A BARRA DE OIRO COM ASAS
Havia um certo sovina
que tinha uma barra d’oiro;
para ele era divina…
era todo o seu tesoiro!
Guardava-a tão bem guardada,
como a um filho a protegia,
que nem cabeça
coroada
no tempo da monarquia!
Mas certo dia inglório
a barra desapareceu!
Quem seria o patifório
que vilmente procedeu?
Toda a família envolvida
neste caso tão bicudo;
e a barra desaparecida
era a culpada de tudo!
«Quem roubou o meu
tesouro?»
perguntava colérico o sovina.
«Se calhar foi o
Zé-Touro»
insinuava a Ti Albertina.
O Zé-Touro, patifório,
era o que tudo roubava;
com suas mãos de finório
a “terra” alheia lavrava!
É chamado à Judiciária
mas tudo nega, o malvado.
«Não é esta a minha
área,
eu jogo noutro relvado.»
Não se convence, o agente,
e fortes murros lhe dá.
«Diz-me cá, ó insolente,
onde é que o ouro está?»
«Sr. Agente, eu lhe
garanto
que a barra d’oiro não bifei;
juro pelo António santo…
e quem a bifou não sei!»
E por mais murros que apanhe
não fala, o hábil bandido;
(o sovina que se amanhe),
pensa o agente, vencido.
O processo se arquivou,
junto a outros poeirentos;
«quem foi que o ouro
roubou?»
pergunta-se aos quatro ventos.
«Tinha asas, essa
barra,
e voou prò outro mundo?!»
A pergunta sempre esbarra
com o silêncio profundo.
Mas o que é certo, irmão,
é que o sovina, coitado,
sofreu tal desilusão
que ficou meio chalado!
Ainda hoje nós o vemos
pelas ruas da cidade:
«pela alma de quem lá
temos
dêem-me o oiro, por caridade.»
E agora, só por chalaça,
vou ao fundo da questão:
«o ouro só traz
desgraça»…
passai-o prà minha mão!
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