terça-feira, 29 de maio de 2018

GENTES DO CONCELHO DE MELGAÇO

                                                              (Micro biografias)

                                                                Por Joaquim A. Rocha





BARROS, Agostinho. Filho de Henrique Benedito de Barros (nascido em SMP a 5/9/1818 e comerciante em Castro Laboreiro) e de Joaquina Rosa Fernandes (natural dos Cabreiros, Rouças). Nasceu em Castro Laboreiro em 1859. // Casou em SMP a 16/9/1882 com Filomena Rosa, de 25 anos de idade, filha de José Maria de Sousa, negociante, e de Rosa Margarida Gonçalves. Testemunhas: José Cândido Gomes de Abreu, solteiro, comerciante, e Manuel José Esteves, casado, escrivão da Fazenda, ambos da Vila de Melgaço. // A sua esposa esteve doente, com um ataque de influenza, em 1914 (CM 86, de 8/2). Melhorou bastante, pois em Agosto ou Setembro do mesmo ano partia para Âncora «fazer uso de banhos de mar». // Morou na Rua Direita (perto do Solar do Alvarinho), e dava explicações a alunos do ensino primário. // Em 29/10/1919 respondeu em processo de polícia correcional pelo crime de dano, tendo sido absolvido; era seu advogado de defesa o Dr. José Joaquim de Abreu (JM 1269, de 2/11/1919). // Faleceu a 27/4/1937, nos Carvalhos, Vila Nova de Gaia, onde residia com a esposa e netos (ver NM 353, de 16/5/1937). // Viveu muitos anos na Vila de Melgaço, onde lhe puseram a alcunha «Cobra». // Pai de Armando (em 1912 era negociante e proprietário do Seringal Empresa, no Acre) e de Alice, e avô de Maria Alice, Armanda e de Ângelo Augusto (escritor); irmão de Ladislau (emigrante no Brasil), de José (comerciante no Porto), de Jerónimo (proprietário em Ermezinde), de Delfina e de Ana Maria de Jesus, residentes em Prado, Melgaço. // Foi graças a ele que o seu neto escreveu o extraordinário romance «Maria dos Tojos» ou «Serra Brava»: contou-lhe todas as histórias, ensinou-lhe a geografia e a maneira de ser, os ancestrais costumes do castrejo autêntico; as saídas temporárias para Espanha e França, para Trás-os-Montes, e outras terras portuguesas, as mudanças de residência de acordo com as estações do ano, os trajes, o perfil psicológico, as perseguições levadas a cabo pelos carabineiros e soldados da Guarda-Fiscal aos pequenos contrabandistas, a agressividade da serra, enfim, tudo! // (ver Correio de Melgaço n.º 30, de 29/12/1912).  










 


































 









 





























 

 

  



sábado, 26 de maio de 2018

SONETOS DO SOL E DA LUA
 
Por Joaquim A. Rocha




Já a tarde dormente a face inclina,

Ouve-se o toque da ave-maria,

Anunciando a noite, fim do dia…

Numa eternidade, longa rotina.

 

O mineiro, dentro da funda mina,

Sem o sol, nem cheirando maresia,

Até a brisa da tarde esquecia,

Paisagem que se avista da colina.

 

Assim decorre a minha existência,

Sem luz, na escuridão permanente,

Numa brava luta sem resistência…

 

Caminhando num planeta fervente,

Esgotando a pouca fé, paciência,

Num frémito soluço que se expende.
 

 

 
 


 

 



 


 




 



 
 
 
 
 

 

quarta-feira, 23 de maio de 2018

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha




ADEGA COOPERATIVA
// continuação...

     O projeto seguira para o IFADAP, é certo, mas este rejeitou-o, apoiando, através da Comissão Económica Europeia, a empresa “Quintas de Melgaço, Agricultura e Turismo, SA”, cuja adega foi inaugurada a 15/8/1994, com a presença do Governador Civil do distrito.      Em artigo do Dr. Paulo Malheiro, natural de Chaviães, advogado na Amadora, em “A Voz de Melgaço” n.º 1.000, de 1/2/1994, lê-se: «A denominada Adega Cooperativa continua a ser um projecto que, acredito, será levado a bom porto, dado o empenhamento das pessoas e entidades envolvidas.» Mas, depois de esclarecer o leitor, passa a defender a Sociedade Anónima: «Por isso se obtém uma maior rentabilização de uma adega sociedade anónima – dada a inexistência ou diminutos encargos financeiros – o que traz benefícios para os sócios, através da distribuição, no final do ano, dos dividendos (lucros da sociedade).»







     Mais abaixo afirma que os cooperantes não têm preparação para gerirem uma cooperativa, por isso poderão levá-la ao desastre! E remete os leitores para as notícias dos jornais, as quais anunciam diversas falências de cooperativas, salvo as de habitação. E dá um exemplo. E para rematar, escreve: «É que não basta erguer uma adega. Isso até é fácil, face aos incentivos comunitários. O que é difícil é mantê-la…» E com base em informações que recolheu, comenta: «…a Adega Quintas de Melgaço tem mercado para a sua produção, nomeadamente o mercado externo. Isso é uma garantia para os viticultores. E a adega cooperativa
      O presidente da Câmara Municipal de Melgaço, Rui Solheiro, defendeu desde o início a criação da adega cooperativa, mas o tempo foi passando e em reunião de 18/3/1995 já aceitou a ideia da sua ligação à Cooperativa de Monção, com o nome de Adega Regional de Monção e Melgaço. Em Paderne existiria um «barracão de recolha de uvas». Muitos associados pediram o seu dinheiro de volta. A rejeição dos subsídios pelo IFADAP teve em conta a «sobre capacidade de produção instalada na região.» Tendo em consideração essa realidade, a C.C.A.M.M. sugeriu aos viticultores que subscrevessem ações da sociedade “Quintas de Melgaço” aquando do aumento de capital. Não sonhavam sequer que essa sociedade fosse mais tarde parar às mãos (68,8%) da Câmara Municipal de Melgaço (oferta de Amadeu Abílio Lopes, de Chaviães). Essa doação levantou grandes celeumas, sobretudo entre Paulo Malheiro (advogado) e Alberto Esteves (professor e vinicultor). Quem estiver interessado, pode ler essas polémicas em A Voz de Melgaço números 1067, 1069, 1071, 1073, do ano de 1997. (Acerca deste assunto ver ainda: Notícias de Melgaço n.º 1490, de 3/11/1963 – artigo de F. da Silva; Jornal de Melgaço n.º 25, de Abril de 1992; A Voz de Melgaço n.º 966, de 1/7/1992; A Voz de Melgaço n.º 968, de 1/8/1992; A Voz de Melgaço n.º 973, de 1/11/1992; A Voz de Melgaço n.º 984, de 1/5/1993; A Voz de Melgaço n.º 985, de 15/5/1993; Jornal de Melgaço n.º 44, de Janeiro de 1994; A Voz de Melgaço n.º 1109, de 1/2/1999, e A Voz de Melgaço n.º 1184, de 15/6/2002).
 
 


segunda-feira, 21 de maio de 2018

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha





ADEGA COOPERATIVA
 
     Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 1214, de 16/9/1956: «segundo o plano apresentado pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, e já aprovado superiormente, vão ser criadas nestes seis anos mais próximos dezoito adegas cooperativas. Os vinicultores melgacenses ainda se não aperceberam das vantagens trazidas ao concelho por uma adega cooperativa e por isso deixaram fugir este momento excelente para valorizarem o seu vinho verde. Monção ganhou aos pontos, pois lá está o nome do seu concelho na lista dos contemplados.» // Mas, tal como em outros concelhos vinícolas, Melgaço achou por bem ter a sua Adega Cooperativa. Pode ler-se no Notícias de Melgaço n.º 1319, de 7/6/1959: «Começam os lavradores melgacenses a ver com bons olhos os trabalhos da atual direção do Grémio da Lavoura … e está-lhes já interessando o funcionamento da adega cooperativa. Segundo ouvimos dizer, um proprietário da Vila … já comunicou ao professor Ascensão Afonso, operoso presidente da respetiva direção, estar disposto a oferecer à referida adega o terreno necessário para a sua sede e oficinas, em sítio bem localizado, apropriado e de boa situação para o efeito. Ora não há por aí outros proprietários cuja paixão pela terra os arraste e leve a nobilitarem-se subscrevendo seus nomes no número dos pioneiros de uma ideia tão boa, que é capaz de solucionar em pouco tempo uma das mais urgentes necessidades da região?» (em Monção estava-se nessa altura a construir a Adega Cooperativa; foi inaugurada a 6/91962 pelo Secretário de Estado da Agricultura). // Machado Duarte escreve um artigo no Notícias de Melgaço com data de 23/12/1962, também apoiando a sua criação. // Em 1963 noticiou-se: «os maiores proprietários do concelho vão-se associar no sentido de ser possível a construção, em Melgaço, da tão desejada Adega Cooperativa
 




     Um dos objetivos seria o de regularizar os preços dos produtos agrícolas, sobretudo o do vinho, porque «...o ano passado 500 litros de vinho custavam três contos; este ano custa 700$00» - lembrava o articulista. O professor Ascensão Afonso, como presidente do Grémio, era um dos impulsionadores; o outro, era Machado Duarte, funcionário do tribunal da comarca. Muitos anos mais tarde, já noutro regime político, com outra gente, nasceu o projeto, elaborado pela “Agro-sistema, S.A.”, e pago (cerca de mil contos de réis) pela Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Melgaço, apresentado aos agricultores a 8/3/1992, domingo. Constituiu-se formalmente a 27/9/1992 no cartório notarial de Monção e foi confirmada pela Conservatória de Melgaço a 12/3/1993. O presidente da direção era Arias António Gonçalves; o secretário, António Fernandes; o tesoureiro, Manuel José Armada. Havia no termo 3.634 viticultores inscritos, cuja área de vinha era de 503 hectares. O custo previsto para a criação da adega rondava os 324 mil contos! Escreveu-se em A Voz de Melgaço n.º 997, de 1/12/1993: «Acabamos de saber que por ofício de 9 de Novembro do Instituto da Vinha e do Vinho foi aprovado o projeto da Adega Cooperativa de Melgaço para a construção de uma adega e tudo o mais que diz respeito ao tratamento das uvas, à vinificação e à sua comercialização. Este parecer, que era decisivo e vinculativo, está finalmente dado. O IFADAP já está a estudar a parte económica do mesmo projeto para ver qual a percentagem de financiamento dos fundos comunitários e qual a contrapartida nacional. Mas é uma questão de alguns dias mais, pensamos. Tudo leva a crer que em 1994 arranquem todos os trabalhos, desde o concurso para a empreitada, obras, etc., ao mesmo tempo que se reforçará a estrutura de apoio aos agricultores para estes levarem até ao máximo o seu empenhamento na concretização de uma oportunidade que tem de ser agarrada a sério, pois os tempos que vivemos não se compadecem com amadorismos.» // continua...

sexta-feira, 18 de maio de 2018

OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de Os Lusíadas de Camões
 
Por Joaquim A. Rocha





                // continuação...



33
 

«Ilíada», «Odisseia», de Homero,

São monumentos da literatura;

Eu, na minha escrita me esmero,

Mas germina sempre seca e dura…

Melhorar minha obra eu bem quero,

Mas o que nasce torto não tem cura.

Não lhe chamem a isto epopeia,

Pois não nasceu de Crono e de Reia.

 
                                   34

 

           Um poema será (assim o creio)…

Mal cozinhado, chocho, sem tempero;

Prédio sem beleza, sem esteio,

Causando no leitor o desespero…

Talvez o rasgue, o corte a meio,

O reduza a nada, simples zero.

Vai transformar-se em ruim exemplo,

Numa ruína de estranho templo.

 
                                     35

 
         E vós, pessoas das outras nações,

Entendei bem aquilo que vos digo:

Tudo que eu faço vale só tostões,

O crédito de um pobre mendigo…

Não sonhem, não tenham ilusões,

Não tomem o cego por testigo.

Eu bem quis fazer estrofes perfeitas,

Mas nasceram, coitadas, com maleitas.

36


Portugal é uma grande varanda

Donde se avista o mundo inteiro; 

Nesta república o povo manda,


Seja diretor, humilde barbeiro…

Evita-se a luta, a demanda,

Pois a paz ocupa lugar cimeiro.

Nascemos na península ibérica,

Filhos de África, Ásia, América...

 
37

 Temos a nossa própria cultura,



  Por cá há bons e maus temperamentos;

Nos olhos há laivos de serradura,

Nos corações ainda há tormentos…

Na aldeia inda se vê ferradura

Pra evitar ímpios pensamentos.

Nalguns lares reina superstição,

Felizmente em vias de extinção.

 
38

 
    Antigos celtas, que por cá andaram,

Trouxeram-nos patranhas, mitos, lendas;

Gregos e cartagineses lutaram,

Destruindo as casas e fazendas…

Os bravos romanos civilizaram,

Deram-nos a língua e mais prendas.

Viriato legou-nos sua coragem,

Só foi derrotado por sacanagem.

terça-feira, 15 de maio de 2018

GENTES DE MELGAÇO
 
VILA (SMP)
 
Por Joaquim A. Rocha





GAMA, Estêvão de Queiroz Machado de Vasconcelos Pimenta. // Devido ao grande interesse que tem para a História de Melgaço, vou transcrever na íntegra a entrada do Dicionário Histórico, Biográfico, Bibliográfico, Heráldico, Corográfico, Numismático, e Artístico, publicado por João Romano Torres – Editor, de Lisboa, em 1903: {Foi o 9.º senhor da Casa do Hospital, Entre as Vinhas e Sem, 6.º senhor dos Prazos de Lordelinho e Cartas, da Casa e Morgado dos Machados de Carapeços (Barcelos) e 4.º senhor da Casa e Morgado de Calvelos, em Fafe, fidalgo cavaleiro da Casa Real por alvará de 7/1/1784 (Secretaria do Registo das Mercês, liv. 16 das Mercês de D. Maria I, fl. 91), e nasceu em 22/8/1775, falecendo em 9/4/1833, em Carapeços, em cuja igreja jaz. // Casou com D. Joaquina Verea Aguiar y Mosquera, filha de D. Vicente Verea Aguiar y Varela, senhor da Casa e Torre Solar de Andeade, da Jurisdição de Arzua y Bendaña, reino de Galiza, província e arcebispado de Santiago, e de D. Ângela Rosa Mosquera y Torre, filha de D. Luís Mosquera y Somoza, senhor da jurisdição e Couto de Vilariño, freguesia de S. Mamede de Canda, província e bispado de Orense, e de D. Margarida da Torre, filha de D. Nicolas de Torre, da cidade de Santiago, senhor do morgado da Barca de Ulha, e de D. Margarida Gil, da cidade de Santiago. D. Joaquina era neta pela parte paterna de D. Pedro Vereia Aguiar Pacheco de Castro, senhor do morgado e Torre de Andeade e de D. Maria Antónia Varela y Figueiroa, filha de D. Gregório Varela y Figueiroa, senhor da casa de Golão, e da jurisdição de Bendaña, e terceira neta de D. Gregório Verea y Aguiar, senhor do Morgado e Casa de Andeade, e de D. Bernarda de Castro, de Santiago. Deste consórcio teve Estêvão de Queiroz: 1 - Joaquim de Queiroz, 1.º barão do Hospital. 2 - José Maria de Queiroz Aguiar y Mosquera, cadete do Regimento de Infantaria 21, de Valença, fidalgo cavaleiro da Casa Real por alvará de 13/12/1819, datado do Rio de Janeiro (secretaria do Regimento das Mercês, fl. 200 v.). 3 - D. Francisca Inácia de Queiroz, casada com Bento Manuel de Mendonça Machado e Araújo, fidalgo cavaleiro da Casa Real, comandador da Ordem de Cristo, juiz proprietário do Juizo dos Órfãos, de Valadares do Minho, senhor da Casa e Quinta da Amiosa, em Valadares, e outras na província de Trás-os-Montes, tendo: a) D. Joaquina de Mendonça, que casou com Manuel de Araújo Azevedo Lira Sotto Mayor, senhor da Casa do Rosal, em Valadares, e outras na Galiza; b) D. Angelina Maria de Mendonça, que casou com seu primo co-irmão, filho do 1.º barão do Hospital, o Dr. Baltazar de Queiroz; 4 - D. Maria dos Remédios de Queiroz Gusmão; morreu solteira. 5 - D. Maria Amália de Queiroz Gusmão, casada com D. Agostinho de Castro Bulhão y Figueiroa, senhor da Casa e Torre do Fecho e da Boavista, em Melgaço, e do morgado dos Bulhões, na vila da Guardia (Galiza). 6 - D. Helena Delfina de Queiroz; morreu solteira. // Estêvão de Queiroz começou a sua carreira militar aos 16 anos; assentou praça no Regimento de Infantaria 21, de Valença, em 1/2/1791, sendo reconhecido cadete em 3 do mesmo mês. Foi nomeado ajudante da Praça de Valença em 30/9/1793, pelo governador das armas do Minho, Gonçalo Pereira de Caldas; e por decreto de 27 de Janeiro do ano seguinte, ajudante do Castelo da Barra de Viana (reg. na secret. da guerra; liv. 124, fl. 119), até que por carta régia de 23/11/1797 foi despachado sargento-mor da Praça de Monção (reg. na mesma Secret. no liv. 132, a fl. 443). Em 30/12/1808, o mesmo Gonçalo Pereira de Caldas, governador das armas da Província, e tenente-general dos Reais Exércitos, nomeou-o comandante da 1.ª brigada das ordenanças da província do Minho, compreendendo essa Brigada as capitanias-mores de Caminha, Cerveira, Couto de Nogueira, Valença, Couto de São Fins, Coura, Monção, Valadares, Melgaço, Fiães e Castro Laboreiro. Esta nomeação era de acordo com o decreto de 11/12/1808 que distribuiu todos os distritos das ordenanças da província em seis divisões de brigadas, pondo à sua frente um comandante «ao qual deverão obedecer todos os capitães-mores e comandantes das ordenanças de cada distrito». // Bernardim Freire de Andrade, comandante em chefe do exército do norte, encarregado do governo das armas do Partido do Porto, tendo-se aproximado da fronteira norte e estando até em Ganfei, Valença, em 19/2/1809, teve ocasião de apreciar os altos serviços prestados por Estêvão de Queiroz, em comissões importantíssimas que lhe confiou; e eram tais, os merecimentos que lhe reconheceu, que o nomeou Governador Militar de Guimarães, em 5/3/1809. Com a invasão francesa de Soult pouco tempo durou o governo militar de Estêvão de Queiroz, que nesse posto prestou valiosos serviços à causa pública, como o provam documentos coevos, entre eles um assinado pelo então provedor e contador da Real Fazenda naquela vila e desembargador da Relação e Casa do Porto, Manuel Marinho Falcão de Castro que, pela sua importância até histórica e biográfica, publicamos na íntegra: «Atesto com juramento que sendo nomeado governador militar desta vila o sr. Estêvão de Queiroz Machado, fidalgo da Casa Real, veio tomar conta do comando dela nas melindrosas e peníveis circunstâncias que ofereciam os princípios do ano de 1809; e desde logo cuidou mui escrupulosamente no fiel cumprimento dos deveres que lhe estavam anexos com a mais perspicaz inteligência e com o zelo mais activo e com a fidelidade mais apurada; mostrando em todas as suas acções o carácter dum homem de espírito e dotado de todas as virtudes políticas e militares que justamente lhe mereceram e atraíram a estima pública e o conservaram ileso e são no meio da funesta e espantosa anarquia que por um delírio vertiginoso se tornou geral entre a populaça desta província e que sacrificou um grande número de funcionários públicos. Que sendo ameaçada esta sua província e invadida no mês de Março do mesmo ano pelo exército do marechal Soult ele cuidou com antecipação em procurar os meios de defesa que estavam ao seu alcance, não só convidando as ordenanças de diferentes distritos para os opor à torrente invasora, mas também procurando-lhe o fornecimento de víveres e as munições de guerra que eram necessárias e que fez distribuir por todas; recorrendo convenientemente para estes fins ao general em chefe, assim como depois da sua funesta morte ao barão d’Eben que interinamente o sucedeu em Braga por alguns dias, enquanto os franceses a não ocuparam com o resto da província. Que em toda esta calamitosa e arriscada época mostrou a mais firme constância e o mais atilado valor e se prestou desveladamente a tudo o que podia ser útil ao serviço de Sua Alteza Real, auxiliando-me (quando já os meus colegas se haviam intempestivamente retirado) a promover quanto convinha à segurança pública que felizmente se conseguiu porque nem um só assassínio aconteceu nesta vila e seu termo, apesar dos muitos que se perpetraram nas terras vizinhas; e porque com a sua diligência se salvou das mãos da populaça o tenente-coronel do Regimento de Infantaria de Chaves, Francisco Homem de Magalhães Pizarro e o capitão-mor desta vila Francisco Cardoso de Menezes Barreto; e da mesma sorte me auxiliou a pôr em segurança todos os cofres dos dinheiros reais, com tanta vantagem para a Real Fazenda que nem um só real caiu nas mãos do inimigo. / Guimarães, a 20/6/1811.» (a) Manuel Marinho Falcão de Castro. // Em virtude da invasão do exército francês, retirou para Monção, de cuja praça era sargento-mor desde 1797, como acima se disse, e tendo falecido o governador desta praça, foi encarregado em 17/5/1811 do governo interino dela pelo brigadeiro João Wilson, governador das armas da província do Minho, e tomou posse desse comando a 20 do mesmo mês, estando de guarnição na praça o regimento de milícias dos Arcos, de que era coronel comandante Manuel Pereira Pimenta de Castro, da Casa de Pias (Monção). Conservou-se no governo da praça até que em 29/9/1817 foi nomeado governador da praça de Melgaço pelo marechal de campo, João Wilson, governador das armas da Província, tomando posse em 9 de Outubro, pois a 4 desse mês havia sido essa nomeação aprovada pelo marechal-general Marquês de Campo Maior. Foi promovido a tenente-coronel do exército, ficando às ordens do governador das armas do Minho, por portaria do governo de 5/3/1821, publicada na ordem do dia n.º 40 da secretaria do ajudante general do exército em 7 de Março do mesmo ano. O governo expediu ordem ao general governador das armas para conservar Estêvão de Queiroz na praça de Melgaço até segunda ordem, o que lhe foi permitido em ofício de 31 de Março do mesmo ano pelo brigadeiro António Lobo Teixeira de Barros, governador da Província. / Por portaria de 22/6/1821 a regência do reino, em nome de D. João VI, tendo em consideração que Estêvão de Queiroz havia prestado serviços ao exército durante 30 anos, concedeu-lhe o hábito da ordem de S. Bento de Aviz. / Estêvão de Queiroz estava governando a praça de Melgaço quando sucedeu no Porto o levantamento de 16/5/1828. D. Miguel fora aclamado rei absoluto em Melgaço a 5 de Maio, por ele, governador, e pelo juiz de fora, Manuel José de Pinho Soares de Albergaria, que mandou reunir a Câmara às quatro horas da tarde, havendo Te-Deum na igreja matriz e dando a guarnição três descargas. No dia 20 do mesmo mês, recebeu na Casa do Hospital um ofício participando os sucessos do Porto, e logo outro no dia seguinte do ajudante da praça, dizendo que em Melgaço tinha havido distúrbios e desordens aproveitando-se da sua ausência e também da saída do destacamento do 21 que guarnecia a praça e que fora chamado a Valença. Eis os termos desse ofício que conta um episódio histórico local hoje esquecido: «À meia-noite deste dia chegaram às portas desta praça uma corporação de realistas armados, bateram para lhes abrirem as portas, o que o sargento Manuel Joaquim, comandante interino do destacamento de veteranos, de guarda, não teve remédio senão fazer, para evitar desordens. Uma vez dentro prenderam o escrivão Luís Manuel da Costa Pinto, e o escrivão Tomaz José Gomes de Abreu e outro, que levaram para o Paço do Concelho, voltando a entrar na manhã de vinte e um na praça, soltando os presos, e levaram consigo o escrivão Gomes de Abreu com a chave do paiol da pólvora do castelo, e fizeram ao ajudante da praça aprontar-lhe a chave do castelo. Tiraram do paiol 3.500 cartuchos e mais alguns maços, não deixando pólvora alguma.» // Por aqui se vê como começava nesta região o reflexo desse terrível período de lutas civis que dividiram em facções a grande família portuguesa. Estêvão de Queiroz, logo que recebeu o ofício, recolheu a Melgaço, mas no dia 25 à noite não respeitaram a sua autoridade e, vendo-se em dificuldades insuperáveis para assegurar a ordem, por deficiência de força (na praça só havia 14 soldados veteranos impossibilitados), e com a vida ameaçada, foi aconselhado a retirar-se por todos os seus amigos, o que fez nessa noite, entregando o governo da praça ao ajudante, Francisco Manuel Osório Coutinho, dando comunicação ao juiz de fora dos motivos que a tanto o obrigaram. Refugiou-se na Casa da Amiosa, em Valadares, a um quilómetro da sua Casa do Hospital, com tenções de logo se apresentar, mas um ferimento que fizera numa perna ao sair de Melgaço deteve-o muito tempo de cama. Os seus inimigos, acoimando-o de inimigo do absolutismo, não desanimavam nem descansavam e conseguiram uma ordem do juiz ordinário de Valadares para o prender e a seu filho, Joaquim de Queiroz (depois barão do Hospital), capitão agregado de milícias dos Arcos, e ambos foram conduzidos para a cadeia de Valadares a 17/8/1828. Principiava para ele um grave período de perseguição rancorosa e violenta. A 18 foi interrogado e mandado para a Guarda Principal de Valença. A 9 de Dezembro foi-lhe feito sequestro dos bens que possuía na comarca de Valença, julgado de Valadares, e a 9 de Fevereiro do ano seguinte nos que tinha na comarca de Guimarães. A 5/3/1829 removeram-no para a prisão da Vila de Valença e a 26 do mesmo mês e ano saiu dali para a cadeia da Portagem, em Coimbra, onde chegou a 4 de Abril, conservando-se aí até 11 de Agosto, em que foi mandado para a Principal da praça de Almeida, chegando lá a 21 do mesmo mês. A 14 de Outubro de 1830 foi removido para a Relação do Porto a seu pedido e, dando entrada nessa cadeia a 23 do mesmo mês, tratou logo de promover o seguimento do seu processo, a fim de ser julgado e poder mostrar a sua inocência. A 18/3/1831 foram-lhe assinados cinco dias para dizer de facto e direito e a 6 de Julho foi publicado o acórdão da régia comissão da alçada, mandada ao Porto, sendo-lhe dada por expiada a culpa com o tempo de prisão sofrida desde 17/8/1828, relaxado o sequestro dos seus bens e ficando sujeito por um ano à vigilância da polícia do corregedor da comarca de Lamego. Conseguiu ser mandado para a vigilância do corregedor de Barcelos por acórdão assinado pelo presidente da alçada, que era Vitorino José Cerveira Botelho do Amaral, a 29 do mesmo mês. Foi solto a 14 de Julho (ver a página 30, Colecção de Listas que contêm os nomes das pessoas que ficaram pronunciadas nas devassas e sumários a que mandou proceder o governo usurpador depois da heróica contra-revolução que arrebentou na mui nobre e leal cidade do Porto em 16/5/1828 pelo bacharel Pedro da Fonseca Serrão Veloso. Porto, 1833.) // Em consequência desse veredictum foi viver Estêvão de Queiroz para a sua Quinta dos Machados, em Carapeços, Barcelos, onde as amarguras, desassossego e horrores da tão longa prisão, e lutas, lhe alquebraram a sua saúde, vindo aí a falecer a 9/4/1833, com 58 anos incompletos. Os altíssimos serviços prestados à Causa Pública por Estêvão de Queiroz estão assinalados e reconhecidos em documentos firmados pelos superiores, sob cujas ordens serviu e por quem lhe foram cometidos. E assim o atestam documentos coevos das invasões francesas. Bernadim Freire, com o seu quartel-general em Gaufem, agradece e continua a recomendar-lhe toda a vigilância. Com data de 19/2/1809, Gonçalo Pereira Caldas, encarregado do governo das armas da província do Minho, afirma em 20/6/1809, do seu quartel-general de Viana, a sua actividade, zelo e patriotismo, dando a mais pronta execução a várias e críticas diligências de que o tenho encarregado, já em ir a Espanha fazer compras de cavalos para as tropas de S.A.R., já em passar por várias vezes à Galiza como explorador de notícias e movimentos das tropas inimigas, sendo o primeiro que que me enviou as mais circunstanciadas e verdadeiras, e isto muito a tempo de se tomarem as necessárias cautelas, cujas diligências todas fez com consideráveis despesas da sua algibeira, sem que jamais exigisse remuneração alguma ainda quando antes da entrada das tropas francesas foi de ordem minha à cidade de Orense conferenciar com o rev.mo bispo e Junta da mesma cidade, e finalmente pela confiança que sempre fiz da honra, fidelidade e desembaraço deste oficial, o nomeei comandante da 1.ª brigada das ordenanças desta província, cujas funções exercitou benemeritamente salvando da barbaridade dos povos da raia, e livrando da morte muitos oficiais e soldados espanhóis que debandados do exército do ex.mo Marquês de La Romana procuravam ir reunir-se a ele, passando por este reino, o que assim executou até que foi nomeado governador militar da vila de Guimarães pelo ex.mo tenente-general Bernardim Freire de Andrade, então comandante em chefe do exército. Em 9 de Setembro D. Rodrigo de Lencastre, governador das armas, comunicava do seu quartel-general de Viana a Estêvão de Queiroz que encarregara da defesa da província ao tenente-coronel do Regimento de Infantaria n.º 15, Marcelino José Manço Pereira, que mandara marchar para Braga, ao qual deveriam ser dirigidas todas as notícias que se pudessem alcançar da Galiza e disso o incumbia até ordem em contrário, encargo de que tão bem se desonerou Estêvão de Queiroz em ofícios de 19 e 23 do mesmo mês que em 28 seguinte o próprio Marcelino Manço lhe dá conta da particular justiça, merecimento e zelo com que o senhor general apreciava os seus serviços, e diz-lhe que «apesar de haver mudança nos planos estabelecidos, ela não será em vossa senhoria continuar com a mesma actividade em saber notícias de interesse para o Estado.» No impedimento de D. Rodrigo veio interinamente presidir ao governo das armas da província o coronel do corpo de engenheiros José Carlos Mardel que, por seu turno, em 10/10/1809 aprecia as qualidades e diligências feitas por Estêvão de Queiroz, no tempo da sua estada no quartel-general. Os tempos continuavam a ser bastante calamitosos e a luta incessante, e em toda essa época Estêvão de Queiroz foi sempre, de todos os seus chefes, pessoa da maior confiança pela sua provada inteligência e lealdade de que Wilson, do seu quartel-general de Guimarães, lhe deu ainda testemunho em 22/4/1811 encarregando-o «de examinar com toda a verdade os movimentos que o inimigo fizer nas fronteiras da Galiza, Astúrias, etc.» e sucessivamente dos governos da praça de Monção e Melgaço, como fica dito, o que prova a alta consideração que lhe merecia.}                                                                 

sábado, 12 de maio de 2018


SONETOS DO SOL E DA LUA

Por Joaquim A. Rocha


a sombra de Drácula


Abrem os tempos brechas nos castelos,

Põe verdete nas faces dos metais,

Derrubam as árvores colossais,

Devoram tinta de painéis tão belos!
 

Mas os deuses usaram tais desvelos,

Prendas, atrativos, dons naturais,

Em rostos femininos, que jamais,

Tempo há-de sumi-los, esquece-los!
 

Apenas a morte vai um dia desfazer,

O trabalho das divinas criaturas,

Obra-prima do viril universo.
 

Vai exibir seu infindo poder…

Restarão os ossos, frágeis esculturas,

Para o vate cantar num frugal verso.

 

Este soneto foi inspirado num outro de Ribeiro da Silva (ver Notícias de Melgaço n.º 369, de 26/9/1937). 
 
uma pega admirando a paisagem