GENTES DO CONCELHO DE MELGAÇO
(microbiografias)
Por Joaquim A. Rocha
ROCHA,
Belchior Herculano. Filho do fidalgo Gaspar de Brito e Rocha (por bastardia), solteiro,
funcionário público, responsável pela Alfândega em Melgaço, natural dos Arcos
de Valdevez, e de Albina da Conceição Alves, solteira, de Melgaço, sua
empregada doméstica. Neto paterno de Joaquim da Rocha e Brito e de Maria
Angelina de Brito Pereira Pinto, da Casa de Requeijo, Arcos de Valdevez; neto materno
de Teresa Joaquina Alves, da Vila de Melgaço. // A 24/9/1877 os seus
progenitores expuseram-no à porta de Mariana Gonçalves, residente no lugar de
Santo Amaro, freguesia de Prado, concelho de Melgaço; e a 26/9/1877 foi
batizado pelo pároco da Vila de Melgaço, tendo por padrinhos António Alves,
solteiro, sapateiro, da Rua Direita, e Carolina da Costa Pinto, solteira, da
Rua da Calçada, ambos da Vila. Nesse mesmo dia foi entregue, para criar, à ama matriculada,
Francisca Sanches, do lugar de Fonte, freguesia de Alvaredo. // Depois de uma
profícua investigação, foi entregue à sua mãe, por intimação das autoridades, a
1/10/1879. // A 2/8/1882 ficou órfão de pai. // A 4/6/1888 a sua mãe casou com
Manuel Francisco Barbeitos, sapateiro, natural de Barbeita, Monção. // É
possível que tenha frequentado a escola primária, mas nada aprendeu, nem sequer
a assinar o seu nome. // Trabalhou como jornaleiro, foi cozinheiro e fabricante
de rebuçados, que vendia em festas e feiras, além de uma bebida por ele
inventada, espécie de coca-cola, e limonada. // A 6/1/1905, na igreja de
Rouças, foi padrinho de Baltazar dos Reis Rodrigues, nascido nessa freguesia
melgacense a 31/12/1904. // Casou a 17/5/1905, na igreja de SMP, com Maria
Libânia Alves, de trinta e seis anos de idade, vendedeira de pão e doces, mãe solteira de quatro
crianças, três delas já falecidas, filha de João António Alves, serralheiro, natural
de Paderne, e de Maria Teresa Lourenço, doméstica, natural da Vila, SMP. Testemunhas
da boda: José Maria Alves, irmão da noiva, e José Dias, proprietário. Nessa
altura reconheceram como filha de ambos a Maria Alice da Rocha. // Dizem
aqueles que o conheceram que era um homem alto e elegante, de olhos azuis,
popular. // A fim de ter um local para repousar depois da morte, comprou – por
cinco escudos – à Câmara Municipal de Melgaço, a 27/10/1919, dois metros
quadrados de terreno no cemitério municipal. // Os jornais locais falaram dele:
no “Jornal de Melgaço” n.º 999, de 4/9/1913, noticia-se a sua oferta de «uma linda manteigueira e prato de cristal»
a José Augusto Gregório e Maria Amélia Osório, por terem contraído matrimónio
na igreja matriz da Vila; o “Notícias de Melgaço, n.º 17, de 22/6/1923,
publicou um artigo do professor António Dâmaso Lopes (Grilo) com o título “OS
LIMÕES DO BELCHIOR”; no “Notícias de Melgaço” n.º 886, de 16/1/1949,
escreveu-se sobre a sua morte; em “A Voz de Melgaço” n.º 118, de 1/5/1956
aparece um artigo com o título “AS FEIRAS”, onde ele é referido; e ainda em “A
Voz de Melgaço” n.º 202, de 1/2/1960, o “Mário de Prado” escreveu um pequeno
texto ao qual deu o título “O BELCHIOR”. Como se vê, não passou despercebido no
seu tempo. // Um seu neto, quando soube que fora exposto, escreveu o seguinte soneto: «Foste, querido avô, filho de “ninguém”/Filho do
Fogo, do Ar, e da Mãe Água;/Foste, avô, filho da sombra e da frágua,/Filho de
um deus que veio do além!/Percorreste, ai de ti, Jerusalém,/Toda a Palestina, e
toda a mágoa;/Encheste rios com a tua doce bágua,/Da vergonha foste guarda e
refém./Escondido entre coutadas de tédio,/Abraçando fragas, densos
pinhais,/Fugindo, quase sempre, do sol nédio;/Esquecendo ânsias, chuvas,
vendavais…/Mas a vida, num ímpeto de assédio,/Quis tua alma… e não fugiste mais!»
// Enviuvou a 14/6/1947. // Morreu na Vila de Melgaço a 10/1/1949.
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