GENTES DE MELGAÇO
(Parada do Monte)
Por Joaquim A. Rocha
DOMINGUES,
Justino (Padre). Filho de Manuel José Domingues e de Luísa Afonso, lavradores,
residentes no lugar do Coto do Paço. Neto paterno de Manuel José Domingues e de
Joaquina Domingues; neto materno de Francisco Afonso e de Margarida Domingues.
Nasceu no lugar de Lagarteira, freguesia de Parada do Monte, a 5/6/1912. // Seus
pais matricularam-no na escola primária, onde fez a quarta classe, e aos 13
anos de idade ingressa na vida eclesiástica. // Frequentou o Seminário de Nossa
Senhora da Conceição de Braga desde Outubro de 1925; depois passou para o de São
Bernabé e Seminário Conciliar de Braga. Em 1935 (Notícias de Melgaço
n.º 276, de 30/6/1935)
fez exame do terceiro ano de Teologia, ordenando-se sacerdote a 11/7/1936, no dito
Seminário Conciliar, Rua de Santa Margarida, Braga, tendo ali sido conhecido
por «Santo Atanásio do século XX» (*)
// Cantou missa nova na igreja de São Mamede de Parada do Monte a 19/7/1936,
ficando na sua freguesia natal alguns meses como vigário substituto. // A
seguir foi colocado provisoriamente na freguesia de Rouças, no mesmo concelho
de Melgaço, a fim de ajudar o arcipreste na preparação das crianças para a
comunhão, sendo logo depois nomeado pároco de Santa Maria de Miranda, Arcos de
Valdevez, exercendo também a profissão de professor do ensino primário (religião e moral); tomou posse a 25/10/1936. // A
15/8/1944 é colocado na Vila de Melgaço a fim de substituir o padre António de
Jesus Rodrigues, que fora transferido para as freguesias de Badim e Ceivães. //
A 8/12/1957 acumulou com a freguesia de Prado. // Pouco depois de chegar a
Melgaço mandou reconstruir a residência paroquial, que fora destruída por um
incêndio anos antes, e ali se instalou com a sua irmã Maria, mais conhecida por
Mariquinhas, e a sobrinha Pureza, ambas solteiras. // Mandou cobrir com telhado
novo a igreja, construiu a capela do Sagrado Coração de Jesus, refez de novo a
capela-mor, forrou a igreja e a sua sacristia… // Na década de sessenta cometeu
um erro tremendo ao anunciar, na igreja de Rouças (salvo erro), que José Albano de Melo, natural do
lugar de Cavaleiros, alferes em Angola, tinha morrido em combate na guerra, o
que era mentira; tinha sido outro indivíduo com um nome parecido. A mãe do
jovem, presente na igreja, ia morrendo. Apesar de lhe dizerem que tinha sido
engano, ela só descansou quando, tempos depois, teve o filho a seu lado. // Granjeou
alguma consideração nas hierarquias e entre seus pares (não pelo seu físico,
cerca de metro e meio de altura e cinquenta quilos de peso), mas sim pela sua dedicação à igreja
católica; graças a essa disponibilidade, a essa entrega sem limites, no dia 15/10/1969
toma posse de arcipreste de Melgaço. // Logo que arranjou dinheiro, e talvez
para chamar a atenção dos fiéis, manda colocar na torre da igreja matriz um
relógio barulhento, que não deixava dormir ninguém em redor, num tempo em que
toda a gente usava relógio de pulso e em que os telemóveis já eram conhecidos
por esse mundo fora. // Devido à idade avançada, foi substituído em 1987 pelo
padre Manuel Lourenço. // Também dizia missa na igreja da Santa Casa da Misericórdia
de Melgaço e na igreja do convento das Carvalhiças, mandada construir outrora
pelos franciscanos. // Além da sua atividade como sacerdote e arcipreste do
concelho, era pároco da legião portuguesa em Melgaço, usando a farda com orgulho,
assimilando e divulgando toda a propaganda do regime corporativista, do qual
era um fervoroso colaborador. Na igreja, e na catequese, antes do 25 de Abril, nunca
perdia uma oportunidade para lembrar aos melgacenses que Salazar era o chefe e
que o seu regime era o melhor do mundo. Apesar disso, ou esquecendo isso, o
regime político saído do 25/4/1974, deu-lhe o lugar de professor de religião e
moral no Ciclo Preparatório, auferindo um ótimo ordenado; além disso, o
presidente da Câmara Municipal de Melgaço, ou o presidente da Assembleia
Municipal – sob proposta do provedor da Santa Casa de Misericórdia de Melgaço, na
altura Eurico José Rodrigues, natural de Braga e a residir em Messegães, Monção
– atribuiu a uma das ruas antigas da Vila (rua de Baixo) o seu nome! E o povo melgacense, que
aplaudira até à exaustão o 25 de Abril, ficou apático, indiferente, a essa
tremenda injustiça. Enfim, política. // Morou até à sua aposentação na
residência paroquial; depois de aposentado habitou numa casa perto do Solar do
Alvarinho, mudando mais tarde para uma casa perto da igreja da Santa Casa, pois
era pároco dessa instituição, e ali dizia missa todos os dias. // Morreu senil,
a 9/5/2004. // (Sobre ele ver Notícias de Melgaço n.º 276; Notícias de Melgaço
n.º 330, de 25/10/1936; Notícias de Melgaço n.º 1744; A Voz de Melgaço n.º 968,
de 1/8/1992; A Voz de Melgaço n.º 970, de 15/9/1992; e A Voz de Melgaço n.º
1168, de 1/10/2001).
(*) «Atanásio, o Grande. Um dos quatro
doutores da igreja grega. Terá nascido na Alexandria cerca do fim do século
III. Diácono do patriarca de Alexandria, acompanhou-o ao concílio de Niceia,
onde desempenhou papel relevante contra o arianismo. Em 328 foi eleito
patriarca de Alexandria; os arianos forçaram-no a exilar-se em Tréveris (335-337),
em Roma (339-346) e depois no deserto egípcio (356-361). Depois das
perseguições de Constâncio, teve de sofrer as dos imperadores Juliano, o
apóstata, e Valente. Todos os seus escritos têm por objecto a controvérsia
ariana (Discursos contra os Arianos, Discurso sobre a Encarnação). Morreu em
372. Iconograficamente é representado como bispo grego, sem mitra, e tem como
atributos uma barca, na qual terá escapado sobre o Nilo a perseguidores, e um
triângulo luminoso, alusão à SS. Trindade que defendeu contra os arianos.»
Comemora-se a 2 de Maio. (Dicionário de Santos, de Jorge Campos Tavares. Lello
& Irmão, Editores).
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