terça-feira, 26 de julho de 2016

POEMAS DO VENTO
 
Por Joaquim A. Rocha


 
A NOITE
 

Uma noite nesta cidade

- igual a outras!

Sempre igual na verdade.

Sempre igual: nada muda!

Ao descer sobre a cidade

(a noite)

O crime desce à rua

e a mulher (que a ela pertence)

acorda: é manhã para ela!

Espreita à janela

e vê o princípio do seu dia:

a noite!

Vagueia pela rua

ou tem pousada certa

 onde o noctívago a encontra.

Um, outro, ainda outro,

desfilam em sua vida incerta.

A moral é algo que para si não conta.

Os homens da lei patrulham

- mas nada vêem!

A miséria escondida

à noite aparece: roubos, assassínios…

Tudo acontece – de mal - à noite!

Noite perversa

que tudo cobres

com teu manto escuro.

A tua alma denegrida

faz a muitos negra a vida.

Filhos sem pai, elos sem ligação.

Não tens coração, ó noite?!

Lembra-te que tuas filhas

já tiveram almas sãs

que tu lhes roubaste

e nem com elas choraste

essa perda irreparável.

Eu sei que também tu – miserável!

não tens a alma pura

nunca tiveste ternura

nunca tiveste um amigo

que te livrasse da desventura.

Os poetas em ti se inspiraram,

suas lágrimas choraram os enamorados.

Mas ninguém em ti reparou.

Ninguém ouviu teus soluços.

A descrença então de ti se apoderou.

E a tua cólera, a tua amargura,

despeja-las sobre as tuas

vítimas indefesas.

Malditas sejas, ó noite,

que da sociedade és o açoite,

a miséria em ti se alberga!

O criminoso em ti se apoia,

as frágeis filhas se perdem.

As tuas lágrimas, se as chorares,

não compadecem.

Não mereces perdão

és falsa e daninha

és vil e mesquinha

mereces a morte.

Essa será sempre a sorte

de quem como tu alma boa corrompe.

A manhã irrompe. Morre a noite.
 
                                          Voltará?!


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