sexta-feira, 29 de maio de 2020

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha



// continuação…

ROUBOS


(1951) - Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 970, de 18/3/1951, escrito pelo correspondente de Penso: «… é de lastimar que este período de silêncio fosse caracterizado por diversas roubalheiras que revelam uma audácia e uma perversidade inqualificáveis. Ora vejamos: Ao senhor Joaquim Maria da Rocha um atrevido gatuno roubou alguns cabaços de vinho tinto e branco, penetrando na adega pelo telhado. Já não é a primeira vez que o senhor JMR tem sido roubado e, talvez, pelo mesmo larápio, que deve conhecer bem os cantinhos da adega e a fraqueza da vítima. // Ao senhor Aires Gonçalves roubaram de uma latada um fio de arame com oitenta metros de comprimento. Soube quem era e, compadecentemente, obrigou-o a repo-lo no seu lugar. Belo castigo! // Ao senhor João Eugénio Lucena roubaram outro fio de arame, com quarenta metros de extensão, não lhe sendo possível descobrir o autor da proeza, porque, se isso consegue, ai dele! // O senhor José Carlos da Rocha, residente em Lisboa, também foi roubado pela quadrilha. De uma latada que possui nos sucalcos desapareceu-lhe, de um dia para o outro, um fio de arame de trinta metros de comprimento. O caseiro, suspeitando que o fio devia ter sido utilizado nalguma pesqueira, deu umas voltas pela margem do rio e lá foi encontrar uma pesqueira chamada bugio. Perguntando [a alguém] se sabia quem fora o armador, respondeu com certa graça: - Ora, quem havia de ser? O Tomás das Quingostas (1808-1839) que veio do inferno com licença ilimitada e autorizado pelo chefe que o quis mostrar a quem nunca o conheceu, ou finge não o conhecer, por conveniência. E ei-lo, por cá anda, na mesma mesma faina (roubalheira), sem nenhuma vergonha, gozando todas as regalias de um autêntico rato que nada escapa à sua característica de roedor, tudo lhe servindo para aguçar os dentes que as labaredas do remorso ainda não conseguiram destruir-lhe. Vou, portanto, esconjurá-lo a ver se não volta cá mais. Amen. Esta resposta causou certa hilaridade e parece que não foi tomada a sério pelos que dela tiveram conhecimento. É de crer.»          

 


LIMA, António (*). Filho de Faustino Pedroso de Lima (de Famalicão?) e de Custódia Carvalho Duarte (**), natural de Santo André, Vila Nova de Poiares, moradora que foi em Vale de Cambra. Nasceu na freguesia de Casal de Ermio, Lousã, a 18/3/1909. // Passou por Paredes de Coura, onde conheceu a futura esposa, e veio para Melgaço na década de vinte, a vender azeite com um burro. Foi Belchior Herculano da Rocha, melgacense, que o acompanhou nos primeiros tempos pelas freguesias do concelho, até ele adquirir conhecimento dos lugares e clientes. // O negócio corria-lhe bem, as vendas aumentavam, foi enriquecendo paulatinamente; abriu armazém de azeite na Rua Nova de Melo, Vila de Melgaço, em Novembro de 1929, onde se venderam depois outras mercadorias, tais como gorduras, vinhos, etc. // Comprou na Calçada uma boa casa, onde morou com a esposa e filhos. // Casara na Conservatória de Paredes de Coura em 1929 com Maria Noémia (***), filha de Alfredo José da Rocha e de Maria Isaura da Rocha, nascida em Paredes de Coura a 12/11/1909. // Na década de trinta, com a guerra civil de Espanha, as coisas melhoraram para o seu lado. // Em 1937 a “Companhia Portuguesa dos Petróleos Alantic” requereu licença para instalar um depósito subterrâneo de gasolina – 2000 L – com bomba auto medidora (…) na Rua Teófilo Braga, Vila de Melgaço, (…) no interior da parede do prédio habitado por António Pedroso de Lima. // Foi a partir daí que pôde instalar ao pé do armazém uma bomba de gasolina e lavagem de automóveis. // No Notícias de Melgaço n.º 375, de 7/11/1937, o professor Ribeiro da Silva dedicou uma gazetilha ao seu azeite de Tomar e Castelo Branco, e vinho dos Arcos. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 992, de 9/9/1951: «Ratoneiro. Da adega do nosso amigo senhor António Pedro de Lima, comerciante desta praça, foram furtados por meio de chave falsa seis ou sete presuntos. O larápio, porque o carrego era grande, foi-os deixando pelo caminho, e ali para os lados de Eiró, em um aqueduto que atravessa a estrada ultimamente feita para a quinta daquele nome, deixou ficar escondida parte da carga. Um cão, porém, farejou-a e alapardou-se com um dos presuntos furtados. Foi este novo polícia quem soltou o primeiro grito de alarme, o que levou os curiosos a revistarem o sítio, encontrando ainda dois outros, que já regressaram para casa do dono. Proezas destas são fáceis de fazer, mas quase sempre levam o seu autor a estagiar nas cadeias mais cedo ou mais tarde. Arrepie, pois, caminho o atrevido amigo do alheio, antes que se lhe quebre o cântaro no caminho.» // O senhor António Pedroso de Lima morreu no hospital de Viana do Castelo a 1/7/1973, com sessenta e cinco anos de idade, e foi sepultado no cemitério da Ordem Terceira, Viana. // A sua viúva finou-se na Calçada, Melgaço, a 17/6/1993, com 83 anos de idade, tendo sido sepultada em Viana, também no cemitério da Ordem Terceira. // Irmão de Sebastião Pedroso de Lima. (ver NM 306; NM 358; e VM 989). /// (*) Em Melgaço era conhecido por “Lima Azeiteiro”. /// (**) Essa senhora faleceu em Melgaço a 7/12/1941, com 72 anos de idade, viúva havia já 23 anos. /// (***) Sempre que ficava grávida, por volta dos oito meses ia ter a criança à terra do marido

// continua...



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