MELGAÇO E AS INVASÕES FRANCESAS
Por Augusto César Esteves
... (continuação - ver 30/6/2015)
Dos bancos da escola veio relacionado
com Freitas Machado e Alexandre Garcia, nascido em Oliveira do Hospital, no
termo de Ceia, que uma vez havia de ser o Juiz de Fora de Melgaço, para em
Melgaço ficar a dormir o sono eterno na igreja da Misericórdia, numa campa para
sempre assinalada pelo letreiro seguinte:
«Aqui jaz Alexandre Luiz Garcia, Juiz de
Fora em Melgaço. Este sepulcro lhe mandou fazer seu colega António de Castro
Sousa Menezes, Morgado de Galvão neste reino e de outros na Espanha,
descendente dos Castros de Melgaço, alcaides-mores de Melgaço. / Seja-te a
terra leve.»
Efectivamente, o Dr. António de Castro,
que em 1792 leu no Desembargo do Paço a sua lição e em 11/2/1795 foi despachado
Juiz de Fora da vila da Praia, na ilha Terceira, arquipélago dos Açores, mas
para onde só partiu em 12/11/1797, conhecia bem a sua ascendência. Ele tinha
ouvido ler, era já criança espigada, no seu solar, em longos serões de inverno,
os autos de justificação de nobreza requeridos em 1601 por um velho capitão-mor
de Melgaço, escudeiro de linhagem, quase no fim da vida eleito provedor da Santa
Casa, homem enérgico e atrevido, fundador de morgados, Lopo de Castro, o moço,
seu quinto avô paterno.
Depois, mais tarde, homem
já feito e com muitas luzes de direito, lera ele mesmo na letra encadeada dos
processos do século XVI o depoimento de «Estêvão
de Amorim, sargento-mor nesta Vila de Melgaço, e nela morador, testemunha a
quem ele, Juiz, deu juramento dos Santos Evangelhos que tomou sobre um livro
deles e perguntado sobre os costumes disse nada, e de idade de cinquenta e
quatro anos, pouco mais ou menos. Perguntado pelo conteúdo na petição do suplicante
disse ele, testemunha, que era verdade que o suplicante é morador na sua Quinta
e Morgado do Fecho, termo desta vila, o qual Lopo de Castro é capitão-mor desta
vila e sabe que o dito Lopo de Castro é filho legítimo de legítimo matrimónio
de Lopo de Castro, seu pai, e sabe que o pai do suplicante, Lopo de Castro, era
filho de António de Castro, avô do suplicante, todos moradores que foram na
Quinta do Fecho, onde ora vive o suplicante, e António de Castro, avô do
suplicante, era filho de Lopo de Castro, o velho, e sempre ele, testemunha,
ouviu dizer a seu pai, Álvaro Afonso de Amorim, que é falecido a vinte e cinco
anos de idade de cem anos, que este Lopo de Castro, bisavô do suplicante, era
irmão de Pêro de Castro, o velho, alcaide-mor que foi desta vila de Melgaço e
da vila de Castro Laboreiro, e assim da descendência pelo dito Pêro de Castro
sabe vir de antigos alcaides-mores desta vila, como foram Fernando de Castro, o
velho, e Pêro de Castro, e Fernão de Castro...»
E acabada a leitura deste
depoimento, virava depressa algumas folhas do processo para ler o testemunho de
D. Catarina Esteves, mulher do dito Estevão de Amorim: «...que indo desta
terra Pêro de Castro, alcaide-mor desta vila, para África na jornada de El-Rei
Dom Sebastião, deixou o carrego de capitão-mor e sargento-mor e alcaidarias-mores
a Belchior de Castro, tio do suplicante Lopo de Castro, o qual serviu os ditos
carregos até à hora de sua morte, até entregar esta vila a Sua Majestade, por
mandado do duque nosso Senhor, por ser o dito Belchior de Castro seu parente,
primos segundos, e do dito Pêro de Castro ficara um filho, Fernando de Castro,
que hoje serve nos ditos carregos e alcaide-mor desta vila e de Castro
Laboreiro e portais...»
Ora este Lopo de Castro,
capitão-mor e senhor da Quinta do Fecho, era o pai do fundador da Casa com
Torre de Galvão, Dom António Lobato de Castro e Sousa. O Dr. António de Castro
sabia isto, como sabia muitas outras coisas; porque, nos fins de 1793, quando
ainda estava na capital a fazer a aprendizagem da vida dos tribunais, recebeu
das mãos dum recoveiro um maço de papéis enviados de Melgaço. Essa papelada
fazia a história da Casa de Galvão e era capeada por uma procuração de seu pai,
passada em Melgaço em 2 de Setembro desse ano, dando-lhe os precisos poderes
para pedir a Sua Majestade o despacho dos serviços do pai de seu pai, Joaquim
António de Castro Sousa Teles e Menezes, do bisavô Diogo António Castro e Menezes,
e dos trisavós, paterno e materno, António de Castro Lobato e Matias de Sousa e
Castro. E com base nos documentos recebidos redigiu ele a petição para ser
presente a Sua Majestade.
De seu avô, Joaquim
António, familiar do Santo Ofício, contou como ele assentara praça em Lisboa e
como, muito antes de haver cadetes em Portugal, foi autorizado a instruir-se
praticamente nos serviços dos postos inferiores das milícias e, assim, veio
para Viana Foz do Lima como tenente da companhia de Ordenanças daquela vila e,
sobretudo, como na Guerra dos Sete Anos, no reinado de D. José, quando mandava
no país o senhor Marquês de Pombal, e o Conde de Ó Reilli sitiava Almeida, em
1762, num daqueles combates travados nas Beiras com as forças espanholas, ele
ficou mortalmente ferido e veio a acabar os seus dias na notável vila da
Covilhã, ficando a dormir o sono eterno no Convento de Santo António, longe dos
seus e da sua terra.
Do bisavô, Diogo António,
familiar do Santo Ofício e Cavaleiro da Ordem de Cristo, disse ter assentado
praça, como voluntário, em 1727, e logo no ano seguinte pelos irmãos da
Misericórdia ter sido eleito provedor da Santa Casa, levando-o a costumeira da
terra e o seu espírito religioso a pagar do bolso particular, nas festas da
quaresma daquele ano, os sermões dos Passos e os da Semana Santa.
Contou como fora levado a
fazer a justificação da sua nobreza e como, afinal, em Agosto de 1740, lhe fora
entregue a carta de brasão de armas: (continua)...
Sem comentários:
Enviar um comentário