ESCRITOS SOBRE MELGAÇO
(e outros)
Por Joaquim A. Rocha
A Nossa Querida Vila de Melgaço
(e outros)
Por Joaquim A. Rocha
A Nossa Querida Vila de Melgaço
Agosto de 1990. Melgaço. Poucos dias de férias. O suficiente
porém para rever amigos: os «ladrões» de fruta e os outros, os meninos bem
comportados! O Tónio de Oliveira, o Mário Alves de Melo, que já não via há vinte e tal anos, o Zé
Araújo – sempre belicoso, com os seus famosos murros, mais portentosos do que os
terríveis pontapés de Charlie Brown. Também os filhos do senhor Augusto
Igrejas: o “Pirata”, o Tónio, que foi meu colega no antigo Grémio da Lavoura
(como passaram depressa estes trinta anos!).
A nossa querida
Vila de Melgaço em Agosto. Tão linda… e tão porquinha! Senhor Presidente da
Câmara: então essa limpeza? As ruas em Agosto cheiram mal que tresandam. E a
água? Existe sim, mas no rio. Não é longe da Vila, mas não dá jeito lá ir. Embelezar
a avenida principal… tudo bem, mas a água! Ela é um bem fundamental e quem vai
passar férias à sua terra não pode, nem deve, ficar dela privado, estar sujeito
a carências primárias. Dizem-nos que para o ano teremos o precioso líquido em
abundância. Promessas são fáceis de fazer, o seu cumprimento é, porém, mais
difícil. É verdade que os anteriores presidentes da Câmara Municipal pouco
fizeram nesse sentido; – infelizmente para todo o concelho nada, ou pouco
fizeram, seja no que for! A desculpá-los, apenas a falta crónica de dinheiro;
sem o vil metal não há obras. A imaginação por si só não chega. Contudo, o
aprumo, a honestidade, o amor à terra natal, podem conseguir milagres. Os
melgacenses têm que estar atentos ao que se vai passando e devem criticar tudo
aquilo que está a ser mal feito. Não há verdadeiro progresso sem uma crítica
saudável.
Apesar de tudo trouxe, este ano, ótimas
recordações do torrão natal. Em primeiro lugar o ter estado com os meus
familiares e amigos. Em segundo lugar, o ter assistido à festa da cultura: o
artesanato, o folclore, o desfile de carros alegóricos, as exposições de
pintura... Penso que essa manifestação cultural deve prosseguir, cada ano com
mais entusiasmo. De Melgaço trouxe igualmente, além das recordações, alguns
livros: «O Mosteiro de Fiães», do senhor padre Doutor José Marques (livro
extraordinário, sobre o qual me debruçarei com mais tempo e ciência
oportunamente); «Heráldica Melgacense – Associativa, de Domínio e
Eclesiástica», dos senhores Doutores Maria de Jesus Domingues e Armando
Barreiros Malheiro da Silva (obra inserida nos cadernos da Câmara Municipal de
Melgaço – é o 5.º a ser publicado). Iniciativa deveras louvável, visto que
tenta recuperar tesouros culturais que, de outro modo, se perderiam para sempre
ou seriam simplesmente ignorados. Em fotocópias consegui «Melgaço e as Invasões
Francesas», do senhor Dr. Augusto César Esteves (era o único livro da sua obra
que me faltava). O senhor padre Lourenço, há pouco tempo falecido, disse-me
certa vez que tinha alguma bibliografia sobre Melgaço. Bom seria que alguém
providenciasse no sentido de preservar esses livros e documentos, pois já são
raros e para o concelho de Melgaço, para a sua história, têm imenso valor.
Outro livro que adquiri com muito gosto foi «Poesia Popular», de Francisco
Augusto Igrejas. Com alguns poemas datados, é certo, mas cheios de graça e
humor. Ter-se-ia inspirado nos Cancioneiros Medievais, sobretudo nas cantigas
de escárnio e maldizer? É verdade que a obscenidade aqui não tem lugar, apenas
pinceladas de ironia. Além dos poemas de “maldizer” existem no livro poemas
sérios, de sentimento profundo.
Artigo publicado em A Voz de Melgaço n.º 927, de 1/11/1990.
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