JEAN LOUP PASSEK
Jean-Loup Passek morreu no dia 4 de Dezembro de 2016, com 80 anos de idade. Nascera em Boulogne-sur-Seine, a 29 de Julho de 1936. // Era crítico de cinema, foi diretor editorial do «Dictionnaire Larousse du Cinéma», conselheiro para o cinema do «Centre Georges Pompidou», fundador e diretor do «Festival de La Rochelle», e também coordenador da «Caméra d'Or», do festival de Cannes. Enfim, um homem dedicado ao cinema desde jovem, uma paixão que durou uma vida. // A sua ligação a Melgaço já vinha desde a década de 70 do século XX, quando filmava, nos arredores de Paris, um documentário sobre a imigração; nessa altura entrou em contacto com vários membros da comunidade portuguesa, entre os quais se encontravam dois melgacenses, naturais da freguesia de Paços. A amizade nasceu, cresceu, e Jean-Loup quis conhecer a terra dos novos amigos. Veio a Melgaço e ficou fascinado: as paisagens, o rio Minho, as freguesias quase medievais, a zona histórica da sede do concelho, a simpatia dos naturais, a comida, sobretudo o presunto de Castro Laboreiro, e de outras freguesias do concelho, o nosso extraordinário vinho verde, conquistaram-no. Melgaço era outro mundo, tão diferente da França desenvolvida, cosmopolita. Visitou algumas freguesias da montanha, como Fiães, Lamas do Mouro, e outras, e seus olhos não queriam acreditar naquilo que viam: ele imaginava-se no século XII ou XIII, na idade média, mulheres a transportar carvão em burros, as camionetas do Artur Teixeira, autênticas peças de museu, as feiras semanais. Disse aos amigos de Paços: «eu quero fazer alguma coisa para ajudar ao desenvolvimento de Melgaço.» E fez. Trouxe para a nossa terra um espólio que permitiu a criação do Museu de Cinema de Melgaço. Transferiu para Portugal tudo que pôde: inúmeros objetos, testemunhos, documentos, raridades da sétima arte, aparelhos do período do chamado pré-cinema, mais de cem mil fotografias, milhares de cartazes, livros, etc.
E não satisfeito com tudo isso, comprou as ruínas do Cine-Pelicano, e ofereceu-as à Câmara Municipal de Melgaço para aí se construir a Casa do Cinema, onde se exibirão imensos filmes.
Em Setembro de 2016 foi distinguido com a medalha de mérito cultural, na Cinemateca Portuguesa, a qual lhe foi entregue pelo Secretário de Estado da Cultura, Dr. Miguel Honrado.
O prémio principal do Festival Internacional de Documentário de Melgaço Filmes do Homem tem o seu nome.
Eu nunca falei com ele, e tenho imensa pena, mas escrevi-lhe um dia uma carta a solicitar-lhe que se interessasse pelo filme «Serra Brava», inspirado no romance do nosso conterrâneo Miguel Ângelo Barros Ferreira (Melgaço, 1906; Brasil, 1996), cujo título é «Maria dos Tojos». Este filme, esquecido durante décadas, bastante danificado, foi finalmente recuperado pelos técnicos da Cinemateca Portuguesa, embora não cem por cento, como nós o desejávamos.
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