terça-feira, 19 de maio de 2015

MACRÓBIOS




     Os macróbios eram um antigo povo da Etiópia; destacavam-se dos demais pela sua longevidade. Talvez Cristina Teresa de Jesus, negra, solteira, que morreu no Brasil em 1916 com 150 anos de idade, descenda desse povo (ver Correio de Melgaço n.º 191, de 19/3/1916). Este artigo tem por fim dar a conhecer aos meus leitores os melgacenses de nascimento, ou aqueles que fixaram a sua residência no concelho, que quase chegaram ou ultrapassaram os cem anos de vida. Não são muitos, e nem todas as freguesias tiveram esse privilégio. Quero no entanto destacar a freguesia de Alvaredo, onde parte dos seus habitantes atinge uma idade invejável. Desconheço o segredo que permitiu que essas pessoas vivessem tantos anos, mas estou em crer que nenhuma delas fumava, não ingeriam bebidas alcoólicas nem comida em excesso; dormiriam tranquilas as suas oito horas todas as noites, não abusariam de medicamentos, etc. Teriam, quanto a mim, uma vida simples, mais de acordo com a mãe natureza. Quando comecei a investigar sobre a longevidade dos melgacenses não esperava encontrar tantas pessoas com cem ou mais anos de idade. Foi uma surpresa agradável. Isso prova-nos que uma vida simples, uma alimentação equilibrada, natural, permite que nós vivamos mais uns bons anos, e com alguma qualidade. Nem toda a gente consegue essa proeza, os organismos dos humanos não são todos iguais, as doenças surgem, e nem os cuidados médicos, nem os remédios, conseguem por vezes evitar o nosso precoce fim. Quase todas as pessoas aqui estudadas pertenceram ao mundo rural, o que de imediato nos indica que a vida do campo, apesar de bastante dura, e por vezes ingrata, também tem as suas compensações, as suas vantagens. Viver na cidade, no meio urbano, provoca quase sempre cansaço espiritual, o chamado «stress». Os empregos na banca, nos escritórios, etc., com aqueles horários rígidos, tornam-nos todos iguais, quase máquinas. Luta-se por um lugar de chefia, um aumento de ordenado, um favor especial. Depois vem a aposentação, o banco do jardim, a esplanada do Café, o jogo de cartas, a frustração. No mundo rural não se espera: age-se. Há sempre que fazer; as sementeiras, o gado, as podas, as vindimas, as desfolhadas, tanta, tanta coisa para fazer, Não há ociosidade. A nova agricultura exige conhecimentos; o analfabetismo pertence ao passado. É provável que alguns nomes não surjam aqui, embora a pesquisa tenha sido exaustiva, mas, como é hábito dizer-se, nada é perfeito. Se algum dos leitores conhecer alguém do concelho, ou que nele resida, ou residiu, com idade avançada, agradecia que me transmitisse essa informação. Sei que este assunto diz respeito a todos os seres humanos, porém apenas meia dúzia se interessará por ele. Na juventude não ligamos muito à maneira como vivemos, julgamos ser eternos, nada nos afeta, nenhuma coisa nos perturba. No entanto, à medida que vamos avançando na idade, verificamos que as asneiras que fizemos quando éramos novos, prejudicaram sobremaneira o nosso organismo. A velhice não é uma doença, mas uma consequência; os anos passaram e o nosso corpo foi sentindo o desgaste. É natural. A natureza é sábia, não quer seres frágeis no seu seio; elimina-os para dar lugar a outros seres mais fortes, mais vigorosos. A nós resta-nos aceitar essa evidência e essa regra. Apesar de todas as mezinhas, medicamentos sofisticados, operações plásticas, e outros truques mais ou menos subtis, jamais conseguiremos enganá-la. Contudo, e sem falsos moralismos, podemos e devemos levar uma vida saudável, que nos permitirá, na maioria dos casos, ter um resto de vida com alguma qualidade. Tal como descontamos, quando estamos no ativo, para a nossa aposentação ou reforma, também devemos poupar um bocadinho das nossas energias para quando elas começarem a faltar. Obrigar a “máquina” a trabalhar ininterruptamente, cansa-a e desgasta-a precocemente. Vejamos então as pessoas que alcançaram os cem ou mais anos de idade:
     

ALVAREDO


ALMEIDA, Maria Augusta. Filha de Manuel Martins de Almeida e de Bernardina da Conceição. Nasceu no ano de 1915 na freguesia de Pessegueiro, concelho de Pampilhosa da Serra. Casou com António Alves. Morou em Alvaredo, em casa de uma filha casada, e depois esteve internada algum tempo no Lar Pereira de Sousa, freguesia de Vila-Rouças, onde terminou os seus dias. Faleceu no Lar a 2/2/2015, com cem anos de idade. Foi sepultada no cemitério de Alvaredo, Melgaço.

CARVALHO, Daniel. Filho de António de Carvalho, natural de Cousso, e de Petronila Besteiro, de Alvaredo, lavradores, residentes nesta última freguesia, no lugar de Ferreiros. Neto paterno de Maria José de Carvalho, solteira; neto materno de João Besteiro e de Florinda Rosa de Araújo. Nasceu em Alvaredo a 28/2/1886 e foi batizado a 1 de Março desse ano. Padrinhos: José Joaquim Lamas, viúvo, e Albina Besteiro, solteira. Casou com Josefina, de 19 anos de idade, de São Pedro, Funchal, filha de Manuel Simões Dias Saquete (?) e de Felizarda Belisanda. O casamento civil decorreu em casa particular, no Funchal, a 24/5/1913. A sua esposa faleceu no Funchal a 12/12/1977. Ele morreu a 27/2/1986 em São Martinho, Funchal. No dia seguinte à sua morte completaria cem anos de idade.


ESTEVES, Isabel Maria. Filha de Amaro Esteves e de Ana Rosa, lavradores, naturais de Penso. Nasceu em 1755, ano do terramoto em Lisboa. Casou com João Manuel Rodrigues. Era lavradeira e morou no lugar do Coto, Alvaredo. Faleceu de repente, na casa de Faustina Rodrigues, sita no dito lugar do Coto, a 1/12/1867, com cento e doze anos de idade, no estado de viúva. // (continua)...

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