POEMAS DO VENTO
Por Joaquim A. Rocha
O BURRO DO MAJOR
O tio Zé do “Tringuelheto”,
Analfabeto de nascença,
Aprendeu a ler num folheto
Editado pela Presença.
Era um homem genial,
Mais douto do que Ulisses;
Assombrava Portugal
Com as suas mui burrices.
Varria as ruas da Vila
Moía grão no moinho
Comia caldo de grila
E batatas com toucinho
O inocente rapazinho
Alcunhado de major
Pensava ser espertinho
Em Melgaço era o maior
Certo dia o tio José
Prometeu-lhe um burrito
Ia comprá-lo a Loulé
A casa dum ciganito.
O pobre do miudinho
Acreditou piamente
Deu-lhe um garrafão de vinho
E pevide de semente.
Arranjou longa cordita
Para transportar a besta
Juntava muita palhita
Numa espécie de cesta.
Todos os dias visitava
O tio José da vassoura
Nas suas fracas mãos levava
Dois nabos e uma cenoura.
- «Tio José, dê-me o
burro,
Já estou farto de esperar.»
- «Eu dou-te mas é um murro,
Já me estás a chatear!»
- «O senhor é
mentiroso,
Prometeu-me em altas vozes.»
- «Não quero ver-te queixoso,
Vou-te dar um quebra-nozes.»
- «Eu quero o que prometeu,
Um asno grande e bonito.»
- «Ai menino, dou-lhe o céu,
Em troca do animalzito.
- Saiba que o desgraçado
Empanturrou-se de carquejas,
Estava o céu nublado,
Confundiu-as com cerejas!»
- «Ai que burro mais burrinho,
Vou ter que andar a pé;
Quem me manda ser parvinho,
Acreditar no tio Zé!»
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