CANTIGAS AO
DESAFIO
Mote
«Cantigas ao desafio
Comigo ninguém as cante;
Eu tenho quem mas ensine,
Meu amor é estudante.»
*
Desenvolvimento
Teu amor é
estudante
O meu já é sô
doutor;
Cantigas que ele
me ensine
Têm a marca do
rigor.
*
Gostas muito de
cantar
Mas não cantas
nada bem;
Cantar é um dom
que nasce
No ventre de nossa
mãe.
*
Só porque tu
cantas mal
Julgas os outros
por ti;
Eu canto qual
rouxinol,
Na natureza
aprendi.
*
A vaidade não te
falta
E orgulho, nem
falar;
Julgas-te
brilhante estrela,
Linda santinha de
altar.
*
Não sou brilhante
estrela,
Nem um pedaço do
céu;
Sou uma humilde
mocinha
Que para a canção
nasceu.
*
Se cantasses, como
eu canto,
Com notas finas e
aladas;
Julgar-te-ias
princesa,
Ou a rainha das
fadas.
*
Quando te ouço
cantar
Sinto desejos de
rir;
A boca boceja
tédios,
Não sei como
resistir.
*
Então eu, quando
te ouço,
Penso logo em
fugir;
Por vergonha não o
faço,
Tenho mesmo que te
ouvir.
*
Eu prefiro ouvir o
galo,
O pobre gato a
miar;
Até o cuco no
mato,
Lobos no monte a
uivar.
*
Eu prefiro ouvir
trovões,
A chuva forte a
cair;
A acha a arder na
lareira,
O comboio a
partir.
*
Marco Paulo e
Abrunhosa
À tua beira, são
bons;
Calvário e Quim
Barreiros,
Rebuçadinhos, bombons.
*
Quem desdenha quer
comprar,
Dizes mal, é
porque gostas;
Se não gostasses
de mim
Viravas-me logo as
costas.
*
Presunção e água
benta
Cada qual toma a
que quer;
Tu és uma
convencida,
Tens muito para
aprender.
*
Deixemos isso pra
lá
E dêmos um grande
abraço;
Cantamos ambas mui
bem,
Com nossa voz de
melaço.
*
Disseste pura
verdade,
Cantamos ambas mui
bem;
Somos caninhas
rachadas,
Uísque de Sacavém.
Em coro:
Temos maviosa voz
Pra cantar ao
desafio;
Com mil peixes a
escutar,
Movendo-se em rodopio.
Joaquim Rocha
Joaquim Rocha
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