quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

DOMINGOS DA ROCHA - UMA VIDA ATRIBULADA

 
    Filho de Belchior Herculano da Rocha e de Maria Libânia Alves. Neto paterno de Gaspar de Brito e Rocha (*) e de Albina da Conceição Alves; neto materno de João António Alves e de Maria Teresa Lourenço. Nasceu na Rua Direita, Vila de Melgaço, a 6/7/1909, e foi batizado na igreja católica a 10 desse mês e ano. Padrinhos: José Pires Rodrigues, solteiro, trabalhador, e Amélia Rodrigues Vieita, solteira, trabalhadora. // Depois da escola primária empregou-se numa farmácia em Valença, mas foi sol de curta duração; voltou para a sua terra, onde aprendeu a arte de sapateiro com José de Brito, João Almeida (Cataluna), “Teixeira de Prado”… e, já mestre, montou oficina no Terreiro (Praça da República), ao lado da “Samaritana”. // O jornal “Melgacense” n.º 116, de 29/7/1928, fala-nos dele: «no passado dia 24 à noitinha foi vítima dum desastre Domingos da Rocha, filho do nosso amigo Sr. Melchior da Rocha, tendo-lhe rebentado na mão esquerda, quando se propunha acender uma bomba dum dos foguetes lançados por ocasião da festa do Sagrado Coração de Maria, e que tinha encontrado na rua Dr. António José de Almeida; ao pobre rapaz foi preciso amputar-lhe um dos dedos, ficando o resto da mão bastante ferida. O doente não inspira, porém, cuidados, sendo satisfatório o seu estado.» // Graças a esse pequeno defeito físico, livrou-se do serviço militar. // Casou a 16/8/1933 com Maria da Glória Gomes, natural de Queirão, Paderne, filha de Maria da Conceição Gomes (e, segundo consta, de Raul Gomes, nascido na freguesia de Paderne a 27/8/1894, o qual morreu em França, em combate, a 9/10/1917). // No dia 10/5/1934 ir-se-ia realizar a festa da Senhora da Orada; a comissão de festas era composta por Domingos da Rocha, Júlio César de Sousa, Flórido Augusto Esteves, e José Rodrigues (NM 230, de 22/4/1934). // Com a guerra civil espanhola (1936-1939) e a II Grande Guerra (1939-1945), as coisas complicaram-se, havia poucos clientes, a matéria-prima escasseava e tinha de ser paga a pronto, e por isso encerrou as portas em 1950 e mudou para o ramo dos comes e bebes. Tomou de trespasse a Adega Regional, que fora do seu sobrinho Henrique Fernandes, mas também aí tudo correu mal. A 4/2/1951 surge no “Notícias de Melgaço” o anúncio: «Por motivos imprevistos, trespassa-se a Adega Regional, sita num dos melhores locais desta Vila. Tratar com Domingos da Rocha.» Seguiram-se mais dois anúncios. Finalmente, no dito jornal, n.º 972 de 1/4/1951, alguém escreveu: «No passado dia 24 (de Março) reabriu ao público a Adega Regional que, mercê de uma grande transformação que a nova gerência lhe introduziu, fica sendo um dos melhores estabelecimentos do género que esta Vila possui. Com o maior conforto e higiene servem-se ali almoços e jantares a preços que, segundo nos consta, são bastante módicos. Esta casa modelar, para bem servir os seus clientes, tem sempre os melhores vinhos da região e o muito apreciado presunto de Melgaço…» Quem tomou conta da Adega foi uma filha de Jerónimo Rodrigues Rego (Cascalheiro), casada com António do Paço. // Assim, a 3/5/1952, Domingos da Rocha parte para Lisboa, tentando arranjar um emprego, por mais modesto que ele fosse, mas acabou por ir para Loures, onde continuou a trabalhar na sua antiga profissão, e noutros serviços mal remunerados e precários. Por fim, em 1957 é admitido como guarda do Museu de Arte Popular, então sob a alçada do SNI (Secretariado Nacional de Informação), onde, apesar do ordenado baixo, se foi aguentando. // Ficou viúvo a 24/11/1962. // Voltou a casar, a 19/6/1967, na igreja de Campolide, Lisboa, com Maria Eugénia da Conceição, viúva. // Logo a seguir à revolução dos cravos (25/4/1974), é promovido a 2.º oficial, categoria com que se aposentou, por limite de idade. // Morreu na sua casa de Campolide a 8/8/1999. Era domingo. O seu corpo está sepultado no cemitério de Benfica. // Foi pai de onze filhos – dois deles, Carlos e Luís, nasceram em Loures. // Apesar de só ter a 4.ª da instrução primária, ou 5.ª classe (admissão aos liceus), era um homem que gostava de ler; possuía alguma cultura, e tinha uma conversa bastante agradável; foi pena a vida ter-lhe pregado algumas partidas. /// (*) Gaspar de Brito e Rocha era solteiro, natural dos Arcos de Valdevez, responsável pela Alfândega em Melgaço, e gerou na sua empregada, Albina da Conceição Alves, melgacense, solteira, três crianças do sexo masculino: Baltazar, Belchior, e Gaspar, os quais foram autorizados a acrescentar ao seu nome o apelido «da Rocha».       

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