ESCRITOS SOBRE MELGAÇO
Por Joaquim A. Rocha
VI JOGOS FLORAIS
Antes de mais nada quero expressar a minha solidariedade com
a Ana Cristina (ver A Voz de Melgaço n.º 1013, de
1/9/1994, página 8). Ela
tem razão: há crianças com muito jeito para o desenho (e para outras artes) e
por vezes surpreendem-nos com a sua maturidade artística. O júri provavelmente
esqueceu esse pormenor e fez um juizo precipitado – errou! Enfim, falhas que
terão de ser corrigidas no futuro. Não partilho com ela a ideia de supostos «resultados pré-fabricados». Isso, não!
Os prémios são tão insignificantes, os premiados tão secundarizados, que não
justifica esse acto vil. A corrupção existe, ninguém o pode negar, mas não
nestas coisas: seria simplesmente absurdo!
Falemos de outros
assuntos: da feira do livro, por exemplo. Das duas, uma: ou o vereador da
cultura nunca assistiu a uma feira do livro, o que é gravíssimo para quem detém
esse pelouro, ou então está-nos a vender gato por lebre! A feira do livro de
que fala a Câmara Municipal resumiu-se a meia dúzia de livros expostos num
minúsculo pavilhão; qualquer feira do livro digna desse nome tem dezenas ou
mesmo centenas de pavilhões e milhares de obras! Que pobreza franciscana! Onde
se encontravam os livros para vender, a variedade, a qualidade, os preços
baixos?! Onde estavam as obras de autores melgacenses? Por que não se
reeditaram os cadernos esgotados: «Pontes Romanas e Românicas de Castro
Laboreiro»; «A Fortaleza de Melgaço: Pedras e Património»; «Manjares da Nossa
Terra»? Por que não se estimularam outras edições? Por que não se convidaram as
editoras a mostrar as suas novidades editoriais? Se querem dignificar o nome
das festas terão de fazer melhor, de abandonar o envergonhado amadorismo.
Tal como tinha
prometido, vai iniciar-se neste número do jornal a publicação dos textos
premiados (poesia e prosa). Quanto ao desenho e fotografia, esperemos que um
dia a Câmara publique em livro esses trabalhos.
A Nau Melgaço
Melgaço é verde nau fora do mar.
Talvez por ter a serra como lastro!
Por bojo tem, de pedra, um velho castro,
E tem por vela um céu azul sem par!
Na proa, a Inês Negra, em quebra-mar;
A torre, tão altaneira, é o seu mastro;
Tomou por seu farol divino astro
E fez do Minho o cais para atracar…
A bordo, a Liberdade é capitão;
No próprio povo tem a guarnição
Que faz vogar a nau no seu espaço…
Das glórias do passado herdou o rumo,
E voga para o Futuro com aprumo,
Mostrando eterno orgulho em ser
MELGAÇO!
(Raul Coentro – 1.º prémio)
*
Viagens
anuais de e para Melgaço
Sonhei com
Melgaço a chamar-me de todos os seus recantos, desde o vento fresco e húmido do
Gerês, à brisa, às vezes morna, de Espanha, ao espaço muito antigo do castelo,
fortaleza árabe, de ilustre história, mandado povoar pelo rei conquistador, que
depois lhe deu foral e o elevou a concelho. Todos nós, com certeza, atendemos a
este chamamento, não só da vila, como das dezoito freguesias do concelho, ao
amarmos pedra a pedra, cantinho a cantinho, a nossa terra, lá no alto, onde
Portugal começou há cerca de dois mil anos (*). E pronto, lá vou. Inicio, pela
décima vez, a viagem a recordar pinheiros verdes, carvalhos, castanheiros,
latadas de vinhas, igrejas e capelas, ermidas e campos. E assim vou bebendo …
M.ª Julieta Silva (2.º prémio)
Nota: o texto continua, mas devido à
sua narrativa não estar enquadrada num perfil de coerência e de interesse literário
ficcional, achei melhor ficar por ali, retê-lo, dando ao leitor a possibilidade
de imaginar o resto.
/// (*) É óbvio
que a afirmação está errada, pois o país chamado Portugal nasceu do condado
portucalense no século XII. Melgaço, sim, terá mais de dois mil anos; de acordo
com a tese que eu defendo, teriam sido os fenícios que criaram esta povoação,
cujo nome deriva certamente do deus dos fenícios, conhecido por Melkart, que
esse povo antigo adorava.
Artigo publicado em A Voz de
Melgaço n.º 1015, de 1/10/1994.
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