NM 244, de 9/9/1934). // Foi vigário cooperador (ou 2.º coadjutor) da matriz da Póvoa de Varzim de 1934 a 1935 (ver NM 248, de 14/10/1934); pároco de Sequeira, Braga, de 1935 a 1936; e de Riba de Mouro desde 23/8/1936. // Em termos ideológicos, era conservador; em 1938, aquando da festa da Senhora da Orada, elogiou calorosamente os legionários de Melgaço! // Em Junho de 1938 o padre Bernardo Pintor já estava a paroquiar a freguesia de Riba de Mouro. Colaborava no Notícias de Melgaço e, nos seus escritos, mostrava a sua simpatia ao corporativismo. Aos legionários chamava-lhes «soldados de novos ideais», «soldados briosos»…(NM 402, de 26/6/1938). / Provavelmente só conhecia os chefes: Dr. João Durães, Dr. Júlio Esteves, tenente Lopes, padre António de Jesus Rodrigues (capelão do núcleo e comandante de lança), Abílio Domingues (este, delegado escolar e professor oficial em SMP, nascido em Castro em 1900, foi agraciado nesse ano de 1938 pelo Comando Geral da Legião Portuguesa com a medalha da dedicação pelos serviços «que tem prestado à Legião Portuguesa neste concelho») e até, imaginem, o Dr. Augusto César Esteves (velho republicano), pois se conhecesse a maioria deles, analfabetos e esfomeados, a trabalhar de sol a sol na agricultura ingrata, ou na construção civil e na estrada para Castro Laboreiro, recebendo em troca quase nada, o padre Bernardo teria com certeza uma opinião bem diferente. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 858, de 23/5/1948: «CLAMOR DE RIBA DE MOURO – “Muito pode quem quer”, diz o velho rifão e é certo. Está neste caso o brioso e devoto povo de Riba de Mouro que, apesar dos clamores terem sido proibidos, não tem deixado de vir cumprir o voto que os seus antepassados contraíram para com a Nossa Senhora da Orada. E assim vimo-lo chegar, no passado dia 16, acompanhado do seu muito zeloso pároco, reverendo Manuel António Bernardo, não [em procissão], como noutro tempo, mas em piedosa peregrinação de romagem a Nossa Senhora da Orada, em cujo templo celebrou missa solene a grande instrumental e sermão pelo seu pároco que – em abono da verdade – se deve dizer é um distinto orador, dotado de excelentes qualidades de eloquência.» // «Realizou-se ontem, pelas 16 horas, da Portela para a igreja paroquial desta freguesia, uma luzida procissão em honra do glorioso mártir São João de Brito, sendo conduzida a sua nova imagem entre cânticos e louvores para a nossa igreja. Foi orador o reverendo padre António Bernardo, de Riba de Mouro, Monção, que muito agradou.» (A procissão ocorreu no dia 19, na freguesia de ChaviãesNotícias de Melgaço n.º 903, de 26/6/1949). Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1026, de 1/6/1952: «Festa a Santo António – ano a ano esta romaria está criando nome, graças à dedicação do pároco de Riba do Mouro, reverendo Manuel António Bernardo, um melgacense que, fora da sua terra, ali vem fazendo uma obra notável de engrandecimento da freguesia

     Fundou em 1953 o jornal paroquial “Voz da Nossa Terra”. // Participou no Congresso Histórico de Portugal Medievo, realizado em Braga de 6 a 10/11/1959, apresentando um estudo sobre Castro Laboreiro e os seus forais, o qual foi muito apreciado pelos congressistas; esse estudo foi publicado no volume XVIII/XIX, n.º 41-42 (53-54) da revista Bracara Augusta (ver Notícias de Melgaço n.º 1585, de 30/1/1966).

     Morreu a 1/3/1996 no Seminário de São Teotónio, Monção, onde estava internado, e foi sepultado no dia seguinte no cemitério da sua terra natal, no lugar do Ribeiro de Cima, onde nascera.

     Era um homem culto, grande investigador, deixando alguns livros com interesse, sobretudo na área da história regional. // “Melgaço Medieval”, de 1975, é um livro fundamental para a História de Melgaço. // (Ver Notícias de Melgaço n,º 239, de 22/7/1934, e A Voz de Melgaço n.º 1047, de 15/3/1996).  



desenho de Luís Filipe G. Pinto Rodrigues

quarta-feira, 27 de novembro de 2019







UMA MÁ NOTÍCIA

 

     Mais um amigo que parte. Era um amigo, sem dúvida, porém desde os dezassete, dezoito anos, que não convivíamos. A razão de ter sido assim é simples de explicar: na década de sessenta do século XX rebentou a guerra colonial; ele, certamente com receio de ser enviado para África e também com o fito de melhorar a sua vida financeira, emigrou para França. Eu, por não ter conseguido o dinheiro para pagar aos passadores, tive de ir para a chamada tropa, exército, onde cumpri três anos, dois dos quais nas matas da Guiné-Bissau. Lembro-me que quando fui à inspeção militar, em Melgaço, sede do concelho, éramos meia dúzia; os restantes tinham emigrado! Ninguém espere que eu diga que nós fomos o heróis e eles os cobardes; jamais direi tal barbaridade. A guerra colonial nunca deveria ter existido. Fomos empurrados para um conflito inglório, sem fim à vista, por causa de um ditador chamado Salazar, cujo objetivo era eternizar o seu império, apesar de ter pés de barro. O maldito, que nem sequer cumprira o serviço militar, um sacerdote frustrado, iniciou uma tremenda guerra, na qual morreram e ficaram feridos milhares de jovens portugueses. Bastava sentar-se à mesa com os chefes africanos, aceitar algumas das suas reivindicações, e com toda a certeza evitaria o conflito. // O meu amigo António Esteves fez bem em ter emigrado. Aprendeu imenso com os franceses, casou, teve esposa e filhos, viveu a sua vida com dignidade. // António: lamento a tua morte, não por ter sido curta, mas por teres sofrido tanto. Como não professo nenhuma religião, não posso rezar à tua alma, se é que ela existe. Lembrar-me-ei de ti durante algum tempo, sobretudo daqueles momentos quando jogávamos futebol na Avenida das Tílias e no Monte de Prado: os da Vila contra os das Carvalhiças. Depois desapareceste, tu e tantos outros, e ficamos nós, sozinhos, sem rapazes para formar equipa. A vida é assim mesmo: nascemos para um dia partirmos para uma viagem sem regresso; uns mais cedo, outros mais tarde. «Ninguém foge ao seu destino.» Algumas pessoas sentirão saudades nossas, umas lágrimas sentidas, mas isso, salvo raras exceções, será sol de pouca dura. Ninguém resiste ao esquecimento. // Gostaria muito de mostrar aos meus leitores a tua fotografia, mas não a possuo, quase que já nem lembro do teu rosto; o tempo, esse relógio implacável, cruel, inventado pelo ser humano, tudo faz esquecer.
    
     NOTA: acho estranho que a Câmara Municipal de Melgaço nunca tenha pensado em erguer um pequeno monumento em granito, ou noutro material qualquer, aos emigrantes melgacenses. Eu sei que o dinheiro é escasso, mas talvez se pudesse poupar, para esse fim, uns quantos euros gastos anualmente nas festas
     Encomendaram há anos uma estátua, a um escultor conhecido, por bom preço, segundo consta, a fim de homenagear a lendária Inês Negra. Embora eu reconheça que de certa maneira o dinheiro não foi mal gasto, penso que seria melhor para o concelho homenagear figuras melgacenses que muito contribuíram para o prestígio da terra. Dou apenas um exemplo: mestre Morais.        
 
 


ESTEVES, António (…) Filho de António Augusto Esteves e de Irene Nabeiro Pereira. Nasceu na Vila de Melgaço, a --/--/1944. // Depois da quarta classe iniciou a aprendizagem de pedreiro, com seu pai, um verdadeiro mestre. // Antes da tropa emigrou para a terra dos franceses. // Casou a --/--/1972 na igreja de Colombes, França, com Maria de Fátima Nunes, natural de Moncorvo, Portugal, também emigrante. Padrinhos da boda: João Octávio Rodrigues e sua esposa, Madalena Nabeiro Pereira, tios do noivo. // A sua mulher morreu com quarenta e um anos de idade, em Agosto de 1993, vítima de um desastre de viação, em Friestas, na estrada Melgaço a Monção, e foi sepultada no cemitério da Vila de Melgaço. // Ele, logo que pôde, voltou para a sua terra natal. // Em 2019 encontrava-se internado no Instituto de Oncologia do Porto. // Morreu a 25/11/2019 (a confirmar). // Pai de Gabriel e de David, a residirem em França, a quem envio os meus sentidos pêsames. 
                                               Joaquim A.Rocha
 
 


 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 24 de novembro de 2019

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha




// continuação
 
ROUBOS
 
(1947) Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 813, de 6/4/1947, página 3: «A gatunagem anda desenfreada por aqui – hortas, espigueiros, madeiras e esteios de ferro das latadas, tudo se rouba sem o menor escrúpulo, nem receio. Quando será inaugurada a nova cadeia de Melgaço


 

(1948) – Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 867, de 1/8/1948: «Foi capturado e enviado ao tribunal desta comarca, Augusto António Esteves, natural da freguesia de Chaviães, e sem morada certa, por ter praticado vários furtos na referida freguesia, onde trazia aquele povo alvoroçado, o qual depois de interrogado no posto da GNR confessou sete daqueles furtos.»   



 

(1948) – Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 869, de 22/8/1948: «Pela Guarda Nacional Republicana. Foi no passado dia catorze roubada do estabelecimento do comerciante desta vila senhor Horácio César de Oliveira uma sua bicicleta, que imediatamente este comerciante e o comandante do posto da G.N.R. perseguiu o gatuno, que foi encontrado em um milheiral, mas conseguiu pôr-se em fuga. O larápio, que se presume ser o cadastrado Manuel do Coto, da freguesia de Tangil, anda sendo perseguido pela mesma guarda 

 


(1948) – Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 870, de 29/8/1948: «Pela Guarda Nacional Republicana. Por motivos de furto de gado praticados pela quadrilha do “Carqueijo” sabemos de fonte autorizada que no posto desta vila se está a proceder ao levantamento de autos de declarações de diversas testemunhas e queixosos


 
 
(1949) – Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 912, de 25/91949, acerca de um roubo praticado na Pensão Boavista, sita no lugar do Peso, freguesia de Paderne: «Ao senhor Oceano Atlântico Ribeiro roubaram sete peruas. Pede-se ao larápio, se tiver consciência, a graça de as restituir, gordas e maçudas, como as roubou. Se não estiver o senhor Oceano Ribeiro, pode mesmo entrega-las à esposa, D. Rosinha, que dará cem escudos de gorgeta a quem lhas entregar, sãs e escorreitas






 

(1950) – Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 925, de 17/2/1950, referindo-se a Penso: «Esta freguesia não é das mais férteis em novidades. No entanto, não faltam os larápios que, com a maior facilidade, assaltam casas de habitação, palheiros e capoeiras. Tudo lhes serve: a carne de porco, as ferragens e as galinhas. Até o arame das latadas vai, não sei para quê! Naturalmente para alguma travessia fluvial que não honra quem a não quer ver, ou porque só quer ver o que mais lhe interessa…» Correspondente.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

QUADRAS AO DEUS DARÁ
 
Por Joaquim A. Rocha




182

No tempo de meus avós

Namorar era engraçado:

A rapariga lá em cima,

Em baixo, o namorado.

 

183

 

Agora o namorar

É só de lábios colados;

É um longo abraçar,

São beijos nunca acabados.

 

184

 

Quando andava na escola

Nada tinha pra calçar;

Camisa toda rotinha,

As calças por remendar.

 

 

 

185

 

Pra ganhar algum dinheiro

Engraxei muitos sapatos;

Fui moço de sapateiro,

Consertei cem mil chanatos.

 

186

 

Um rapaz da minha terra

Foi para o rio nadar.

De repente, a mãe berra:

Ai filho, vais-te afogar!

 

187

 

Podia ter sido alguém,

Se não fosse tão bacoco;

Se usasse gravata fina,

E belo chapéu de coco.
 

 

 
 


 

 



 


 
 
 
 

 

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha




ZARAGATAS
 
     Ouve-se constantemente dizer que a gente de Melgaço é ordeira, pacífica, mas essa afirmação nem sempre correspondeu à verdade. Ao longo dos séculos os melgacenses cometeram  imensos crimes, uns mais graves do que outros. Quando Melgaço passou, no século XIX, a ter dezoito freguesias, em lugar das oito que antes tinha, os crimes aumentaram exponencialmente. No século XX foi necessário construir uma nova cadeia (hoje Casa da Cultura) pois as que havia não chegavam, e também já estavam obsoletas, ultrapassadas, autênticas pocilgas. Enfim, factos são factos, as estatísticas não mentem. No entanto, é óbvio que este concelho do Alto Minho, comparado com outros concelhos do país, é um autêntico paraíso terrestre.  


(1919) - Lê-se no Jornal de Melgaço n.º 1258, de 17/8/1919: «Em audiência de polícia correcional respondeu há dias no tribunal desta comarca o nosso amigo Firmino Rodrigues, da freguesia de Penso, por ter batido há tempos em Maria Domingues, da mesma freguesia. Além das custas e selos do processo, foi condenado em 70 dias de multa a $40 por dia…» // Morreu na dita freguesia de Penso em Março de 1951. 

 

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(1919) - SOARES, Augusto (Cristo). Filho de Maria Angélica Soares, solteira, moradora em Bouços, Prado. Neto materno de Diogo Manuel Soares e de Rosa Joaquina de Magalhães, do dito lugar. Nasceu em Prado a 21/3/1891 e foi batizado 28 desse mês e ano. Padrinhos: Vítor Manuel Esteves de Magalhães, casado, do lugar do Escuredo, Chaviães, e Rosa de Jesus Lopes, solteira, de Bouços, Prado. // Casou na Conservatória do Registo Civil de Melgaço a 21/12/1916, com Maria da Glória, filha de Miguel Vitorino Trancoso e de Cecília Gonçalves. // A 29 de Outubro de 1919 respondeu em audiência de processo correcional pelo crime de ofensas corporais, tendo sido condenado em trinta dias de prisão correcional, cinco dias de multa a dez centavos ($10) por dia, custas e selos; era seu advogado de defesa o Dr. José Joaquim da Rocha (Jornal de Melgaço n.º 1269, de 2/11/1919). // Com geração. 

 

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(1920) - PIRES, António Manuel. Filho de ------------ Pires e de ---------------------------. Nasceu em ----------, a --/--/187-. // Acerca dele conta-nos o correspondente do Jornal de Melgaço, a 15/1/1920: «no dia 1.º do corrente estava António Manuel Pires, das Bouças, a encaminhar umas enxurradas para umas videiras, que tem junto ao seu quinteiro, e eis que lhe aparece António Domingues, do mesmo lugar, que pretende estorvá-lo no seu trabalho. Daí entra em cena a antiga peça. Um tapa, outro tapa, aparecendo no fim do acto o Pires com uma grande contusão no braço esquerdo, e o Domingues com uma escoriação na cabeça. No mesmo dia seguiram ambos para a Vila para dar que fazer àqueles que logo no começo do ano haviam recitado o “Deus desavenha quem nos a nós mantenha.» // Morreu no lugar de Bouças, Alvaredo, a --/--/1938, com 65 anos de idade. // (Notícias de Melgaço n.º 383).
 



 

(1923) - O Notícias de Melgaço n.º 4, de 8/4/1923, traz a seguinte notícia: «Facadas – entre Fernando do Paço e António Silva, cocheiros, por causa de quererem ambos transportar uns caixeiros-viajantes a São Gregório. Testemunha: Gabriel Serafim, barbeiro