OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de Os Lusíadas, de Camões)
Por Joaquim A. Rocha
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Tomam
a fortaleza de Safim,
À
cabeça Diogo de Azambuja…
Mas
que malta tão afoita e ruim
Que
faz que aquela boa gente fuja.
Roubaram
pimenta, ouro, marfim…
Eis
a bestial festa da maruja!
E
para que mais nada reste
Deixaram
lá escorbuto e peste.
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E
diziam-se eles homens cristãos,
Aquelas
verdadeiras feras à solta;
Os
olhos vítreos, sujas as mãos,
Sempre
em pé de guerra, em revolta.
Matavam
por prazer, os cidadãos
Daquelas
pobres terras ali à volta.
Não
tinham pena, dó, nem consciência,
Cultivavam
no lazer a violência.
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Ai
rei de Portugal e dos Algarves,
Senhor
da Guiné, daquém, dalém mar,
Ente
vaidoso, chefe dos alarves,
Perito
em mentiras, em intrujar;
Pede
perdão aos céus, não tardes,
Porque
o teu tempo está a terminar.
Entrega
a satanás a tua alma
Pra
ele te dar na morte paz e calma.
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Quantas
mulheres tornaste viúvas,
Quantos
seres roubaste à natureza,
Tuas
mãos rudes, vestidas de luvas,
Levaram
aos lares fome e tristeza;
Nas
praias vemos homens sem peúgas
Sustentando
os luxos da realeza.
Antes
que a revolta estale em seu peito
Urge
mudar a lei e o direito.
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Vamos
dar ao povo o que é do povo,
Esqueçamos
reis, príncipes, rainha,
Ofereça-se
ao pobre um mundo novo,
Arroz
de pato, canja de galinha,
Um
ordenado que seja o dobro
Dessa
insignificância mesquinha.
Pra
que o trabalhador seja feliz
Não
o obriguem a dobrar a cerviz.
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Mísera
terra, e míseros sóis,
Que
cobrem com seu manto essa gente;
Giram
na onda como girassóis,
A
nenhum deus do Olimpo são temente.
Alimentam-se
de ótimos rissóis,
São
donos da ilha e do continente.
Controlam
o tempo, a luz, a chuva,
Bebem
espumante da pura uva.
// continua...
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