sábado, 21 de janeiro de 2017

OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de Os Lusíadas, de Camões)
 
Por Joaquim A. Rocha








54

 

Tomam a fortaleza de Safim,

À cabeça Diogo de Azambuja…

Mas que malta tão afoita e ruim

Que faz que aquela boa gente fuja. 

Roubaram pimenta, ouro, marfim…

Eis a bestial festa da maruja!

E para que mais nada reste

Deixaram lá escorbuto e peste.

 

55

 

E diziam-se eles homens cristãos,

Aquelas verdadeiras feras à solta;

Os olhos vítreos, sujas as mãos,

Sempre em pé de guerra, em revolta.

Matavam por prazer, os cidadãos

Daquelas pobres terras ali à volta.

Não tinham pena, dó, nem consciência,

Cultivavam no lazer a violência.

 

56

 

Ai rei de Portugal e dos Algarves,

Senhor da Guiné, daquém, dalém mar,

Ente vaidoso, chefe dos alarves,

Perito em mentiras, em intrujar;

Pede perdão aos céus, não tardes,

Porque o teu tempo está a terminar.

Entrega a satanás a tua alma

Pra ele te dar na morte paz e calma.

 

57

 

Quantas mulheres tornaste viúvas,

Quantos seres roubaste à natureza,

Tuas mãos rudes, vestidas de luvas,

Levaram aos lares fome e tristeza;

Nas praias vemos homens sem peúgas

Sustentando os luxos da realeza.

Antes que a revolta estale em seu peito

Urge mudar a lei e o direito.

 

58

 

Vamos dar ao povo o que é do povo,

Esqueçamos reis, príncipes, rainha,

Ofereça-se ao pobre um mundo novo,

Arroz de pato, canja de galinha,

Um ordenado que seja o dobro

Dessa insignificância mesquinha.

Pra que o trabalhador seja feliz

Não o obriguem a dobrar a cerviz.

 

59

 

Mísera terra, e míseros sóis,

Que cobrem com seu manto essa gente;

Giram na onda como girassóis,

A nenhum deus do Olimpo são temente.

Alimentam-se de ótimos rissóis,

São donos da ilha e do continente.

Controlam o tempo, a luz, a chuva,

Bebem espumante da pura uva.
 
 
// continua...

Sem comentários:

Enviar um comentário