DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
Joaquim A. Rocha
CASA DO FECHO
Foi construída no lugar do Fecho, freguesia
de Rouças, concelho de Melgaço. Suponho
que o primeiro casal a residir ali foi Lopo Azevedo Silva Coutinho de Castro
[filho do alcaide-mor Lopo de Castro e de Joana Azevedo, esta filha do
alcaide-mor de Sintra – (século XV)], e sua mulher, Isabel Soares, da Casa de
Tangil, isto em princípios do século XVI. Mais tarde, Lopo de Castro, o Velho, filho do padre António de Castro (e de
Isabel Soares Teixeira?), herdou a Casa do Fecho e casou com Leonor Veloso
Bacelar Sousa Magalhães, filha de Gonçalo Esteves Lobato e de Guiomar Veloso
Bacelar, do lugar do Paço, freguesia de Alvaredo, concelho de Valadares. Um
filho deles, Lopo de Castro, o Moço, casado com Francisca Quevedo, capitão-mor,
provedor da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço entre 1600 e 1619, etc.,
instituiu o Morgadio do Fecho, a 7/6/1601, o mais antigo, segundo parece, dos
estabelecidos em Melgaço. // A pedra de armas, que fora laje sepulcral da
capela de São João Batista da mesma Casa, deve ter sido trabalhada no primeiro
quartel do século XVII, no tempo do capitão-mor Lopo de Castro, o Velho. // O
seu último proprietário foi o Dr. Pedro de Barbosa Falcão de Azevedo e Bourbon,
mais conhecido por conde de Azevedo. No Correio de Melgaço n.º 121, de
20/10/1914, diz-se que ele passou alguns dias na sua Casa do Fecho, a fim de
assistir à vindima; finda aquela, partiu para a sua Casa do Hospital. // Em o Jornal
de Melgaço n.º 1286, de 25/4/1920, pode ler-se: «Como este titular tem neste concelho alguns adeptos, julgamos conveniente
dar-lhes a notícia de que, tendo sido julgado com outros seus companheiros do
tempo da traulitânia, foi, como eles, condenado em quatro anos de prisão maior
celular, seguidos de oito de degredo, ou na alternativa de quinze de degredo em
possessão de 1.ª classe.» // Esse conde de Azevedo aderiu mais tarde ao
regime corporativista; a 3/11/1934, em Viana do Castelo, assistiu à tomada de
posse do novo Governador Civil, capitão Tomás Augusto Salgueiro Fragoso. // Faleceu
a 20/9/1962. // Tinha um filho, de seu nome Pedro, que num dia de Fevereiro de 1930,
a um domingo, conduzindo um automóvel da Valinha a Monção, teve um grave
acidente, quando se desviou de um suíno, que se atravessara na estrada; morreu
o motorista da família, que ia no banco de trás, e os outros – coronel Mousinho
de Albuquerque (intendente geral da polícia), e o secretário deste, alferes Valério, além de Luís
Ferreira, sofreram apenas ligeiros ferimentos. O dito Pedro apanhou apenas um
grande susto! (Esta notícia, escrita pelo correspondente
do Notícias de Melgaço no Peso, Sousa, tem a data de 28/2/1930, e foi publicada
no Notícias de Melgaço n.º 52, de 2/3/1930). //
Costuma dizer-se que um azar nunca vem só. Na noite de 17/2/1932, pelas vinte e
uma horas, manifestou-se um incêndio nesta antiga casa solarenga, pertencente
ainda ao dito conde, e habitada por rendeiros. Só meia hora depois é que os Bombeiros
Voluntários de Melgaço tiveram conhecimento do sinistro; seguiram com grande
dificuldade para o local, levando com eles as bombas de mão e as picotas, bem
como outro material necessário, sob o comando do primeiro patrão, José de
Brito. Logo depois compareceu o 1.º comandante, Herculano Pinheiro, estando já
estabelecido o ataque com uma agulheta pelo alferes Domingues Peres… Ao cabo de
duas horas principiou o rescaldo, que durou até à uma hora da madrugada! Aos
bombeiros se deveu não ter sido destruído todo o prédio, por terem localizado o
fogo e, com grande esforço, o terem extinguido. Alguns dos bombeiros procederam
aos salvados, tendo retirado os gados das cortes, as pipas de vinho, mobílias e
outros objetos, correndo sérios riscos. // O ataque foi feito pelo 1.º andar e pelo
telhado para o que foi necessário a montagem de escadas. // Ficaram quase
destruídos três compartimentos do prédio, calculando-se os prejuízos de oito a dez
contos de réis! E se os bombeiros não tivessem chegado a tempo, nada escaparia,
porque o fogo lavrou com tal intensidade que era impossível dominá-lo sem a sua
intervenção. // As labaredas presenciavam-se de grandes distâncias, era um
espectáculo dantesco, causando grande impressão. // No local estiveram para cima
de quatrocentas pessoas e uma parte delas ajudou naquilo que pôde, sobretudo no
abastecimento de água. O alferes Peres foi um verdadeiro herói, não se poupando
a sacrifícios, não obstante estar encharcado e com alguns ferimentos. // O primeiro
patrão, João Cândido da Rocha, ao combater o incêndio perdeu a carteira, que
continha dinheiro e vários documentos… // A 26/1/1936, pelas doze horas, no
tribunal judicial de Melgaço, procedeu-se à arrematação, em hasta pública, por
metade do seu valor, dos seguintes bens, pertencentes ao dito conde: 1) Quinta
do Fecho (casa de morada, capela, terra de cultivo, mato e arvoredo) sita na
freguesia de Rouças. Ia à praça por 28.380$00. 2) (…) O dinheiro obtido seria
para pagar a dívida à Caixa Geral de Depósitos, no valor de 469.054$04. Eram
citados Estêvão Maria de Barbosa Carneiro Queiroz de Azevedo Bourbon e sua esposa,
residentes em Viseu, a favor dos quais existia um registo provisório. // Arrematou
a dita Casa e Quinta do Fecho um senhor de Castro Laboreiro, Manuel Alves
(1904-1956). // Em 2016 morava lá ainda uma filha do comprador, professora
Noémia, viúva. // A capela, pertencente à Casa, foi demolida pelos novos donos,
mas a pedra de armas foi dali retirada e colocada na dita Casa. // (ver “Padre Júlio Apresenta Mário”, p.p. 118 a 120).
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