terça-feira, 22 de novembro de 2016

POEMAS DO VENTO
 
Por Joaquim A. Rocha




O BURRO DO MAJOR

 
 

O tio Zé do “Tringuelheto”,

Analfabeto de nascença,

Aprendeu a ler num folheto

Editado pela Presença.

 
Era um homem genial,

Mais douto do que Ulisses;

Assombrava Portugal

Com as suas mui burrices.

 
Varria as ruas da Vila

Moía grão no moinho

Comia caldo de grila

E batatas com toucinho
 

O inocente rapazinho

Alcunhado de major

Pensava ser espertinho

Em Melgaço era o maior

 
Certo dia o tio José

Prometeu-lhe um burrito

Ia comprá-lo a Loulé

A casa dum ciganito.

 
O pobre do miudinho

Acreditou piamente

Deu-lhe um garrafão de vinho

E pevide de semente.

 
Arranjou longa cordita

Para transportar a besta

Juntava muita palhita

Numa espécie de cesta.

 
Todos os dias visitava

O tio José da vassoura

Nas suas fracas mãos levava

Dois nabos e uma cenoura.
 

- «Tio José, dê-me o burro,

Já estou farto de esperar.»

- «Eu dou-te mas é um murro,

Já me estás a chatear!»
 

- «O senhor é mentiroso,

Prometeu-me em altas vozes.»

- «Não quero ver-te queixoso,

Vou-te dar um quebra-nozes.»

 
- «Eu quero o que prometeu,

Um asno grande e bonito.»

- «Ai menino, dou-lhe o céu,

Em troca do animalzito.

 
- Saiba que o desgraçado

Empanturrou-se de carquejas,

Estava o céu nublado,

Confundiu-as com cerejas!»

 
- «Ai que burro mais burrinho,

Vou ter que andar a pé;

Quem me manda ser parvinho,

Acreditar no tio Zé!»

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