MELGAÇO: PADRES, MONGES E FRADES
Por Joaquim A. Rocha
El-Rei Dom Manuel I |
// continuação...
A HISTÓRIA REPETE-SE
Nos
gloriosos tempos de el-rei D. Manuel I a riqueza e as fortunas particulares
regurgitavam em Portugal, porque os nossos navegadores descobriram novos
horizontes, e esses horizontes inundavam de oiro a pobre e humilde terra
portuguesa. // O português engrandeceu-se: um, em glória; outro em soberba; e
um e outro em vícios. O português, morigerado pela Igreja, começou a levantar a
cerviz, a sacudir o jugo da mesma Igreja, e a proclamar-se um português maior,
um português pensante. A ambição da riqueza começou a dominá-lo e Portugal era
pequeno para os portugueses. Esta ambição desmedida, junta aos sonhos dourados
do valor do eu de cada um, veio a produzir um caos desordenado que, sensível e
gradualmente, se foi sentindo na economia da sociedade portuguesa. // O
português, depois de estancada a corrente do oiro que das descobertas vinha
para Portugal, viu-se irremediavelmente perdido e aniquilado; porém, como a
Igreja era ouvida, as doutrinas de Cristo ainda frutificavam, o português
conformou-se com a vontade de Deus e encontrou a felicidade na sua terra e na
sua família, constituindo-a moralmente, educando-a religiosamente, rasgando o
seio da terra e procurando no seu seio os recursos necessários para a
conservação da sua vida material como preparação para a vida eterna e
espiritual. // Repete-se a história. Sim, repete-se a história portuguesa,
porque há bem poucos anos o Brasil despejava ouro em Portugal. Não havia
aldeia, por mais remota nas quebradas dos montes e nos mais profundos vales,
onde o dinheiro do Brasil não quebrasse penedos e construísse prédios. // O
português ensoberbeceu-se e quis proclamar-se independente de Deus e da sua
Igreja. O “brasileiro” boçal julgou-se um super-homem, despregou a doutrina que
em criança engoliu com o leite e viciou-se. Teve quem louvasse o seu
procedimento e julgou-se invencível e dominador dos seus pobres e humildes
conterrâneos. // Contudo, esta fonte, e com ela todas as outras, estancou, mas
como os vícios continuam, e com eles a desmoralização e a destruição da
sociedade, porque a palavra de Deus não é ouvida e a Igreja é desrespeitada, a
terra não produz, porque é suficientemente (*) remexida e a fome e a miséria
assolam a terra portuguesa. // Remédios: - haja mais amor ao torrão pátrio,
mais amor ao trabalho, mais dedicação à instrução, e sobretudo à educação, mais
respeito pelos direitos dos outros, mais consideração pelas autoridades, mais
respeito pelas leis, e principalmente menos vícios, menos soberba, menos
dedicação ao eu de cada um, e tudo se remediará num pequeno período de tempo.»
// Manolo. // Notícias de Melgaço n.º 174, de
27/11/1932. /// (*) Suponho que queria dizer exageradamente.
Comentário: este texto, escrito em 1932, deixa-nos a pensar. A sua atualidade é evidente. Os vícios, o desrespeito pelas leis e pelos costumes, continuam, infelizmente, vivos e atuantes. Talvez tenha aumentado o egoísmo. Quem possui um carro, por exemplo, julga-se dono da estrada, da rua, do passeio, de tudo! As polícias, sobretudo a PSP, já não dá conta de tanta falta, de tanto desprezo pela lei e pelos direitos dos outros. Costumam dizer: «não podemos estar em todo o lado ao mesmo tempo.» A chamada polícia municipal (fiscais da Câmara), nos concelhos onde existe, pouco fazem, apesar da sua boa vontade - talvez por serem poucos e mal preparados. As coisas pioraram com o aumento de bicicletas e trotinetes (!). Quanto a mim, devia-se criar em Portugal, país pequeno (de Melgaço a Portimão oitocentos quilómetros são), uma única polícia nacional, extinguindo a PSP, a GNR, etc., que seriam quase todos os seus elementos integrados na nova polícia. Seria composta por três ramos: aéreo, marítimo e terrestre. Essa polícia, bem remunerada, excelentemente preparada, teria todas as condições para se tornar respeitada e ativa. A Judiciária faria parte desta polícia nacional, mas especializada em crimes de grande envergadura, tais como crimes de morte, corrupção, etc. As chefias desta nova polícia eram detentoras de cursos de nível superior, e pós licenciatura em determinadas áreas. Os agentes teriam, pelo menos, o 12.º ano de escolaridade. Em princípio, nenhum militar de carreira poderia fazer parte desta polícia, pois a promiscuidade não é boa conselheira. «Cada macaco no seu galho». // Portugal, se quiser ser um país moderno, civilizado, tem de evoluir.
// continua...
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