segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

POEMAS DO VENTO
 
Por Joaquim A. Rocha

 

 
 "ESGANARELO"

Andava o Esganarelo

Pelas ruas da cidade,

Vendendo fel e farelo,

E tretas da mocidade.

 

Oferecia-nos mentiras

Em troca de um sorriso;

Eram “pérolas”, “safiras”,

Para gente sem juízo.

 

Eu fingia acreditar,

Para vê-lo satisfeito;

Ei-lo então a inventar,

Sem pejo, menor respeito.

 

Eu ria-me, sem vontade,

Só para o ver divertido;

A mentira, falsidade,

Não entra no meu ouvido.

 

Dizia-lhe que eram horas

Da gente se retirar;

Enterrava-lhe as esporas

Para ele relinchar.

 

Mas o louco palrador

Queria era dar à língua;

Não ligava à minha dor,

À pobre da minha íngua.

 

Eu disse-lhe bruscamente:

Vá-se embora, não fale mais;

Intruja mil, toda a gente,

Até melros e pardais!

 

Vá pregar pra São Martinho,

Para Paços, Lamaçães;

Beba-lhe uns copos de vinho,

Com presunto de Fiães.

 

E não volte mais aqui,

Eu não o quero ver mais;

Minta à Rosa, à Lili,

À barcaça do arrais.

 

Minta a cem esgrouviados,

A mendigos, chimpanzés;

Percorra feiras de gados,

Mil bares e cabarés…

 

Minta ao velho Tringuelheta,

Que fez rir Juca e Gú;

À Maria Pandeireta,

Ao sogro de Belzebu;

 
 

Mas não me minta a mim,

Que não acredito em nada;

Já em bebé era assim:

Fugia da palhaçada.

 

Quando seus olhos de rato

Me virem ali na rua;

Não finja que é forte gato

Que eu sou refeição sua.

 

Por favor, deixe-me em paz,

Busque presas noutro lado;

Uma menina, rapaz,

Um palerma, estouvado. 

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