quarta-feira, 30 de novembro de 2016

POEMAS DO VENTO
 
Por Joaquim A. Rocha



A GERINGONÇA

 

Lembra-me a torre de Pisa

Inclinada, a vergar;

O bacalhau à Narcisa,

Servido no alto mar.

 

Não ganhou as eleições,

O nauta que deu à costa;

Trazia lama na roupa,

As botas cheias de bosta.

 

Ninguém nele apostava,

Nem os companheiros do jogo;

Mas o homem acreditava

Que o canhão fazia fogo.

 

Disparou contra a direita,

A esquerda aplaudiu;

A margem era estreita,

Mesmo assim não desistiu.

 

Pôs-se à frente do partido,

À cabeça do governo;

Ficou forte, destemido,

Enfrentou céu e inferno.

 

Chamaram-lhe geringonça

À coisa que ele formou;

Pesava menos que a onça,

Mas nem o vento a levou.

 

Passou um ano a tremer,

Cai não cai, mas não caiu;

Apesar dela gemer,

A coitada resistiu.

 

Vai passar mais um anito,

Ou vinte, até centénio;

Este luso é um grito,

É português, é um génio.

 

É um verdadeiro artista,

Aplaudido de pé;

Inspirou já um fadista,

De seu nome Chico Zé.

 

Ele ama a coisa pública,

Faz tudo prà melhorar;

Quer ser chefe da república,

Todos nele vão votar.

 

Ele engonça, desengonça,

Anda prà frente e pra trás;

E assim vai geringonça

Nas mãos deste capataz.

 

Um dia dá ao artelho,

Foge prò médio oriente;

Leva com ele o coelho,

A geringonça da gente.

 

Deixa este povo a chorar,

Perdidinho de saudades;

O país vai soçobrar,

Estilhaços pelo ar

Já se veem pelas herdades.

 

Talvez Dom Sebastião,

Volte do seu cativeiro;

Traga de novo a ilusão

A este povo fagueiro.

 

 

Novembro/2016

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