DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
Por Joaquim A. Rocha
ZARAGATAS
Por incrível que isso nos pareça, enquanto existir a espécie humana no planeta há de haver sempre "porrada". Quem quiser consultar as enciclopédias, os livros sobre História, etc., lá encontrará as tremendas guerras, os conflitos regionais, as incompreensíveis rivalidades. As zaragatas locais eram quase sempre devidas a uma dose de loucura ou a excesso de álcool. Muitas vezes estas rixas nasciam dos ciúmes: os rapazes de uma freguesia não permitiam que os jovens de fora namorassem com as suas conterrâneas, queriam-nas todas para eles! Havia outros motivos, como por exemplo a distribuição da água para a rega. Pessoas incultas, sem quaisquer laivos de diplomacia, brigavam por tudo e por nada. Os séculos vão passando, a escolaridade tornou-se um bem geral, os analfabetos vão desaparecendo, mas a violência continua ativa, capaz de nos surpreender a cada momento.
(1933)
- ARAÚJO, Júlio. Filho de Fernando Pereira de Araújo, serralheiro, natural de
Monserrate, Viana do Castelo, e de Consuela Mendes, doméstica, de São Gregório,
Cristóval, Melgaço, moradores em São Gregório. Neto paterno de João Pereira de
Araújo, sapateiro, da freguesia de Santa Maria Maior, Viana do Castelo (e ali
residente), e de Rosa Antunes Cerqueira, doméstica, da Vila dos Arcos de
Valdevez (falecida em Agosto de 1891); neto materno de Vicente José Mendes e de
Maria Gonçalves, lavradores, de São Gregório, ele aqui residente e ela já
falecida por volta de 1900. Nasceu em casa dos pais a 24/9/1912. // Lê-se
no Notícias de Melgaço n.º 303, de 5/11/1933: «No dia 30 de Outubro responderam
em polícia correcional Júlio Mendes Pereira de Araújo e seu irmão António
Mendes Pereira de Araújo, de São Gregório, o primeiro por ofensas corporais e o
segundo por ofensas à moral pública, sendo condenado o Júlio em 150$00 de multa
e 100$00 de imposto de justiça e acréscimos legais, e o António em 96$00 de
multa e 100$00 de imposto de justiça e acréscimos legais. Foi defensor oficioso
o senhor Dr. José Joaquim de Abreu Junior.» // Casou com
Leonor, da Notária, Galiza. // Morreu a --/--/1964.
(1934) - GOMES, Augusto (Tringlês). Filho
de Justina das Dores Gomes, lavradeira, de Prado, onde morava. Neto materno de
Manuel Narciso Gomes, de Prado, e de Maria Josefa Martins, de Alveios, Tui.
Nasceu no lugar da Breia a 13/2/1885 e foi batizado a 24 desse mês e ano.
Padrinhos: a sua avó materna, viúva, e Aurélio Augusto Vaz, solteiro, empregado
do Juízo [de Direito] da comarca de Melgaço. // Casou com Carolina, filha de
António Augusto Gomes de Sousa e de Maria de Jesus Vaz. // Lê-se no Notícias de
Melgaço n.º 221, de 28/1/1934: «Pelas treze horas do dia 27 deste mês os sinos da igreja
da vizinha freguesia de Prado foram tocados a rebate, o que pôs em sobressalto
os habitantes desta vila. Dado o sinal de alarme saíram em direcção àquela
freguesia os nossos bombeiros voluntários, conduzindo o respectivo material,
por julgarem tratar-se de um incêndio. Ao chegarem, porém, ao lugar de Galvão
tiveram conhecimento de que se tratava de uma desordem e não de um incêndio,
pelo que recolheram ao seu quartel. Entretanto os sinos continuavam a tocar a
rebate, o que fez juntar naquela freguesia enorme quantidade de povo. No interesse
de informarmos os nossos leitores também ali fomos e pudemos colher as
seguintes informações: há pouco tempo um indivíduo do lugar de Virtelo, Cousso,
cujo nome não pudemos saber, vendera ao lavrador Augusto Gomes, o Tringlês, uma
vaca e uma toura pela quantia de 1.200$00. Passados dias o Tringlês quis
desfazer-se do negócio, entregando ao vendedor os animais, alegando que a toura
sofria de gota. O vendedor não se conformou, mas disse ao Tringlês que lhe
levasse a vaca e a toura a Virtelo. O Tringlês, por qualquer motivo, conservou
os animais à sua guarda até ao dia 27, [dia] em que apareceu em Prado o
vendedor, acompanhado por um seu vizinho, os quais procuraram convencer o
Tringlês a fazer-lhe entrega dos animais que lhe vendera. Este porém exigia que
lhe restituísse a quantia de 50$00 que tinha entregado de sinal. O vendedor
recusou-se à entrega do dinheiro, originando-se então o conflito. O Tringlês
recebeu diversas varadas pelo corpo e na cabeça, que o fizeram baquear por
terra. Aos gritos de socorro, acudiram os vizinhos, na sua maioria mulheres,
que foram impotentes para conter em respeito os agressores. Foi então que os
sinos da igreja foram tocados a rebate, juntando-se enorme multidão, que fazia
uma gritaria infernal. Os agressores, vendo a atitude agressiva do povo,
foram-se defendendo com o seu jogo de pau, fazendo a retirada desde o terreiro
de Prado, pela estrada de Paderne, até ao lugar do Barral, São Paio, onde foram
cercados pelo povo que os perseguia, entregando-se à prisão. Conduzidos para
esta vila, por entre as vaias e ameaças do povo que os acompanhava, foram
entregues à digna autoridade administrativa. O Tringlês, muito ferido, foi
pensado na farmácia Barreiros, desta vila, pelos distintos clínicos senhores
Dr.s Saavedra e Esteves, recolhendo mais tarde a sua casa em Prado. Para evitar
estes graves conflitos, e outros semelhantes, seria da maior conveniência que
as dignas autoridades deste concelho pedissem a criação de um posto da Guarda
Nacional Republicana nesta vila.» // Morreu a 28/10/1960.
*
(1934) - GONÇALVES, Cândido Augusto. Filho de
---------- Gonçalves e de --------------------------. Nasceu a --/--/1---. //
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 221, de 28/1/1934: «No dia 26 respondeu em
processo correcional, por ofensas corporais, Cândido Augusto Gonçalves, do
lugar de Quintas, Chaviães, ficando absolvido.» Fora seu defensor
oficioso, o Dr. José Joaquim de Abreu.
(1934) - FERNANDES, Abílio. Filho de Manuel Joaquim
Fernandes e de Maria Rosa Domingues. Nasceu em Alcobaça (Fiães ou Lamas de Mouro) a --/--/1897. // Casou na igreja de Prado a
7/10/1922 com Palmira de Jesus Bernardo. // Foi emigrante em Madrid e noutras
terras espanholas; depois estabeleceu-se no lugar da Corredoura com a
“Madrilena”. // Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 237, de 24/6/1934: «No dia 22, pelas
vinte e duas horas, foi agredido pela malta que costuma fazer arraial noturno
no lugar do Cruzeiro da Serra, Prado, Abílio Fernandes, mais conhecido pelo
Abílio Chancas, casado, proprietário, do lugar da Corredoura, da mesma
freguesia. O Abílio Fernandes regressava desta vila a casa quando ao passar
junto de um estabelecimento, onde costuma reunir-se a malta, foi insultado e
agredido. A malta perseguiu ainda o Abílio Fernandes pela estrada de Paderne, agredindo-o
de novo, mas aos gritos de socorro, soltados pela vítima e por alguns vizinhos
que presenciaram indignados a agressão, a malta deu às de Vila Diogo. Pouco
depois compareceu no local o regedor da freguesia, senhor António Soares, que
procurou avistar-se com o senhor administrador do concelho, a quem expôs as
proezas praticadas pela malta, prometendo aquela digna autoridade tomar as
devidas providências no sentido de terminarem os abusos e as desordens que
constantemente se dão naquele lugar.» // No final da sua vida sofreu
de doença mental.
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