GENTES DE MELGAÇO
(biografias)
Por Joaquim A. Rocha
Freguesia da Vila
DURÃES, António Augusto (Dr.) Filho do Dr. António Joaquim
Durães, de Paços, e de Beatriz Augusta Ribeiro Lima, proprietária, da
Vila. N.p. de João Manuel Durães e de Francisca Caetana Pires, de Sá, Paços,
proprietários; n.m. de Carlos João Ribeiro [Lima] e de Ludovina Rosa dos Santos
Lima, proprietários, da Vila. Nasceu no Campo da Feira de Fora às 13 horas de
24/7/1891, e foi batizado a 5 de Setembro desse ano. Padrinhos: avós maternos.
// Em 1908 concluiu os preparatórios num liceu do Porto (Jornal de Melgaço n.º 742). // A 18/7/1910, na Faculdade de Direito, fez ato das
instituições de direito romano e de português. // A 20/6/1912 fez exame, com
distinção, da 18.ª cadeira, medicina legal, e dias depois fez exame da 19.ª
cadeira, direito internacional, 5.º ano; em Julho desse ano fez exame da 15.ª
cadeira, 4.º ano, ficando distinto; também fez exame da 16.ª cadeira, 5.º ano,
sendo aprovado com 15 valores (Correio de Melgaço
n.º 8, de 28/7/1912),
e direito colonial, 13.ª cadeira, 4.º ano (Correio
de Melgaço n.º 10). // Formou-se
em Ciências Jurídicas, na Universidade de Coimbra, a 13/8/1912. // A seguir
abriu escritório em Melgaço, em cujo foro se estreou, a 12/11/1912, na defesa
do padre José Joaquim Pinheiro, ex-pároco da Vila, conseguindo a sua absolvição;
o padre fora acusado por Duarte de Magalhães de lhe ter recusado a comunhão na
quaresma de 1902, praticando, por conseguinte, abuso de funções religiosas; o
advogado de acusação era o Dr. Anselmo Ribeiro de Castro, advogado em Viana. //
Ainda nesse ano de 1912 foi nomeado subdelegado do Procurador da República em
Melgaço (Correio de Melgaço n.º 30, de
29/12/1912), mas
foi exonerado no ano seguinte (Correio de Melgaço
n.º 59, de 27/7/1913).
// Era um político ativo; aderira, depois de Outubro de 1910, ao Partido
Republicano Português, e foi chefe, em Melgaço, do Partido Democrático, cujo
líder nacional era o Dr. Afonso Costa. // Foi administrador do concelho,
tomando posse a 24/2/1913, e esteve nesse cargo até Maio do ano seguinte,
interessando-se pelo prolongamento do caminho-de-ferro até Melgaço, mas os seus
esforços foram em vão, devido em parte à falta de recursos financeiros por
parte do Estado. Também lutou pela estrada para Castro Laboreiro, mas o
dinheiro era escasso nessa altura. Quis para Melgaço a luz elétrica, água canalizada,
etc., mas nada disso se tornou realidade durante a sua permanência no concelho.
Foi ainda diretor do “Correio de Melgaço”, a partir do número 74, de 9/11/1913,
mas devido a divergências com Hermenegildo José Solheiro, proprietário do
jornal, afastou-se em 1915; o seu nome só aparece como diretor e editor até ao
número 142, de 23/3/1915; a partir daí já figura como editor Adriano Augusto da
Costa. // Suponho que em 1913 foi candidato a deputado pelo círculo de Melgaço
(ver Correio de Melgaço n.º 57, de
13/7/1913). // A
28/11/1913, pelas 18 horas e 30 minutos, na Portela de Chaviães, quando vinha
de moto de São Gregório para a Vila, foi de encontro a umas pedras que alguém,
propositadamente, colocara na estrada; ficou ferido numa perna e num braço, e a
motorizada ficou estragada (Correio de Melgaço
n.º 77, de 30/11/1913).
// Em sessão de 28/11/1913 o tribunal da Relação do Porto deu provimento ao agravo
interposto por ele, Dr. Durães, do despacho do juiz de direito de Melgaço, que
o inibia de advogar em polícia correcional de parte, com o fundamento de que
ele era administrador do concelho (CM 77). // Em 1914 solicitou uma licença à
Câmara Municipal para mandar fazer uns consertos no prédio que possuía na Rua
Teófilo Braga, Vila, e para colocar umas pedras nessa rua, de maneira a não
impedir o trânsito público, a qual lhe foi concedida (Correio de Melgaço n.º 97, de 26/4/1914). // Ainda em 1914 pediu a exoneração
de administrador do concelho, pedido que foi aceite pelo Governador Civil do
distrito (Correio de Melgaço n.º 98, de 3/5/1914). // Tudo lhe acontecia: pelas 23
horas de 2/5/1914, numa casa do lugar de Alcobaça, Lamas de Mouro, foi vítima
de um acidente; estava encostado a uma varanda e esta cedeu, caindo sobre um
pátio que se encontrava a quatro metros da varanda; foi socorrido por Jaime de
Almeida, Macker Pinto, e por várias pessoas ali presentes. Felizmente o
ferimento não era de grande gravidade; no dia seguinte regressou à Vila, onde
foi analisado pelo Dr. Vitoriano (Correio
de Melgaço n.º 99, de 10/5/1914).
// A 7/9/1914, ele e mais três amigos, estiveram em perigo de vida em Vila
Praia de Âncora, em virtude de se terem afastado da praia; foram socorridos
pelos pescadores e banheiros, que os salvaram com imensa dificuldade (Correio de Melgaço n.º 115, de 8/9/1914). // Por despacho de 19/8/1915 foi
nomeado notário interino da comarca de Monção, substituindo o Dr. Augusto César
Esteves, que, a seu pedido, fora exonerado. Em Outubro ou Novembro desse ano
foram-lhe concedidos trinta dias de licença (Correio
de Melgaço n.º 174, de 14/11/1915). // Em 1916 foi-lhe oferecido de novo o cargo de
administrador de Melgaço, mas recusou-o; aceitou, contudo, juntamente com o
major reformado, Albino Pinto da Cunha, do Convento, Carvalhiças, o lugar de
censor (Correio de Melgaço n.º 195, de
16/4/1916). Portugal entrara na I Guerra e a censura foi imposta aos
meios de comunicação social.
// Nesse ano de 1916 foi exonerado de notário interino em Monção (Correio de Melgaço n.º 199, de 14/5//1916). // Por causa de um artigo publicado
no “Jornal de Melgaço” andou à tareia no dia 13/7/1916, quinta-feira, com o Dr.
António Francisco de Sousa Araújo, no “Café Melgacense”; terminou com a intervenção
de alguns amigos (Correio de Melgaço n.º 207, de
16/7/1916). // Foi
advogado de defesa de “Amélia” Rodrigues, acusada de ofender a moral pública, a
qual respondeu a 17/7/1916, ficando absolvida (Correio
de Melgaço n.º 208, de 23/7/1916). // Casou na igreja de SMP em 1916 (o casamento civil decorrera na residência da noiva, Rua Mouzinho
de Albuquerque, Valença, a 20/2/1916) com Maria Esménia, de 18 anos de idade, de Santa Maria dos
Anjos, Valença, filha de Francisco Antunes da Silva Guimarães, secretário de
Finanças em São Tomé, e de Maria das Dores (ver
Correio de Melgaço n.º 184, de 30/1/1916). // Em 1917 concorreu às eleições para a Câmara Municipal,
numa lista presidida pelo padre Francisco Leandro Álvares de Magalhães. // Em
Janeiro de 1919 tomou posse do lugar de notário na Vila de Caminha (JM 1234).
Não sei quanto tempo ali permaneceu, pois o casal partiu para África, São Tomé,
nos primeiros dias de Agosto desse ano de 1919, onde ele iria desempenhar o cargo
de administrador de concelho (JM 1257, de
10/8/1919);
dali embarca para Angola, onde ele esteve ao serviço do general Norton de
Matos. // Em 1929 foi nomeado Governador de Benguela (NM 27, de 25/8/1929). // De vez em quando vinha à sua terra natal, mais a
mulher, pois filhos não tiveram, trazendo com eles os empregados, fixando-se um
deles, o Joaquim, em Melgaço, onde arranjou emprego e casou. // Passava, no
Cine Pelicano, alguns filmes que trazia de África, películas que mostravam a
vida quotidiana dos naturais de Angola. // Em Julho de 1934 esteve em Melgaço;
vinha de Benguela, onde era advogado; as coisas não lhe deviam estar a correr
muito bem, pois tencionava fixar residência em Viana do Castelo (NM 238, de 8/7/1934). Em Outubro desse ano já exercia advocacia nessa cidade (NM 248, de 14/10/1934). Não deve ter tido o êxito que esperava, pois voltou para
África. // Antes da independência da ex-colónia o casal regressa a Melgaço,
onde possuía uma boa casa na Rua do Rio do Porto e uma ótima Quinta. // Depois
de Abril de 1974 foi presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal
de Melgaço, até às eleições. Tomou posse a 4/11/1974. Foi a 1.ª Comissão Administrativa
a tomar posse no distrito de Viana. Colaboraram com ele: eng.º Artur José
Rodrigues, professor do ensino liceal em Monção (vogal); Albertino Domingues, comerciante (vogal);
António Fernandes, industrial (vogal); Manuel da Cruz Dias, ourives (vogal).
Era então Governador do distrito o capitão-tenente Joaquim Teixeira (NM 1843, de 10/11/1974). // Quis criar, na sua Quinta da Pigarra, uma Escola
Agrícola, mas o Ministério da Educação não se interessou pelo projeto; assim,
ofereceu-a aos BVM e à SCMM. // Em Maio de 1976 publicou um livro “ANGOLA E O GENERAL
NORTON DE MATOS
– Subsídios para a História e para uma Biografia. // O casal faleceu na Vila de
Melgaço: ela a 26/9/1974 e ele a 24/10/1976. // (Ler
a entrevista que ele concedeu ao Correio de Melgaço n.º 219, de 8/10/1916;
nessa altura encabeçava a lista do concelho que disputava a liderança da Câmara
Municipal de Melgaço, cujo presidente era João Pires Teixeira; ver também “A Voz
de Melgaço” n.º 379, de 15/6/1967).
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