DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
Concebido e organizado por Joaquim A. Rocha
cartas de um castrejo
21.ª - «Senhor
Redactor: aproxima-se a festa da Rainha
Santa, a incomparável Esposa que, como medianeira providencial, nunca deixou
que o rei Lavrador terçasse armas com o filho ou com o irmão (segundo rezam os
meus alfarrábios). (…). Pois nós já cá temos romeiros para a nossa festa de
Santa Isabel; e, entre eles, um muito engraçado e muito para reparar. Fala com
dificuldade mas lê e escreve a seu modo… Diz vir aqui, ora como governador,
administrador, juiz, ou como mestre-escola. Lá na sua terra dizem-lhe que será
eleito (ou foi) Presidente da República, que será presidente do ministério,
enfim, as coisas mais mirabolantes que um cérebro já de si enfraquecido pode
conceber como verdadeiras. Logo que percebemos o estado mental do homem, chegamos
à conclusão de que havia sido enviado por alguém a fim de nos servir de mestre
e aos nossos filhos por, decerto, em cartas consecutivas para o “Correio”
havermos pugnado pela divulgação da instrução desta freguesia. Não, meninos,
não. Nós temos como lema, neste vale de lágrimas, o culto do belo, inseparável
do útil. Queremos, e obteremos, quando os negócios da instrução não andem à
matroca, as escolas que idealizamos com o material de ensino indispensável.
Teremos tudo. Mas o “Tato de Paradela” deixou-nos em brasa, porque ele,
creia-o, apresenta-se bem e quase o podíamos, de começo, tomar a sério nas suas
extravagantes aspirações. Tentamos colher-lhe a freguesia, mas… dissimulado,
não a confessou. Será de Paradela de Soajo, de Penso, de Barbeita? Não sabemos.
O que, porém, nós podemos afirmar é que o homenzinho tem mais juízo do que os
que lhe meteram carochas na cabeça. Queremos escolas e não mentecaptos e…
demais a mais… “tatos”. Castro Laboreiro, 28/6/1916.»
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