ESCRITOS SOBRE MELGAÇO
Por Joaquim A. Rocha
Fernando Augusto Alves (infelizmente já falecido), nascido na freguesia de Prado, concelho de Melgaço, emigrante no Rio de Janeiro, em A
Voz de Melgaço n.º 1010, de 1/7/1994, página oito, escreveu: «e Melgaço e o 25 de
Abril», de Joaquim A. Rocha, são raridades que merecem ser preservadas. Aos
três autores rendo as minhas homenagens e ao terceiro, Joaquim A. da Rocha, gostaria
de me dirigir. Não para corrigir nada, pois reconheço no mesmo uma cultura sem
reparos, mas apenas para dar com alguns adendos, que o mesmo certamente conhece
e com eles há-de concordar, mas para esclarecer algum leitor menos avisado.
Assim veremos que fala o nobre senhor:
1)
«O anterior regime caracterizava-se pelo seu
anti-democratismo, ambos os seus dirigentes máximos: professores Salazar e
Caetano, sobretudo o primeiro, tinham aversão à democracia e ao parlamentarismo…»
Adendo: será que a socialista Cuba e a comunista União Soviética foram primores
de democracia? Quando foram suas últimas eleições?
2)
«Não havia propriamente partidos políticos…»
Adendo: e na socialista Cuba e na comunista União Soviética?
3)
«Os sindicatos não tinham nenhuma capacidade
de reivindicar…»
Adendo: vale o adendo anterior.
4)
«Havia apenas dinheiro para fazer face às
despesas correntes…»
Adendo: vale o adendo anterior.
5)
«…
o presidente Salazar não era propriamente
um mãos-largas, e dava instruções aos ministros para poupar.»
Adendo:
segundo recentes notícias de jornais brasileiros, nem todos os presidentes
precisam agir assim. Alguns, mais liberais, teriam recebido verbas de um
ex-presidente e actual presidiário venezuelano. Caso a informação dos jornais
brasileiros esteja errada, peço maiores esclarecimentos para os divulgar aqui
no Rio de Janeiro, desfazendo esse lamentável equívoco.
6)
«Agora vou enumerar, não exaustivamente, as
obras que foram surgindo depois da revolução dos cravos.»
Adendo:
felizmente; como em quase tudo no mundo, nos últimos anos houve um progresso
maior que nos milénios anteriores, seja nas descobertas, no modo de vida, etc.;
como Melgaço está incluído no mundo, é natural que o tenha acompanhado.
7)
«O poeta Fernando Pessoa dizia num dos seus
poemas: … falta cumprir-se Portugal».
Adendo: uma frase separada do conjunto
da obra em que foi criada, não reflete perfeitamente o pensamento do autor. Tal
frase não se refere ao período salazarista como pode parecer, mas a um período
mais amplo, que vai da criação da nacionalidade até 1912 (quando surgiu em
Fernando Pessoa a inspiração para sua obra Mensagem, antes portanto do
Salazarismo, e que foi publicada somente em 1934). A frase faz parte do poema o
Infante que por sua vez é componente da obra Mensagem, de cunho altamente
patriótico qua realça vários Vultos da nossa história e sonha com o famoso
Quinto Império. O Quinto Império aparece nas profecias de Daniel, que
interpreta o sonho em que Nabucudonosor viu uma estátua gigantesca como sendo a
representação dos quatro grandes impérios conhecidos pela humanidade: Babilónia,
Pérsia, Grécia e Roma, aos quais se seguirá o quinto, o império de Cristo na
Terra. O padre Vieira vinculou esta profecia à de Gonçalo Anes Bandarra,
natural de Trancoso, concelho da Guarda, que constitui a origem do mito
sebastianista. Assim, o quinto império seria universal e português. Esse Quinto
Império seria o Portugal que falta cumprir-se.
Dados esses adendos à brilhante crónica de Joaquim A. Rocha, aproveito
para enviar-lhe meus cumprimentos e a certeza que encontrará em mim um sempre
aliado para defender as coisas de Portugal.
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