quarta-feira, 5 de setembro de 2018

GENTES DO CONCELHO DE MELGAÇO
(microbiografias)
 
Por Joaquim A. Rocha
 
 
 
 

ROCHA, Belchior Herculano. Filho do fidalgo Gaspar de Brito e Rocha (por bastardia), solteiro, funcionário público, responsável pela Alfândega em Melgaço, natural dos Arcos de Valdevez, e de Albina da Conceição Alves, solteira, de Melgaço, sua empregada doméstica. Neto paterno de Joaquim da Rocha e Brito e de Maria Angelina de Brito Pereira Pinto, da Casa de Requeijo, Arcos de Valdevez; neto materno de Teresa Joaquina Alves, da Vila de Melgaço. // A 24/9/1877 os seus progenitores expuseram-no à porta de Mariana Gonçalves, residente no lugar de Santo Amaro, freguesia de Prado, concelho de Melgaço; e a 26/9/1877 foi batizado pelo pároco da Vila de Melgaço, tendo por padrinhos António Alves, solteiro, sapateiro, da Rua Direita, e Carolina da Costa Pinto, solteira, da Rua da Calçada, ambos da Vila. Nesse mesmo dia foi entregue, para criar, à ama matriculada, Francisca Sanches, do lugar de Fonte, freguesia de Alvaredo. // Depois de uma profícua investigação, foi entregue à sua mãe, por intimação das autoridades, a 1/10/1879. // A 2/8/1882 ficou órfão de pai. // A 4/6/1888 a sua mãe casou com Manuel Francisco Barbeitos, sapateiro, natural de Barbeita, Monção. // É possível que tenha frequentado a escola primária, mas nada aprendeu, nem sequer a assinar o seu nome. // Trabalhou como jornaleiro, foi cozinheiro e fabricante de rebuçados, que vendia em festas e feiras, além de uma bebida por ele inventada, espécie de coca-cola, e limonada. // A 6/1/1905, na igreja de Rouças, foi padrinho de Baltazar dos Reis Rodrigues, nascido nessa freguesia melgacense a 31/12/1904. // Casou a 17/5/1905, na igreja de SMP, com Maria Libânia Alves, de trinta e seis anos de idade, vendedeira de pão e doces, mãe solteira de quatro crianças, três delas já falecidas, filha de João António Alves, serralheiro, natural de Paderne, e de Maria Teresa Lourenço, doméstica, natural da Vila, SMP. Testemunhas da boda: José Maria Alves, irmão da noiva, e José Dias, proprietário. Nessa altura reconheceram como filha de ambos a Maria Alice da Rocha. // Dizem aqueles que o conheceram que era um homem alto e elegante, de olhos azuis, popular. // A fim de ter um local para repousar depois da morte, comprou – por cinco escudos – à Câmara Municipal de Melgaço, a 27/10/1919, dois metros quadrados de terreno no cemitério municipal. // Os jornais locais falaram dele: no “Jornal de Melgaço” n.º 999, de 4/9/1913, noticia-se a sua oferta de «uma linda manteigueira e prato de cristal» a José Augusto Gregório e Maria Amélia Osório, por terem contraído matrimónio na igreja matriz da Vila; o “Notícias de Melgaço, n.º 17, de 22/6/1923, publicou um artigo do professor António Dâmaso Lopes (Grilo) com o título “OS LIMÕES DO BELCHIOR”; no “Notícias de Melgaço” n.º 886, de 16/1/1949, escreveu-se sobre a sua morte; em “A Voz de Melgaço” n.º 118, de 1/5/1956 aparece um artigo com o título “AS FEIRAS”, onde ele é referido; e ainda em “A Voz de Melgaço” n.º 202, de 1/2/1960, o “Mário de Prado” escreveu um pequeno texto ao qual deu o título “O BELCHIOR”. Como se vê, não passou despercebido no seu tempo. // Um seu neto, quando soube que fora exposto, escreveu o seguinte soneto: «Foste, querido avô, filho de “ninguém”/Filho do Fogo, do Ar, e da Mãe Água;/Foste, avô, filho da sombra e da frágua,/Filho de um deus que veio do além!/Percorreste, ai de ti, Jerusalém,/Toda a Palestina, e toda a mágoa;/Encheste rios com a tua doce bágua,/Da vergonha foste guarda e refém./Escondido entre coutadas de tédio,/Abraçando fragas, densos pinhais,/Fugindo, quase sempre, do sol nédio;/Esquecendo ânsias, chuvas, vendavais…/Mas a vida, num ímpeto de assédio,/Quis tua alma… e não fugiste mais!» // Enviuvou a 14/6/1947. // Morreu na Vila de Melgaço a 10/1/1949.

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