DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
Por Joaquim A. Rocha
// continuação…
ROUBOS
(1951) - Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 970, de
18/3/1951, escrito pelo correspondente de Penso: «… é de lastimar que este
período de silêncio fosse caracterizado por diversas roubalheiras que revelam
uma audácia e uma perversidade inqualificáveis. Ora vejamos: Ao senhor Joaquim
Maria da Rocha um atrevido gatuno roubou alguns cabaços de vinho tinto e
branco, penetrando na adega pelo telhado. Já não é a primeira vez que o senhor
JMR tem sido roubado e, talvez, pelo mesmo larápio, que deve conhecer bem os
cantinhos da adega e a fraqueza da vítima. // Ao senhor Aires Gonçalves
roubaram de uma latada um fio de arame com oitenta metros de comprimento. Soube
quem era e, compadecentemente, obrigou-o a repo-lo no seu lugar. Belo castigo!
// Ao senhor João Eugénio Lucena roubaram outro fio de arame, com quarenta metros
de extensão, não lhe sendo possível descobrir o autor da proeza, porque, se
isso consegue, ai dele! // O senhor José Carlos da Rocha, residente em Lisboa,
também foi roubado pela quadrilha. De uma latada que possui nos sucalcos
desapareceu-lhe, de um dia para o outro, um fio de arame de trinta metros de
comprimento. O caseiro, suspeitando que o fio devia ter sido utilizado nalguma
pesqueira, deu umas voltas pela margem do rio e lá foi encontrar uma pesqueira
chamada bugio. Perguntando [a alguém] se sabia quem fora o armador, respondeu
com certa graça: - Ora, quem havia de ser? O Tomás das Quingostas (1808-1839)
que veio do inferno com licença ilimitada e autorizado pelo chefe que o quis
mostrar a quem nunca o conheceu, ou finge não o conhecer, por conveniência. E
ei-lo, por cá anda, na mesma mesma faina (roubalheira), sem nenhuma vergonha,
gozando todas as regalias de um autêntico rato que nada escapa à sua
característica de roedor, tudo lhe servindo para aguçar os dentes que as
labaredas do remorso ainda não conseguiram destruir-lhe. Vou, portanto, esconjurá-lo
a ver se não volta cá mais. Amen. Esta resposta causou certa hilaridade e
parece que não foi tomada a sério pelos que dela tiveram conhecimento. É de
crer.»
LIMA, António (*). Filho de Faustino Pedroso de Lima (de Famalicão?) e de Custódia
Carvalho Duarte (**), natural de Santo André, Vila Nova de Poiares, moradora
que foi em Vale de Cambra. Nasceu na freguesia de Casal de Ermio, Lousã, a
18/3/1909. // Passou por Paredes de Coura, onde conheceu a futura esposa, e
veio para Melgaço na década de vinte, a vender azeite com um burro. Foi
Belchior Herculano da Rocha, melgacense, que o acompanhou nos primeiros tempos
pelas freguesias do concelho, até ele adquirir conhecimento dos lugares e
clientes. // O negócio corria-lhe bem, as vendas aumentavam, foi enriquecendo
paulatinamente; abriu armazém de azeite na Rua Nova de Melo, Vila de Melgaço,
em Novembro de 1929, onde se venderam depois outras mercadorias, tais como
gorduras, vinhos, etc. // Comprou na Calçada uma boa casa, onde morou com a esposa
e filhos. // Casara na Conservatória de Paredes de Coura em 1929 com Maria
Noémia (***), filha de Alfredo José da Rocha e de Maria Isaura da Rocha,
nascida em Paredes de Coura a 12/11/1909. // Na década de trinta, com a guerra
civil de Espanha, as coisas melhoraram para o seu lado. // Em 1937 a “Companhia
Portuguesa dos Petróleos Alantic” requereu licença para instalar um depósito
subterrâneo de gasolina – 2000 L – com bomba auto medidora (…) na Rua Teófilo
Braga, Vila de Melgaço, (…) no interior da parede do prédio habitado por
António Pedroso de Lima. // Foi a partir daí que pôde instalar ao pé do armazém
uma bomba de gasolina e lavagem de automóveis. // No Notícias de Melgaço n.º
375, de 7/11/1937, o professor Ribeiro da Silva dedicou uma gazetilha ao seu
azeite de Tomar e Castelo Branco, e vinho dos Arcos. // Lê-se no Notícias de
Melgaço n.º 992, de 9/9/1951: «Ratoneiro. Da adega do nosso amigo senhor António Pedro de
Lima, comerciante desta praça, foram furtados por meio de chave falsa seis ou
sete presuntos. O larápio, porque o carrego era grande, foi-os deixando pelo
caminho, e ali para os lados de Eiró, em um aqueduto que atravessa a estrada
ultimamente feita para a quinta daquele nome, deixou ficar escondida parte da
carga. Um cão, porém, farejou-a e alapardou-se com um dos presuntos furtados. Foi
este novo polícia quem soltou o primeiro grito de alarme, o que levou os
curiosos a revistarem o sítio, encontrando ainda dois outros, que já
regressaram para casa do dono. Proezas destas são fáceis de fazer, mas quase
sempre levam o seu autor a estagiar nas cadeias mais cedo ou mais tarde. Arrepie,
pois, caminho o atrevido amigo do alheio, antes que se lhe quebre o cântaro no
caminho.» // O senhor António Pedroso de Lima morreu no hospital de
Viana do Castelo a 1/7/1973, com sessenta e cinco anos de idade, e foi
sepultado no cemitério da Ordem Terceira, Viana. // A sua viúva finou-se na
Calçada, Melgaço, a 17/6/1993, com 83 anos de idade, tendo sido sepultada em
Viana, também no cemitério da Ordem Terceira. // Irmão de Sebastião Pedroso de
Lima. (ver NM 306; NM 358; e VM 989). /// (*) Em Melgaço era conhecido por “Lima Azeiteiro”. /// (**) Essa senhora
faleceu em Melgaço a 7/12/1941, com 72 anos de idade, viúva havia já 23 anos.
/// (***) Sempre que ficava grávida, por
volta dos oito meses ia ter a criança à terra do marido!
// continua...
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