sábado, 11 de junho de 2016

OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de «Os Lusíadas» de Camões)

Por Joaquim A. Rocha



35

Pra produzir açúcar, engenhos mil,
De África levaram os escravos;
Gente da Europa foi para o Brasil
Em busca de ouro, rosas e cravos.
De todo o lado, jovem, ou senil,
Queria pertencer ao grupo dos nababos.
Por fim, a descoberta da borracha,
Criou mais fortunas e nova taxa.

36

Pelo sertão entraram garimpeiros,
Famintos de vis metais preciosos;
Malta sem trabalho, aventureiros,
Todos eles rudes, gananciosos.
Vendiam a alma por trinta dinheiros,
Terríveis mentes, olhos capciosos.
Ai que corja aquela, tão matreira,
Mais feroz do que a fera verdadeira!

37

E para que serviu tanto metal,
Tanto ódio, tanta cruel matança?
Riqueza sem controlo é letal,
Rói em todos nós a doce esperança.
O bem sucumbe perante o mal,
A justiça falece na balança.
E não há céu que tal obra suporte,
Por isso, por sentença dá a morte.

38

Esqueçamos o gigante Brasil,
Percorramos cem terras, novos mundos,
Vamos em busca da pimenta e anil,
Doutros sonhos mais nobres e fecundos.
Comprar bugiganga por um ceitil,
Enfrentar aqueles rostos iracundos.
Mostrar-lhes que a nação portuguesa
É dura em guerra, meiga na justeza. 


Sem comentários:

Enviar um comentário