POEMAS DO VENTO
Por Joaquim A. Rocha
A GERINGONÇA
Lembra-me a torre de Pisa
Inclinada, a vergar;
O bacalhau à Narcisa,
Servido no alto mar.
Não ganhou as eleições,
O nauta que deu à costa;
Trazia lama na roupa,
As botas cheias de bosta.
Ninguém nele apostava,
Nem os companheiros do jogo;
Mas o homem acreditava
Que o canhão fazia fogo.
Disparou contra a direita,
A esquerda aplaudiu;
A margem era estreita,
Mesmo assim não desistiu.
Pôs-se à frente do partido,
À cabeça do governo;
Ficou forte, destemido,
Enfrentou céu e inferno.
Chamaram-lhe geringonça
À coisa que ele formou;
Pesava menos que a onça,
Mas nem o vento a levou.
Passou um ano a tremer,
Cai não cai, mas não caiu;
Apesar dela gemer,
A coitada resistiu.
Vai passar mais um anito,
Ou vinte, até centénio;
Este luso é um grito,
É português, é um génio.
É um verdadeiro artista,
Aplaudido de pé;
Inspirou já um fadista,
De seu nome Chico Zé.
Ele ama a coisa pública,
Faz tudo prà melhorar;
Quer ser chefe da república,
Todos nele vão votar.
Ele engonça, desengonça,
Anda prà frente e pra trás;
E assim vai geringonça
Nas mãos deste capataz.
Um dia dá ao artelho,
Foge prò médio oriente;
Leva com ele o coelho,
A geringonça da gente.
Deixa este povo a chorar,
Perdidinho de saudades;
O país vai soçobrar,
Estilhaços pelo ar
Já se veem pelas herdades.
Talvez Dom Sebastião,
Volte do seu cativeiro;
Traga de novo a ilusão
A este povo fagueiro.
Novembro/2016
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