PADRES POLÍTICOS EM MELGAÇO
V
GONÇALVES, Francisco António (Padre). Filho de António
Gonçalves e de Maria Alves. Nasceu em Dois Portos (ou Cainheiras), Castro Laboreiro, em 1853. // Em 1874 ainda era estudante. // Foi pároco encomendado
de Castro e “colado” em Prado de 1892 a 3/2/1922 (*), data em que faleceu. // Andou a braços com a
justiça, por razões políticas, pois segundo parece não aceitou a mudança de
regime, isto é, da monarquia para a república. O regedor de Prado, seu adversário, acusou-o de ele pactuar com o
monárquico Paiva Couceiro. Lê-se no Correio de Melgaço n.º 8, de 28/7/1912: «… foram intimadas para no dia 29 comparecerem
no comando militar desta Vila as testemunhas oferecidas em sua defesa…»
Respondeu em Braga, a 3/8/1912, acusado de infringir a Lei da Separação (Igreja – Estado). As autoridades fizeram uma minuciosa busca em sua casa,
convencidas de ali encontrar propaganda, ou armas; pelos vistos, os marinheiros
nada encontraram, a não ser um velho revólver; retiraram, mas passadas 24
horas, por denúncia, foram prendê-lo e levaram-no sob prisão para Valença, no
Auto Melgaço, ficando à disposição do comando militar. Ficou detido durante
quinze dias, mas foi libertado. Os castrejos, duma maneira geral,
regozijaram-se com a sua libertação. // No Correio de Melgaço n.º 33, de
19/1/1913 lemos: «Por ordem da autoridade
administrativa foi mandada encerrar a igreja paroquial da freguesia de Prado,
sendo entregue a chave aos Srs. Augusto César Gomes Pinheiro e Vitorino
Domingues Salgado, devotados re… re… e mais que re… publicanos, membros da
comissão paroquial, que exigiram ao respectivo pároco todos os vasos sagrados,
inclusive a chave do sacrário, onde meteram as manápulas para procurarem o
vaso. Não censuramos a autoridade administrativa, mas criminamos o cinismo dos
dois entes que, rancorosamente, se intrometem em atribuições que … lhes não
pertencem.» // No Correio de Melgaço n.º 34, de 26/1/1913, a administração
do concelho chama a atenção do jornal: «Informa-nos
a digna autoridade administrativa que a igreja de Prado não está fechada,
motivo por que rectificamos a local com a epígrafe acima publicada em o último
número do nosso jornal.» Afinal, fecharam ou não a igreja!? // No Correio
de Melgaço n.º 35, de 2/2/1913, lê-se: «Participei
ao Sr. Arcebispo, além de outros factos, que me fecharam violentamente a igreja
paroquial – e cala-se; que me tiraram todos os vasos sagrados – e cala-se; que
me extorquiram a chave do sacrário – e cala-se; que um membro da comissão
paroquial teve o atrevimento diabólico de abrir o sacrário, poluindo aquele
lugar, privativo recolhimento do S.S. Sacramento e, portanto, interdizendo todo
o edifício – e cala-se; que um padre, tendo pleno conhecimento destes factos,
foi no dia seguinte ali celebrar a missa – e cala-se. Não percebo! Não sei se
esta falta de percepção será devida ao respeito que conservo ao meu superior,
mas hei-de estudar o assunto, para ver se percebo, porque não percebo. //
Prado, 29/1/1913. O Reitor, FAG.» // No Correio de Melgaço n.º 36, de
9/2/1913, vem publicado outro arrazoado seu: «Desejando – apesar do abandono – fazer inteira
justiça a S. Ex.ª Reverendíssima, estudando o assunto, concluí o seguinte: o
Sr. Arcebispo não se calou, porque para se calar era preciso ter conhecimento
do que lhe participei; não, ignora tudo o que se passa no seu vasto
arcebispado, e tiro esta consequência de uma resposta dada, em Braga, ao Sr.
Prior de Paderne, deste concelho. Chegamos a tal tempo! Continuando, direi
alguma coisa ao Sr. Núncio e ao Sr. Ministro das Finanças, apresentando
documentos. // Prado, 7/2/1913. O Reitor, FAG.» // A seguir atira-se a um seu colega:
«Triste posição a de quem não tem defesa
e vem para a Lamparina (luz da ribalta, a público), sem a isso ser
chamado. Quanto mais se manifesta, mais mostra o que é. Desta vez evidencia-se
um bom discípulo de Lutero, pois este ensinou a fé em Jesus Cristo e blasfemou
da mãe, a S.S. Virgem. Tu constitues-te defensor oficioso do Sr. Arcebispo, sem
que alguém o ofenda, e calcas aos pés os documentos Pontifícios: “Apostolicae
Sedis”, que impõe excomunhão reservada a quem usurpar jurisdição eclesiástica,
a “Jam Dudum” (tu sabes porquê) e o Concílio
Tridentino, que foi durante séculos lei desta nação. Infeliz, olha para a tua
vida pública, no conceito em que és tido – nem te confiam as bulas, e quando se
dá o caso de um casamento, que algum nubente te pertença, prescindem em Braga
dos teus documentos. Mais, a gente sensata não quer comunicar contigo “in
Divinis” – como o prova um documento em meu poder. És um homem de juízo…
infeliz, quem te chamou? // Prado, 15/2/1913. O Reitor, FAG.» (CM 37,
de 16/2/1913). // Mas
não se quedou por aqui! Moveu uma acão a Vitorino de Jesus Salgado por injúria
e difamação. O réu foi condenado, a 20/2/1913, em 15 dias de prisão correcional
e 15 dias de multa, ficando a pena suspensa por dois anos, custas e selos do
processo. // O seu cunhado, Jerónimo Barros, também veio a terreiro defendê-lo.
// No Correio de Melgaço n.º 64, de
31/8/1913, pode-se ler outro artigo dele: «Até
que justiça foi feita. O Ex.mo e Rev.mo Sr. Vigário Capitular, em portaria de 8
do corrente, ordenou que fosse estranhado aos párocos da Vila de Melgaço (Manuel José Domingues – 1875-1952) e
Cristóval (…) terem – sem autorização minha – exercido nesta
freguesia actos paroquiais, e como castigo lhes foi imposta a pena de suspensão
das suas ordens, dentro dos limites da mesma freguesia. Prado, 25/8/1913. O
reitor, FAG.» // Em 1914 publica no Correio de Melgaço: «Não assisti a uma célebre sessão da Câmara Municipal de Melgaço, mas
pelo relato dos jornais vi o seguinte: um senhor vereador mostrou que é egoísta
do dinheiro, porque tendo ele muito (que Deus lho conserve)
não leva a bem que os professores deste concelho exijam uns magros centavos,
que justamente lhes pertencem, e faz propostas que, bem traduzidas, são contra
a instrução, porque sendo egoísta e entendendo que a ignorância não cabe toda
na alma dele, quer que se estenda aos filhos dos munícipes, que lhes confiaram
a cadeira onde se senta! Outro ponto dessa sessão, sendo companheiros deste
vereador e achando-se na mesma sessão, dois irmãos de professores (Lobato e Azevedo),
estes ficaram calados! Conclusão: quem não defende os seus parentes tão
próximos, menos é competente para defender os interesses do município. Prado,
29/1/1914.» // No
Correio de Melgaço n.º 91, de 15/3/1914, publica, na sua Secção Livre, uns
apontamentos assaz hilariantes, acerca de um eventual cruzamento de raça entre
castrejos e russos, ou noruegueses! Para evitar a epidemia, argumentava ele. Os
seus conterrâneos, casando entre si, tornavam-se fracos, logo, a solução seria
essa! Não falou na higiene, e aí é que residia todo o mal. Gado e pessoas
viviam em comum, os corpos raram vezes viam a água e o sabão, as roupas eram
lavadas raramente! A alimentação, devido ao isolamento, não era diversificada,
comiam muita carne de porco, enfim, tudo contribuía para a fragilização dos
seres. (Acerca dele ver também “Padre Júlio Vaz
apresenta Mário”, p.p. 246-247).
Nota: retirei desta microbiografia alguns dados pessoais a fim de não ferir suscetibilidades.
Nota: retirei desta microbiografia alguns dados pessoais a fim de não ferir suscetibilidades.
/// (*) Noutro sítio
diz-se que ele sucumbiu a 3/2/1923, em Prado (ver NM 166, de 25/9/1932).
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