MACRÓBIOS
Os macróbios eram um antigo povo da Etiópia;
destacavam-se dos demais pela sua longevidade. Talvez Cristina Teresa de Jesus, negra, solteira, que morreu no
Brasil em 1916 com 150 anos de idade, descenda desse povo (ver Correio de Melgaço n.º 191, de 19/3/1916). Este artigo tem por fim dar a conhecer aos meus
leitores os melgacenses de nascimento, ou aqueles que fixaram a sua residência
no concelho, que quase chegaram ou ultrapassaram os cem anos de vida. Não são
muitos, e nem todas as freguesias tiveram esse privilégio. Quero no entanto destacar
a freguesia de Alvaredo, onde parte dos seus habitantes atinge uma idade invejável.
Desconheço o segredo que permitiu que essas pessoas vivessem tantos anos, mas
estou em crer que nenhuma delas fumava, não ingeriam bebidas alcoólicas nem
comida em excesso; dormiriam tranquilas as suas oito horas todas as noites, não
abusariam de medicamentos, etc. Teriam, quanto a mim, uma vida simples, mais de
acordo com a mãe natureza. Quando comecei a investigar sobre a longevidade dos
melgacenses não esperava encontrar tantas pessoas com cem ou mais anos de
idade. Foi uma surpresa agradável. Isso prova-nos que uma vida simples, uma
alimentação equilibrada, natural, permite que nós vivamos mais uns bons anos, e
com alguma qualidade. Nem toda a gente consegue essa proeza, os organismos dos
humanos não são todos iguais, as doenças surgem, e nem os cuidados médicos, nem
os remédios, conseguem por vezes evitar o nosso precoce fim. Quase todas as
pessoas aqui estudadas pertenceram ao mundo rural, o que de imediato nos indica
que a vida do campo, apesar de bastante dura, e por vezes ingrata, também tem
as suas compensações, as suas vantagens. Viver na cidade, no meio urbano,
provoca quase sempre cansaço espiritual, o chamado «stress». Os empregos na
banca, nos escritórios, etc., com aqueles horários rígidos, tornam-nos todos
iguais, quase máquinas. Luta-se por um lugar de chefia, um aumento de ordenado,
um favor especial. Depois vem a aposentação, o banco do jardim, a esplanada do
Café, o jogo de cartas, a frustração. No mundo rural não se espera: age-se. Há
sempre que fazer; as sementeiras, o gado, as podas, as vindimas, as
desfolhadas, tanta, tanta coisa para fazer, Não há ociosidade. A nova
agricultura exige conhecimentos; o analfabetismo pertence ao passado. É
provável que alguns nomes não surjam aqui, embora a pesquisa tenha sido
exaustiva, mas, como é hábito dizer-se, nada é perfeito. Se algum dos leitores
conhecer alguém do concelho, ou que nele resida, ou residiu, com idade
avançada, agradecia que me transmitisse essa informação. Sei que este assunto
diz respeito a todos os seres humanos, porém apenas meia dúzia se interessará
por ele. Na juventude não ligamos muito à maneira como vivemos, julgamos ser
eternos, nada nos afeta, nenhuma coisa nos perturba. No entanto, à medida que
vamos avançando na idade, verificamos que as asneiras que fizemos quando éramos
novos, prejudicaram sobremaneira o nosso organismo. A velhice não é uma doença,
mas uma consequência; os anos passaram e o nosso corpo foi sentindo o desgaste.
É natural. A natureza é sábia, não quer seres frágeis no seu seio; elimina-os
para dar lugar a outros seres mais fortes, mais vigorosos. A nós resta-nos
aceitar essa evidência e essa regra. Apesar de todas as mezinhas, medicamentos
sofisticados, operações plásticas, e outros truques mais ou menos subtis,
jamais conseguiremos enganá-la. Contudo, e sem falsos moralismos, podemos e
devemos levar uma vida saudável, que nos permitirá, na maioria dos casos, ter um
resto de vida com alguma qualidade. Tal como descontamos, quando estamos no
ativo, para a nossa aposentação ou reforma, também devemos poupar um bocadinho
das nossas energias para quando elas começarem a faltar. Obrigar a “máquina” a
trabalhar ininterruptamente, cansa-a e desgasta-a precocemente. Vejamos então
as pessoas que alcançaram os cem ou mais anos de idade:
ALVAREDO
ALMEIDA, Maria Augusta. Filha de Manuel Martins
de Almeida e de Bernardina da Conceição. Nasceu no ano de 1915 na freguesia de
Pessegueiro, concelho de Pampilhosa da Serra. Casou com António Alves. Morou
em Alvaredo, em casa de uma filha casada, e depois esteve internada algum tempo
no Lar Pereira de Sousa, freguesia de Vila-Rouças, onde terminou os seus dias. Faleceu no Lar a 2/2/2015, com cem anos de idade. Foi sepultada no cemitério de Alvaredo, Melgaço.
CARVALHO, Daniel. Filho de António de Carvalho,
natural de Cousso, e de Petronila Besteiro, de Alvaredo, lavradores, residentes
nesta última freguesia, no lugar de Ferreiros. Neto paterno de Maria José de
Carvalho, solteira; neto materno de João Besteiro e de Florinda Rosa de Araújo.
Nasceu em Alvaredo a 28/2/1886 e foi batizado a 1 de Março desse ano.
Padrinhos: José Joaquim Lamas, viúvo, e Albina Besteiro, solteira. Casou com
Josefina, de 19 anos de idade, de São Pedro, Funchal, filha de Manuel Simões
Dias Saquete (?) e de Felizarda Belisanda. O casamento civil decorreu em casa
particular, no Funchal, a 24/5/1913. A sua esposa faleceu no Funchal a 12/12/1977. Ele morreu a 27/2/1986 em São Martinho, Funchal. No dia seguinte à sua morte
completaria cem
anos de idade.
ESTEVES, Isabel Maria. Filha de Amaro Esteves e
de Ana Rosa, lavradores, naturais de Penso. Nasceu em 1755, ano do terramoto em
Lisboa. Casou com João Manuel Rodrigues. Era lavradeira e morou no lugar
do Coto, Alvaredo. Faleceu de repente, na casa de Faustina Rodrigues, sita
no dito lugar do Coto, a 1/12/1867, com cento e doze anos de idade, no estado de
viúva. // (continua)...
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