LINA - FILHA DE PÃ
romance
Por Joaquim A. Rocha
12.º Capítulo
Voltemos a Lamas Santas. A Lina já
mantinha uma certa intimidade com o patrão. Um dia dirigiu-se à loja, onde a
patroa estava, e disse-lhe:
- Dona Emilinha,
precisava da tarde de hoje, preciso de ir fazer umas compras à Vila, e ao mesmo
tempo visitar umas pessoas amigas. Por volta das seis e meia, sete horas, já
devo estar de volta.
- Vai Lina, vai,
mas antes deixa tudo adiantado para a ceia.
- Está tudo em
ordem, não se preocupe.
Saiu. Andou um bom bocado a pé, em direção
à Vila, e eis que de repente surge o carro do patrão. Este abriu a porta da viatura
e ela entrou apressadamente.
- Espero que
ninguém te tenha visto entrar. Não gostaria que a Emília soubesse.
- A tua mulher
não conta. Aposto que já não fazem nada!
Ele riu-se, e comentou:
- Aquilo parece
mais um elefante, ou um hipopótamo, do que um ser humano! Em outra encarnação
deve ter sido um mastodonte ou um dinossáurio!
Ela, malevolamente, acrescentou:
- Qualquer dia a
cama vai-se abaixo com o seu peso!
Riram-se com gosto. Aquelas piadas idiotas
e grosseiras davam-lhe imenso gozo. Sentiam-se à vontade um com o outro – eram
da mesma laia.
- Foi bom ter-te
conhecido – diz ela, olhando-o com
ternura. – Estavas destinado para mim, ainda há quem diga que o destino não
existe!
- Nunca imaginei
vir um dia a amar-te; falaram-me muito de ti, das tuas experiências
extravagantes, mas daí a poder chamar-te minha ia um rio do tamanho do
Amazonas.
- Agora estamos
juntos e nunca mais nos separaremos. Nem a tua esposa será obstáculo a esse
desígnio. Eu quero-te só para mim e serei, a partir de agora, somente tua. Se
necessário for, se alguém se meter entre nós dois, tomaremos medidas severas –
até sou capaz de…!
Ele não a deixou acabar a frase:
- Cruzes,
canhoto! Vira para lá essa boca, meu amorzinho, não me fales em mortes; até
parece que queres acabar os teus dias numa prisão! O que fizeste até agora
foram quase brincadeiras, algumas das quais até dão para rir; porém, matar,
isso é mais grave. E já agora: eliminar quem, e por quê?!
- Isso logo se
há-de ver.
- Eu, no Brasil, vi-me
obrigado a recorrer, apenas uma única vez, a um assassino. Eliminar aquela
criatura era uma questão de vida ou de morte para mim. Estava sendo perseguido por
causa de uns negócios que eu fizera. Prejudiquei um poderoso negociante de café
e borracha, embora não tivesse sido essa a minha intenção, mas pronto: prejudiquei,
e o indivíduo queria matar-me por causa disso. Era ele ou eu.
- Se calhar
estavas a estragar-lhe o negócio; considerou-te um rival.
- Eu, à beira
dele, financeiramente era um anão; estava ainda no princípio.
- Os obstáculos
devem ser retirados do nosso caminho; tu fizeste apenas o que tinhas a fazer.
Nós somos os mais importantes: os outros são sempre os adversários, até prova
em contrário.
- Pensamos da
mesma maneira, somos da mesma estirpe, mas uma coisa te peço: não me metas em
sarilhos. Por causa deles vim eu embora do Brasil.
Os encontros amorosos continuaram por
longo tempo. A Lina foi tomando conta da casa, até já parecia ela a senhora! Dona
Emília começou a desconfiar da empregada. «O
que se passaria para ela agir assim?» Movia-se à vontade, falava com um
atrevimento pouco usual em subordinados, olhava para o seu Filipe com
descaramento. Um dia, quando estava só com o marido, perguntou-lhe:
- Senhor meu: você
sabe o que se passa com a nossa empregada? Ela está saída da casca, parece ser
ela a dona da vivenda!
- É impressão sua;
ela foi ganhando confiança connosco, nós demos azo a isso. Eu sou de opinião
que ela se está portando bem. Deixe passar mais algum tempo e você vai ver que
muda de opinião.
- Que Deus o
ouça!
Num dos próximos encontros entre Filipe e Lina,
ele avisa-a:
- Estás a ir
longe de mais: a Emília está desconfiando da tua atitude. Precisas de ter mais
cuidado, senão ela põe-te na rua. Eu nada poderia fazer, pois se fizesse algo,
isso me denunciaria.
- Tens razão: a
tua mulher começa a ser um obstáculo na nossa vida. É necessário cortar o mal
pela raiz!
- Tens já alguma
ideia como fazê-lo? Olha: não contes comigo, para nada. Eu não o impeço, estou
farto de ter na minha cama aquele rinoceronte, ressonando como um porco, ocupando
quase oitenta por cento do espaço, mas também não quero ser acusado de cumplicidade
contigo. Faz o que tens a fazer, mas sem a minha ajuda.
- Deixa o caso
comigo – alguma coisa de jeito hei de descortinar. Porém, uma certeza eu te posso
garantir: – ninguém suspeitará de mim ou de ti. Será uma morte natural, sem intervenção
humana. – E deu uma gargalhada
estridente. – A tua mulher é doente, não é? Pois então?!
Durante dias meditou na maneira de
destruir a vida da rival. Finalmente descobriu: o chá. «Como não pensara nisso mais cedo? Pois claro, o chá. Primeiro tinha de
reconquistar a sua confiança; depois convencê-la-ia a tomar uma chávena desse
chá milagroso, que lhe devolveria a sua antiga forma física e com ela a plena
saúde.»
Se assim o pensou, melhor o executou. Em um
dia de feira foi à Vila e na farmácia, ou drogaria, comprou um pó para eliminar
ratos. Era considerado normal as pessoas da aldeia irem à botica comprar esse
produto, pois esses malditos bichos infiltravam-se em toda a parte, roendo tudo
o que encontrassem a dente – eram considerados uma autêntica praga. Quando
regressou, dirigiu-se à patroa, com uma voz meiga, pouco habitual nela:
- Dona Emilinha:
trago para si uma prenda.
- Cruzes,
abrenúncio! O que será? Vinda de você só se for uma prenda envenenada!
- Credo, minha
senhora! Eu só desejo o seu bem e do seu marido. Nunca me passaria pela cabeça
fazer-vos mal.
- Então o que é? Diz
lá!
- Um chá.
Trago-lhe um chá que tem feito milagres. Toda a gente o gaba. Elimina as
gorduras do corpo, tornando as pessoas mais magras, mais elegantes, e com mais
saúde.
- Isso é verdade?
Bem precisava de uma coisa assim. Nem faz ideia o que é ser gorda: quase que
nem posso andar. Nem sequer tenho coragem para me colocar em cima da balança.
Noventa? Cem quilos? E de vez em quando sinto-me mal disposta. Os médicos nunca
descobriram remédio para este mal – pedem-me apenas para ter cuidado com a
alimentação e que faça um pouco de exercício; mas que exercício, se eu mal me
posso mexer?
- Vamos iniciar
mesmo hoje a receita: quando se deitar levo-lhe uma chávena de chá à cama. A
Dona Emilinha toma-o depois das refeições: depressa se curará, vai ver.
E assim aconteceu: todos os dias, sem
falhar, a infame criatura fervia a água para o chá, punha lá dentro umas folhas
de hortelã, um bocadinho de pó de ratos, e levava a chávena à patroa:
- Beba Dona
Emilinha, beba; isto vai-lhe fazer muito bem!
- Deus lhe pague
minha filha, foste um anjo que apareceu nesta casa; e andava eu desconfiada de você.
Que ingrata eu fui!
- Deixe lá, Dona
Emilinha, apercebeu-se que estava enganada e isso é que conta – o resto é para
esquecer.
O chá de facto começou a surtir efeito: a paciente
cada dia que passava se sentia mais fraca. Certa manhã pediu ao marido:
- Filipe: vá à
Vila e traga-me um médico; sinto-me fraquíssima, sem vontade de nada, com o
coração a bater cada vez com menos intensidade. Por este andar não durarei muito
tempo. Me faz esse favor.
- Com certeza;
vou já a correr, mas não pense em desgraças, ainda vais viver muitos anos. E o
chá que a criada trouxe – lhe tem feito bem?
- Fez-me perder
uns quilos, isso é verdade, mas parece que fiquei pior do que estava antes de o
tomar.
- Eu vou então à
Vila e trago de lá o clínico.
Partiu no seu carro, apreensivo. Sabia o
que estava a acontecer, mas agora não podia voltar atrás, recuar um passo que
fosse. Gostava cada vez mais da amante, nunca tivera uma mulher como aquela:
proporcionava-lhe todos os prazeres do mundo – sentia-se realizado como macho.
A Emília pertencia já ao passado: fora bonita, bem proporcionada de corpo, boa
conversadora, capaz de um ou outro excesso, mas punha limites em tudo – quando
chegava a certo ponto estacava! A Lina não: «para ela não existem fronteiras» - pensou. «É capaz do impensável para tornar feliz o seu homem!» Pelo caminho
foi meditando: «Trouxe-a do Brasil e
agora vou ajudar a matá-la! Isto é cruel, mas necessário. Não posso continuar a
dormir com aquele corpanzil gordo, seboso, deformado, a cheirar a suor. A Lina
sabe o que está a fazer. Deixa andar.» // Dirigiu-se ao consultório do
médico e disse-lhe:
- Senhor Doutor:
a minha mulher queixa-se muito de dores no estômago, diz que está muito fraca,
que o coração está decidido a parar. Pode ir vê-la? Eu levo-o e traga-o no meu
carro.
- Está bem, vamos
então ver a doentinha.
Aquele médico já exercia clínica em Melcarte,
havia mais de trinta anos. Mal acabara o Curso abrira consultório na Vila, freguesia
onde nascera. Conhecia praticamente toda a gente do concelho. Aos pobres não
cobrava um tostão, mas tinham de ajudá-lo nas vindimas, gratuitamente, e quando
matavam o porquito traziam as partes melhores para o Senhor Doutor Altino. Com
ele vivia a sua governanta, mulher bonita e elegante, especialista em coscuvilhice
e fumeiro. Com a carne oferecida ao médico ela fazia uns salpicões excelentes!
De vez, em quando, aparecia um presunto e uns garrafões de vinho: «do especial, para o Senhor Doutor.»
Chegaram ao seu destino. Logo que entrou em casa o comerciante encaminhou
o médico para o quarto de Emília.
- Então como se
sente a nossa doentinha?
Nem sequer esperou pela resposta. Viu-lhe
os olhos, vidrados, apalpou os pulsos, mediu a temperatura. Torceu o nariz. O
caso era mais grave do que esperava. Aquela mulher tinha os dias contados. O
coração já praticamente não batia. Os olhos estavam mortiços; a cor do rosto
era a de um cadáver.
- Por que não me
chamou mais cedo?! A sua esposa está muito mal, pouco mais tempo tem de vida. E
o pior é que nós em Melcarte não possuímos condições para a curar; teria de ir
para a cidade, para um grande Hospital – Porto ou Lisboa; mas mesmo assim não
sei se aguentaria a viagem. Vou-lhe aplicar uma injeção e passar-lhe uma
receita para o Filipe ir à farmácia aviá-la; mas, de qualquer modo, penso que
já é tarde, muito tarde!
O marido da doente sentia-se encurralado: tinha
pena da esposa, no fundo, bem lá no fundo do seu coração ainda vibrava uma
espécie de sineta, lembrando-lhe os tempos bons, foram muitos anos de convívio,
mas por outro lado queria vê-la afastada de cena para ter a seu lado a mulher
que agora amava. Se o ser humano fosse mais terra a terra, mais pragmático,
teria chegado ao pé dela e dir-lhe-ia: «Já
não gosto de ti como gostava: o melhor é ires para a tua terra e deixares o
terreno livre para a minha nova paixão.» No entanto, ele sabia que se lhe
dissesse isso ela provocaria um escândalo do tamanho do icebergue que afundara
o Titanic. A Lina podia fugir para bem longe senão atirar-se-ia a ela como um
touro bravio. Ameaçaria suicidar-se, enfim tudo se desmoronaria sem benefício
para ninguém. Assim era melhor: ela partia sossegada, iriam ambos à campa
levar-lhe flores, mandaria rezar umas quantas missas por sua alma, daria umas
esmolas aos pobres da freguesia para que lessem uns responsos no dia de Fiéis
Defuntos… Ao fim, e ao cabo, um dia teria de morrer!
- Bem, tenho de
me ir embora – diz o clínico. Se não
se importa leva-me à Vila e já traz os medicamentos.
- Quanto lhe
devo, Senhor Doutor?
- São cem escudos.
O comerciante puxou pela carteira e
pagou-lhe. Antes de partir chamou a criada e pediu-lhe que olhasse pela patroa.
Depois os dois homens dirigiram-se para o carro e arrancaram a toda a
velocidade para a sede do concelho. Lá chegados, cada qual foi para seu lado,
despedindo-se com um aperto de mão. O médico, no entanto, ainda lhe disse, em
modos de recriminação:
- Faço votos para
que a sua esposa se salve, mas penso que as hipóteses são mínimas, a bem dizer
nulas; devia tê-la levado para um Hospital da cidade, não chegaria a este
estado.
- Sabe, Senhor
Doutor, a ignorância, os negócios… Para ela não ter tanto trabalho até meti em
casa uma empregada, mas mesmo assim adoeceu; ela há muito tempo que se
queixava. A vida é curta… Obrigado, Senhor Doutor.
Meteu-se no automóvel e não arrancou de imediato.
Pôs-se a pensar quando partira de Lamas Santas para o estrangeiro, as
adversidades, trabalhos escravos, os mil sacrifícios para juntar algum dinheiro.
Trouxera a mulher do Brasil um bocado contra a sua vontade, só viera por ele, e
agora era conivente na sua morte. «É
necessário eliminar os obstáculos», aconselhava a actual amante. Sim, se
queria estar à vontade com a Lina tinha de destruir todos os muros que lhe
surgissem pela frente; e um deles era a esposa.
A
vida ensinara-lhe a ser cruel; se não fosse a sua tenacidade teria perecido à
fome, à míngua. Quem lhe valera quando andava andrajoso? Quem o apoiara quando
nada tinha de seu? Será que Emília se apaixonaria por ele quando andava na selva
amazónica a trabalhar para os outros, à volta das seringueiras, por meia dúzia
de moedas? A barba por cortar, os dentes sujos, a cheirar a catinga?..
Não encontrou quaisquer respostas para
essas inquietantes perguntas. Se ao menos acreditasse num deus, nos santos, em
alguém a quem se agarrar, mas não: tinha perdido a fé há muito tempo, naquela
selva imensa. Onde estavam os deuses e os santos quando deles precisou?
Libertou-se, sim, desse inferno na Terra, mas graças ao seu esforço
sobrenatural. Saiu de lá outro: desumanizado, capaz de matar se isso lhe
trouxesse vantagens. Não sentia piedade por ninguém, nem por ele próprio.
Pôs o
motor a trabalhar e partiu. Não fazia ideia do que o aguardava em Lamas Santas.
Se o médico estivesse certo, Emília estava com os pés para a cova. Veneno mata
e ali não havia antídoto para evitar o seu efeito. Finalmente chegou. Lina
esperava-o.
- Penso que
devias chamar o sacerdote. A “Gorda” está prestes a expirar; poucas mais horas,
ou mesmo minutos, terá de vida. É melhor fazer tudo certinho, a fim de não
levantar suspeitas: veio o médico, agora vem o padre. Depois fazes o funeral, o
enterro, vertem-se duas lágrimas, e pronto: estaremos livres deste empecilho.
- Tens razão: o
caminho está quase liberto de escolhos para nós; vamos então dar este último
passo.
O pároco da freguesia já estava a cear.
Como se levantava todos os dias muito cedo, para dizer a missa da manhã, as
refeições tinham de estar de acordo com esses horários: almoço ao levantar, o
jantar ao meio dia, e a ceia às sete. Depois da ceia ia ler um bocado,
sobretudo a bíblia, o seu livro de cabeceira, no qual se inspirava para as suas
homilias, e por volta das dez da noite adormecia. Há anos que mantinha este
tipo de vida. Quando podia ia caçar: coelhos, lebres, perdizes, e até já
abatera um lobo e um javali! Nunca ia só, tinha os seus companheiros leais: o
Monteiro, o Alves, o Fernandes… todos bons atiradores. Também pescava,
sobretudo nos rios próximos – apreciava imenso as trutas daqueles pequenos rios,
afluentes do Minho. Podia haver miséria na freguesia, ou no concelho, mas a sua
casa estava a abarrotar de géneros, nada lhe faltava. Os crentes eram generosos
com o seu cura.
A
sua irmã ficara solteira, rejeitara um bom casamento para ficar como sua governanta.
Jamais se arrependera de ter tomado tal decisão. De vez, em quando, dizia ao irmão
eclesiástico: «Mano - tu vives para
Cristo e eu vivo para ti.» Ele preferiria ter uma governanta que não fosse
da família, uma rapariga agradável, mas acabara por se resignar. «Ao menos assim não peco; e o céu fica-me
mais perto.»
- Senhor padre
Ventura, está aí?
- Ó homem: até me
assustaste! Viste o demo? Estás a tremer.
- Nada disso, senhor
abade: a minha esposa, a Emília, está moribunda, a delirar; veio cá o médico e
o diagnóstico foi cruel: não há nada a fazer!
- Coitada! Ainda
é uma mulher relativamente nova, Deus podia-a manter cá mais uns anos, mas Ele
é que decide; nós temos apenas de obedecer-lhe. Vamos depressa administrar-lhe
a extrema-unção.
Passados uns escassos minutos estavam em
casa de Dona Emília. A criada estava na cozinha a preparar a ceia. Quando o
sacerdote entrou foi cumprimentá-lo, fingindo que estava triste. «São os desígnios de Deus, são os desígnios
de Deus» - dizia ele com aquela voz tumular, com as vestes a cheirar a cera
e a água benta. Entrou no quarto da enferma e verificou que a sua vida estava
por um ténue fio. Ministrou-lhe os sacramentos, tentou confessá-la, mas ela já
não reagia a quaisquer perguntas. Era praticamente cadáver. Depois do seu dever
cumprido despediu-se. Tinha de voltar à sua rotina.
- A bem dizer, já
está nas mãos do Senhor. A sua bondade e a sua virtude encaminhá-la-ão para o
céu. Pobre criatura.
Mal o padre saiu, a Lina agarrou-se ao
pescoço do amante e diz:
- Tudo perfeito!
Estamos livres que nem uma andorinha. Agora vamos comer.
A mesa já estava posta e uma garrafa de
bom vinho repousava em cima de um pequeno prato.
- Já estás a
comemorar? Olha que ela ainda não está no cemitério.
- Não falta
muito; amanhã isto está tudo resolvido. Estamos livres, livres…
Comeram
e beberam muito bem. Depois foram-se deitar juntos. Para quê estar com
preconceitos, ou temores, se D. Emilinha já estava nos braços da terrível parca?
Antes de adormecerem ela informou-o:
- Já deitei o
resto do pó fora, não é mais preciso. Foi pelo regato abaixo. Nada de provas.
- És exímia
naquilo que fazes. Ninguém consegue fazer igual ou melhor. Tive sorte em teres
surgido na minha vida. Era de uma mulher como tu, com a tua genialidade, que eu
precisava: inteligente, destemida, brilhante e cruel quando é necessário sê-lo.
Juntos, somos quase como uma fortaleza inexpugnável – ninguém nos vencerá!
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