CAPITÃO VALENTE - UMA POLÉMICA INTERMINÁVEL
Por Joaquim A. Rocha
CARVALHO,
Luís Augusto (Capitão).
Filho de Francisco José de Carvalho e de Antónia da Assunção de Neiva, moradores
no lugar da Carreira. Neto paterno de João Batista de Carvalho e de Rosa Joaquina
Gomes Veloso, da Vila, SMP; neto materno de Manuel Joaquim (ou Manuel Caetano) de Neiva
e de Lina (ou Luísa)
Teresa Fernandes, do lugar da Carreira, todos lavradores. Nasceu em São Paio a
29/8/1880 e foi batizado na igreja a 31 desse mês e ano. Padrinhos: António
Joaquim de Neiva e Genoveva Augusta de Neiva, proprietários, moradores em
Parada do Monte (acho que ele era professor). // Casou na Conservatória do Registo Civil de Melgaço a
21/3/1915 com Rita, de vinte e dois anos de idade, residente em Lisboa, filha
de Manuel José Esteves Codesso e de Maria Vaz, natural do lugar das Mós, freguesia
de Penso. // Partira para Moçambique em 1898 onde, a 15/6/1912, foi
promovido a 1.º sargento da Companhia de Saúde do Ultramar. // Em 1913 esteve
de visita à terra natal, de onde partiu para Moçambique (Correio de Melgaço n.º 76, de 23/11/1913). // Em 1918 foi promovido a capitão (*), sendo colocado em
Cabo Verde, onde esteve até 1925, data em que veio para o Hospital Colonial de
Lisboa. // Reformou-se em 1930.
Penso que foi com o artigo que segue,
publicado no Notícias de Melgaço n.º 148, de 1/5/1932, que o capitão Carvalho iniciou
a polémica com a Comissão Administrativa da Câmara, presidida pelo jovem Dr.
João de Barros Durães (1903-1981):
«PERGUNTAS: Ao Notícias de Melgaço, único órgão da imprensa local, nunca é dada
informação sobre quaisquer planos ou obras a executar, nem sobre o que ocorre
nestes momentos de crise e que o governo pretende debelar. Posto isto, fazemos
estas perguntas aos edis que estão à testa da Administração Municipal. 1.ª – Tendo sido anunciado que da verba
para Melhoramentos Rurais o governo destinara a este concelho mais de
38.000$00, esta importância ainda é gasta dentro deste ano económico e em quê? 2.ª – Quando se publica o relatório e
contas, anunciado por um senhor vereador por ocasião de uma festa e em que
dizia que o povo ficaria sabendo quanto custaram as ornamentações do salão
nobre dos Paços do Concelho? 3.ª –
Tendo sido anunciado há muito tempo o início da estrada para Castro Laboreiro
pode ser informado se o governo efectivamente está na [disposição] de imediatamente dar princípio a este
importante melhoramento concelhio e que na presente ocasião vinha debelar a
enorme crise que atravessam os tralhadores deste concelho, ou se o anúncio
seriam balões de ensaio das muitas promessas que se fazem em certas ocasiões? 4.ª – Quando se trata da arborização do
Largo Hermenegildo Solheiro? 5.ª – Em
que dia e horas se realizam as sessões da Comissão Administrativa? Agradecíamos
uma nota oficiosa sobre estas perguntas.» L. A. de Carvalho.
Artigo publicado no Notícias de Melgaço n.º 150, de 22/5/1932. «Respondendo: no dia 9 do corrente, pessoa que temos na conta de amiga, disse-nos que no jornal “A Voz”, de Lisboa, vinha uma notícia em que éramos criticado pelos escritos que fizemos neste modesto semanário, acerca de melhoramentos locais. Sentimo-nos envaidecido, intimamente, pois seria verdade que os nossos modestos artigos na imprensa local fossem criticados até nos grandes colossos das capitais? Uma vez no Notícias de Viana, depois no órgão católico “A Voz”, aumentado de que uma nossa modesta carta merecera a Fra Angélico, no Jornal de Notícias, largas referências e transcrição… // Julgáva-nos um Zé-Ninguém, e de repente vemos a nossa prosa jornalística, [falha] de tinta lustral, referenciada e criticada, não no modesto semanário local, mas sim nos grandes órgãos da imprensa… Custava-nos a acreditar no dito do amigo e pedismo-lhe que nos enviasse o exemplar onde vinha essa publicação. Chegou-nos. Pusemos três vezes as lunetas… Não havia dúvidas… Era “A Voz”, de Lisboa, de 12 de Abril – Melgaço, 8 – Pela Câmara. Lemos e ficamos com pena de não sabermos o [nome] do autor, para lhe agradecermos a crítica no jornal de maior assinatura em Portugal. Enfim, éramos alguém… pois até já chegavam à capital da Nação os ecos de um humilde rural lançados no modesto hebdomadário local. Não podíamos deixar de festejar esse acontecimento. Convidamos imediatamente um dos nossos amigos de Monção, e família, para um banquete em nossa casa. No dia 12, de manhã, ei-lo aí, vem de automóvel, e depois de lhe mostrarmos as nossas belezas até São Gregório, o castelo da Vila, com o seu belo panorama, os Paços do Concelho, com a sua lápide, onde nos curvamos, fomos para o banquete, onde confraternizamos o regozijo que nos ia na alma, até às dezassete horas. Bem entendido – que o banquete que demos foi à nossa custa… Agora permita o correspondente de “A Voz” que lhe façamos a devida referência ao seu artigo e lhe notemos alguns comentários. Sofremos um pouco de surdez, devido ao uso que há muitos anos fazemos do quinino e, portanto, a nossa pituitária também está um pouco combalida; mas, o que lhe garantimos, é que tomamos chá há muitos anos... Serra do Pomedelo, com carreira de aviões. – Procuramos onde aquela era situada, mas tanto no Larousse como no dicionário geográfico não encontramos, pois devia ser uma serra conhecida, visto ter carreira de aviões. Portanto, será alguma serra de recente descoberta… E quanto aos aviões, destes, de lagares de azeite e de outras coisas que não conhecemos, nem percebemos, não falamos. A Câmara faz consultas, não a ignorantes, mas sim a técnicos. Ora nós, como técnicos da Câmara, só conhecemos um; mas esse, em conversa, jacta-se de só possuir o exame da instrução primária! Portanto, a massa consciente dos munícipes que lhe agradeçam o epípeto de ignorantes. Guiado pelo seu calendário. Não percebemos nada, por não conhecermos. Conhecemos ano económico e ano civil… O 1.º finda a 30 de Junho e o 2.º a 31 de Dezembro. Se isto é assim, faltam: o relatório referente a 30/6/1931, ou então a 31/12/1931. Após o falecimento do malogrado presidente Solheiro, alguns vereadores disseram que iam publicar o referente a 30/6/1931, aproveitando os dados deixados pelo falecido. A 6/1/1932, na festa inaugural dos Paços do Concelho, e num jantar, um vereador disse que ia ser publicado o relatório, no qual constaria tudo: custo do edifício, mobiliário, e a ornamentação do salão nobre. Então os senhores vereadores prometem relatórios, fazem afirmações em banquetes festivos, e depois não cumprem? Ou será somente incontinência linguareira dos senhores edis..., sem responsabilidades no que dizem?! A propósito, vai uma informação, que nos foi dada, e que gostaríamos de ver confirmada ou desmentida. Pouco depois dos nossos artigos publicados em 6 de Março e e 3 de Abril, procurou-nos um indivíduo que nos disse que não falássemos mais em relatório, pois que não havia vontade de o publicar, visto que umas certas despesas que haviam sido feitas, não sabiam que rubrica lhes haviam de dar, para os munícipes não se espantarem… e que alguém alvitrara que lhe dessem a rubrica de “Despesas Diversas”, à semelhança do que constava no relatório de1929-1930. Será verdade? E o que nos deu a informação seria emissário, como o seria o nosso amigo que nos informou da crítica feita no órgão católico, por ser jornal que não lemos? Continuando: Injecções que nos prega o Seringador. Se somos seringador, a culpa é dos senhores doutores Rocha e Sá e Vitoriano de Castro. Estes distintos clínicos receitam - aos seus [doentes] - injecções e dizem-lhes que venham onde a nós para lhas darmos. Como é para bem do nosso semelhante, estamos sempre às ordens. Para fazer bem à humanidade, a nossa casa está sempre aberta. Palavras, leva-as o vento; obras é que ficam… Exacto. Efectivamente, falamos muito. Podemos faze-lo de cara descoberta. Também escrevemos, embora mal…, mas com sinceridade e hombridade de carácter. E de que falamos e escrevemos? Pedimos melhoramentos para a nossa terra. Pedimos beleza, harmonia de conjunto, e método de organização. Pedimos que tudo isso seja feito a contento da grande massa dos contribuintes e não só para interesse restrito ou de compadres. É para todos que pedimos, e como não pode ser acordo geral, democraticamente, o acordo da maioria. E tudo quanto pedimos é com voz de trovão ou assinamos o que escrevemos. Não temos poltronaria (no jornal está poltrania) de carácter, como chamava Camilo aos que escrevem e se escondem na sombra. Finalizando, diremos ao correspondente a razão por que invocamos e invocaremos o nome do saudoso Solheiro. Era homem de carácter, e pelos factos que vamos contar é que o apreciamos. Dias depois de aqui chegarmos fomos às Águas do Peso. Ali encontramos o Governador Civil e o hoje falecido Solheiro. Cumprimentamos, e como com ambos mantínhamos boas relações pessoais, juntando, às do 1.º, boa camaradagem que tínhamos tido, pedimos melhoramentos para a nossa terra e, ao 1.º, o seu valioso concurso de Magistrado Administrativo. Tempos depois, ainda não conhecíamos o meio, falando com alguém da conversa havida, foi-nos dito: “o Solheiro é impolítico; se tivesse larguezas políticas tinha nomeado o Dr. António Cândido Esteves, e com isto conquistava as amizades políticas deste e da sua família.” Mais adiante, em uma conversa, depreciava-se a acção da sua obra… Dizia-se: “fê-lo devido à situação excepcional, e mesmo assim deixa o povo carregado de impostos e de encargos [sobretudo de juros à CGD] por largos anos… etc.” Pois os autores dos ditos, eram, como presenciamos, alguns bajuladores e que diante dele curvavam a espinha. E ele sempre altivo, sorridente, deixava-os… e passava adiante, e não vendera o seu carácter por uma nomeação… Entendam-me bem. Por isso, ao ele passar à última jazida, nas nossas sinceras palavras, exteriorizamos o que nos ia na alma. Para o bem da nossa terra e do país em geral, haverá sempre este que assina.» L. A. de Carvalho.
Artigo publicado no Notícias de Melgaço n.º 150, de 22/5/1932. «Respondendo: no dia 9 do corrente, pessoa que temos na conta de amiga, disse-nos que no jornal “A Voz”, de Lisboa, vinha uma notícia em que éramos criticado pelos escritos que fizemos neste modesto semanário, acerca de melhoramentos locais. Sentimo-nos envaidecido, intimamente, pois seria verdade que os nossos modestos artigos na imprensa local fossem criticados até nos grandes colossos das capitais? Uma vez no Notícias de Viana, depois no órgão católico “A Voz”, aumentado de que uma nossa modesta carta merecera a Fra Angélico, no Jornal de Notícias, largas referências e transcrição… // Julgáva-nos um Zé-Ninguém, e de repente vemos a nossa prosa jornalística, [falha] de tinta lustral, referenciada e criticada, não no modesto semanário local, mas sim nos grandes órgãos da imprensa… Custava-nos a acreditar no dito do amigo e pedismo-lhe que nos enviasse o exemplar onde vinha essa publicação. Chegou-nos. Pusemos três vezes as lunetas… Não havia dúvidas… Era “A Voz”, de Lisboa, de 12 de Abril – Melgaço, 8 – Pela Câmara. Lemos e ficamos com pena de não sabermos o [nome] do autor, para lhe agradecermos a crítica no jornal de maior assinatura em Portugal. Enfim, éramos alguém… pois até já chegavam à capital da Nação os ecos de um humilde rural lançados no modesto hebdomadário local. Não podíamos deixar de festejar esse acontecimento. Convidamos imediatamente um dos nossos amigos de Monção, e família, para um banquete em nossa casa. No dia 12, de manhã, ei-lo aí, vem de automóvel, e depois de lhe mostrarmos as nossas belezas até São Gregório, o castelo da Vila, com o seu belo panorama, os Paços do Concelho, com a sua lápide, onde nos curvamos, fomos para o banquete, onde confraternizamos o regozijo que nos ia na alma, até às dezassete horas. Bem entendido – que o banquete que demos foi à nossa custa… Agora permita o correspondente de “A Voz” que lhe façamos a devida referência ao seu artigo e lhe notemos alguns comentários. Sofremos um pouco de surdez, devido ao uso que há muitos anos fazemos do quinino e, portanto, a nossa pituitária também está um pouco combalida; mas, o que lhe garantimos, é que tomamos chá há muitos anos... Serra do Pomedelo, com carreira de aviões. – Procuramos onde aquela era situada, mas tanto no Larousse como no dicionário geográfico não encontramos, pois devia ser uma serra conhecida, visto ter carreira de aviões. Portanto, será alguma serra de recente descoberta… E quanto aos aviões, destes, de lagares de azeite e de outras coisas que não conhecemos, nem percebemos, não falamos. A Câmara faz consultas, não a ignorantes, mas sim a técnicos. Ora nós, como técnicos da Câmara, só conhecemos um; mas esse, em conversa, jacta-se de só possuir o exame da instrução primária! Portanto, a massa consciente dos munícipes que lhe agradeçam o epípeto de ignorantes. Guiado pelo seu calendário. Não percebemos nada, por não conhecermos. Conhecemos ano económico e ano civil… O 1.º finda a 30 de Junho e o 2.º a 31 de Dezembro. Se isto é assim, faltam: o relatório referente a 30/6/1931, ou então a 31/12/1931. Após o falecimento do malogrado presidente Solheiro, alguns vereadores disseram que iam publicar o referente a 30/6/1931, aproveitando os dados deixados pelo falecido. A 6/1/1932, na festa inaugural dos Paços do Concelho, e num jantar, um vereador disse que ia ser publicado o relatório, no qual constaria tudo: custo do edifício, mobiliário, e a ornamentação do salão nobre. Então os senhores vereadores prometem relatórios, fazem afirmações em banquetes festivos, e depois não cumprem? Ou será somente incontinência linguareira dos senhores edis..., sem responsabilidades no que dizem?! A propósito, vai uma informação, que nos foi dada, e que gostaríamos de ver confirmada ou desmentida. Pouco depois dos nossos artigos publicados em 6 de Março e e 3 de Abril, procurou-nos um indivíduo que nos disse que não falássemos mais em relatório, pois que não havia vontade de o publicar, visto que umas certas despesas que haviam sido feitas, não sabiam que rubrica lhes haviam de dar, para os munícipes não se espantarem… e que alguém alvitrara que lhe dessem a rubrica de “Despesas Diversas”, à semelhança do que constava no relatório de1929-1930. Será verdade? E o que nos deu a informação seria emissário, como o seria o nosso amigo que nos informou da crítica feita no órgão católico, por ser jornal que não lemos? Continuando: Injecções que nos prega o Seringador. Se somos seringador, a culpa é dos senhores doutores Rocha e Sá e Vitoriano de Castro. Estes distintos clínicos receitam - aos seus [doentes] - injecções e dizem-lhes que venham onde a nós para lhas darmos. Como é para bem do nosso semelhante, estamos sempre às ordens. Para fazer bem à humanidade, a nossa casa está sempre aberta. Palavras, leva-as o vento; obras é que ficam… Exacto. Efectivamente, falamos muito. Podemos faze-lo de cara descoberta. Também escrevemos, embora mal…, mas com sinceridade e hombridade de carácter. E de que falamos e escrevemos? Pedimos melhoramentos para a nossa terra. Pedimos beleza, harmonia de conjunto, e método de organização. Pedimos que tudo isso seja feito a contento da grande massa dos contribuintes e não só para interesse restrito ou de compadres. É para todos que pedimos, e como não pode ser acordo geral, democraticamente, o acordo da maioria. E tudo quanto pedimos é com voz de trovão ou assinamos o que escrevemos. Não temos poltronaria (no jornal está poltrania) de carácter, como chamava Camilo aos que escrevem e se escondem na sombra. Finalizando, diremos ao correspondente a razão por que invocamos e invocaremos o nome do saudoso Solheiro. Era homem de carácter, e pelos factos que vamos contar é que o apreciamos. Dias depois de aqui chegarmos fomos às Águas do Peso. Ali encontramos o Governador Civil e o hoje falecido Solheiro. Cumprimentamos, e como com ambos mantínhamos boas relações pessoais, juntando, às do 1.º, boa camaradagem que tínhamos tido, pedimos melhoramentos para a nossa terra e, ao 1.º, o seu valioso concurso de Magistrado Administrativo. Tempos depois, ainda não conhecíamos o meio, falando com alguém da conversa havida, foi-nos dito: “o Solheiro é impolítico; se tivesse larguezas políticas tinha nomeado o Dr. António Cândido Esteves, e com isto conquistava as amizades políticas deste e da sua família.” Mais adiante, em uma conversa, depreciava-se a acção da sua obra… Dizia-se: “fê-lo devido à situação excepcional, e mesmo assim deixa o povo carregado de impostos e de encargos [sobretudo de juros à CGD] por largos anos… etc.” Pois os autores dos ditos, eram, como presenciamos, alguns bajuladores e que diante dele curvavam a espinha. E ele sempre altivo, sorridente, deixava-os… e passava adiante, e não vendera o seu carácter por uma nomeação… Entendam-me bem. Por isso, ao ele passar à última jazida, nas nossas sinceras palavras, exteriorizamos o que nos ia na alma. Para o bem da nossa terra e do país em geral, haverá sempre este que assina.» L. A. de Carvalho.
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 151, de
29/5/1932: «Ao
senhor L. A. de Carvalho. Num artigo intitulado “Respondendo”, salada russa
indigestamente condimentada com Fra Angélico, Camilo, Larousse e tudo, um tal
L. A. de Carvalho, que não sabemos bem quem seja, faz de mistura umas
insinuações, que roçam pela perfídia e que vimos apurar bem. // O escriva, no
citado relambório, quando ofende, diz sempre que foi um amigo que lhe deu tal
informação. Isso leva-nos a crer que, ou procura encobrir-se com a cobardia de um
diz-se, ou efectivamente é alguém que faz dele um instrumento inconsciente para
ferir às escondidas, por não ter a coragem de o fazer às claras. // Seja como
for, o senhor L. A. de Carvalho vai dizer-nos com o seu nome assinado, sem
iniciais para evitar confusões, em termos claros e precisos, muito a sério, e
sem atitudes de Calino: 1.º - quem foi o vereador que no jantar oferecido às
autoridades que vieram dar-nos a honra da sua assistência na inauguração dos
Paços do Concelho prometeu publicar o relatório das despesas e receitas da
Câmara? 2.º - Qual o melhoramento, ou os melhoramentos que a Câmara Municipal fez,
não para interesse público, mas sim para benefício particular de compadres? 3.º
- Quais as despesas, suspeitas, que não podem ser descritas nas contas
camarárias? 4.º - Quais as razões, - que ele tem - para duvidar da
honorabilidade dos componentes da Câmara Municipal? // Queremos isto bem
averiguado para se apurar se tais insinuações obedecem a inconsciência, ou a
maldade. Se é inconsciência, temos o direito de exigir do proprietário do
jornal que selecione os seus colaboradores, para não o transformar numa arca de
Noé, onde tenham entrada todas as espécies animais. Se é maldade, temos também
o direito de exigir do seu autor a responsabilidades das suas infâmias.»
A
Comissão Administrativa da Câmara.
Ainda no Notícias de Melgaço n.º 151, de
29/5/1932, lemos: «A BEM DA VERDADE. Acerca
do nosso artigo com esta epígrafe, inserto no n.º 150 deste semanário de 22 de
Maio, a bem da verdade, temos a declarar que o nosso amigo que nos disse que em
“A Voz” vinha a notícia a respeito do que escrevêramos, e nos enviou o exemplar
desse jornal, o fez pela amizade pessoal e não como emissário, pois que não se
presta a servir de correio de ninguém. Também o indivíduo que nos disse que não
falássemos mais em relatório, nos declarou que a conversa que connosco tivera fora
de sua exclusiva lavra. Fica assim aclarado o que escrevemos.» L. A. de Carvalho.
No Notícias de Melgaço n.º 152, de
5/6/1932, podemos ler: «Neste jornal e no seu n.º 151, de 22 de Maio, com o
título “Ao senhor L. A. de Carvalho”, vem publicado um artigo subscrito por a
Comissão Administrativa da Câmara. Diz a autora do artigo que não sabe bem quem
seja um tal L.A. de Carvalho e repta-o a que lhe ponha para ali o seu nome
assinado sem iniciais para evitar confusões e que, em termos claros e precisos,
responda a quatro perguntas que lhe faz. Da forma como está escrito e assinado
o artigo julgamo-nos desobrigados a responder, porque uma entidade impessoal
não merece resposta, mormente pelo vocabulário que emprega, e também porque no
artigo “Respondendo”, a que aquela faz referência, se não falou em Comissão Administrativa
e apenas se deu resposta ao correspondente do jornal “A Voz”, como pode
constatar quem ler com atenção o artigo “Respondendo”. Mas como temos bastante
consideração pelos leitores deste semanário, diremos aqui quem é o tal L.A. de
Carvalho. L. A. de Carvalho é a abreviatura com que assina o cidadão Luís
Augusto de Carvalho, capitão reformado, da Administração de Saúde das Colónias,
e que está nesta situação por ter prestado serviço à Nação Portuguesa por mais
de trinta e dois anos efectivos, sendo destes mais de vinte e quatro de serviço
nas colónias da África oriental e ocidental, residindo actualmente no lugar da
Carreira, freguesia de São Paio, deste concelho, sua terra natal. Durante o seu
largo estágio pelas colónias, além do seu serviço próprio, foi vereador da
Câmara Municipal de Moçambique em 1919 e vogal dos Conselhos, Executivo e
Legislativo, da colónia de Cabo Verde em 1923/1924, além de outros que se não
enumeram. Quem quiser saber a verdade, é vir a esta casa que se mostram os
documentos oficiais. É autor, e do qual toma inteira e absoluta
responsabilidade, dos seguintes artigos publicados neste jornal com os títulos:
“Melhoramentos Locais”, no n.º 142, de 6/3/1932; idem, no n.º 146, de 3/4/1932;
“Administração a la diables”, no n.º 147; “Preferência” (era
“Perguntas”, mas este título foi truncado), no n.º 148, de
1/5/1932; “Comunicações” e “Questão Operária”, no n.º 149, de 8/5/1932;
“Respondendo”, no n.º 150, de 22/5/1932, resposta ao correspondente de “A Voz”,
de Lisboa. Lamenta que quase todos os artigos tenham saído truncados e com
gralhas, de que algumas ainda retificou. Portanto, sabendo quem é o tal L.A. de
Carvalho, podem chamá-lo à responsabilidade como melhor entenderem. E desde já
lhes alvitramos que submetam o pleito ao sagrado tribunal da opinião pública melgacense,
mandando imprimir os nossos artigos, o do correspondente do “Notícias de
Viana”, o do correspondente de “A Voz”, aos quais fazemos referências nos
nossos, e lhe ponham como capitel o da senhora Comissão Administrativa da
Câmara, recomendando este à Academia de Ciências, para ser inserido nos livros
escolares como peça literária de altíssimo valor, pelo vocabulário que contém,
e também ao senhor Dr. Guerreiro Murta para nas novas edições do “Como se
aprende a redigir” e “Manual da Língua Portuguesa” ser tomado em consideração
como espécime educativo. // Nada mais teríamos a dizer à Sr.ª Comissão Administrativa
da Câmara; porque - não vindo assinado pelos seus componentes - não sabemos a
quem atribuir a responsabilidade do escrito; mas, como gostamos das coisas
claras, vão uns esclarecimentos. Não faríamos eco do que disse um vereador se
não o ouvíssemos da sua própria boca. Como não frequentamos lugares onde se
colhem informações, nem somos repórter, quando nós fazemos eco de qualquer
informação é porque nos foi dita por pessoa, ou pessoas, de confiança, no
entanto pomos de remissa com o – será verdade? Não somos atrito a servirmos de
instrumento de outros e agradecemos aos amigos as boas informações, porque se
não fossem eles não teríamos conhecimento do artigo do correspondente de “A
Voz”. Lembramos à Sr.ª Comissão Administrativa que leiam com atenção um artigo
publicado no jornal “Notícias de Viana”, de 21/5/1932, sobre o que o referido
jornal diz dos vereadores da Comissão Administrativa da Câmara daquela sede,
demitida, em que lhe nota todos os benefícios feitos, mas a censura por ter
feito serviço individualista, não lhe dando a devida publicidade. Como na nossa
alma não se abrigam maldades, infâmias, perfídias, ou outras escorrências
soezes, devolvemos à Sr.ª C. A. todos esses vocábulos empregados para os
distribuir pelos seus membros. A nossa alma é límpida e não fazemos salada russa
para melindrar qualquer pessoa por mais humilde que seja. Salada e baralha
confusa faz a Sr.ª C.A. no seu artigo, pois faz perguntas que não percebemos
qual o fim que querem atingir. Nos nossos artigos nunca tocamos qualquer coisa
do que vem nas perguntas. Se criticamos e fazemos reparo ao que fazem entidades
que desempenham cargos públicos, é porque entendemos que quem está à testa
deles não é invulnerável ou intangível, e erra como qualquer mortal.» // Luís Augusto de Carvalho, capitão. Notícias de Melgaço n.º 152, de 5/6/1932.
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 153, de
12/6/1932: «Ao Crítico da Câmara. Da
prosa do senhor capitão Carvalho – este senhor é muito fecundo em escrever e
muito sóbrio em pensar – apenas se aproveita isto: “A Comissão Administrativa
no seu artigo fez perguntas que não percebemos qual o fim que querem atingir; nos
nossos artigos nunca tocamos qualquer coisa do que vem nas perguntas.” Ora, nós
baseamos as nossas perguntas nos seguintes dizeres do senhor capitão Carvalho:
1.ª – Então os senhores vereadores prometem relatórios, fazem afirmações em
banquetes festivos e depois não cumprem? Ou será somente incontinência
linguareira dos senhores edis, sem responsabilidades no que dizem? 2.ª –
Pedimos melhoramentos… que tudo isso seja feito a contento da grande massa dos
contribuintes e não só para interesse restrito ou de compadres. 3.ª – Pouco
depois dos nossos artigos publicados - em 6 de Março e 3 de Abril - procurou-nos
um indivíduo, que nos disse não falássemos mais em relatório, pois que não
havia vontade de o publicar, visto que a umas certas despesas que haviam sido
feitas [eles] não sabiam qual rubrica lhes dar.» Convidado a explicar-se, o
senhor capitão Carvalho declara imponentemente que não disse nada que
justificasse o repto que lhe fizemos. Na presença de semelhante miséria, somos
obrigados a considera-lo um pobre diabo que, pela sua insignificância mental,
não pode ser tomado a sério. E ponto final.» A Comissão Administrativa da Câmara. // NM 153, de 12/6/1932.
No Notícias de Melgaço n.º 153, de
12/6/1932, lê-se a «Carta ao Senhor Capitão
Carvalho: meu ilustre amigo – aqui me tem às suas ordens. Sou eu o
correspondente de “A Voz”, que tanto desejava conhecer. Em primeiro lugar, em
presença da sua imponente (!), magnífica, opulenta de serviços e bem-fazer,
irradiando a luz da glória, que se esconde (!) famosa e linda muito ao (!)
longe, do lugar da Carreira, da freguesia de São Paio, (herói?) de nossas
colónias, cumpre-me saudá-lo em posição de sentido, com o verso do nosso épico:
“Ditosa pátria que tal filho…” // O meu capitão conhece Moliére? É compatriota
daquele seu amigo Larousse, onde …………… procurar a serra de Pomedelo. É também
autor de uma farsa que se intitula “Médico à Força.” O seu protagonista, que
nunca estudou medicina e que um dia foi obrigado a fazer a síndrome de uma
doença; encravado, saiu-se da dificuldade, recitando um ……….. macarrónico, que
tenho pena não ter presente na memória para reproduzir aqui ……….. com ênfase:
“E aqui está a razão por que o menino está doente.” A sua resposta às perguntas
da Câmara, enchendo colunas de prosa (…), sem dizer nada sobre o assunto que se
discutia, fez-me lembrar o meliante do tal médico à ……. do glorioso
comediógrafo francês. V. Ex.ª no seu artigo tem ……… admiráveis, resultante
talvez dos seus conhecimentos de estratégia militar. Diz, por exemplo, que não
era obrigado a responder à Câmara, visto o seu artigo se dirigir ao
correspondente de “A Voz”. Faz-me lembrar o seguinte caso: um homem muito
conhecido, cujo nome me não lembra, passou por uma rua de Lisboa e parou em
frente de uma mercearia, onde estava, à porta, em exposição, uma barrica de
manteiga. Por distração, cuspiu nela. O marçano avança para o sujeito,
increpando-o ferozmente pela porcaria. - Perdão, lhe diz ele. Julgava que eram
azeitonas. E retirou-se serenamente, enquanto o marçano, embasbacado, ficou a
pensar nas razões que o homem teria para poder cuspir se fossem azeitonas.
Também eu fiquei igualmente pasmado a meditar nos motivos que teria o meu
capitão para poder, imponentemente, lançar suspeitas à honra da Câmara, pelo
facto de endereçar o seu artigo ao correspondente de “A Voz”. Pensei que o
autor do escrito era um Carvalho qualquer. Tão enojado andava, das suas
perlengas, que até me deu vontade – Deus me perdoe – de o mandar para o
apelido. Afinal saiu um Carvalho categorizado, capitão do exército, com uma
brilhante folha de serviços no continente e colónias. Perante tal revelação,
estou arrependido, da parte que me toca, no emprego daquelas palavras duras,
que tantos engulhos lhe causaram. Mas…, valha-nos Deus, meu capitão. V. Ex.ª
não provando nada das acusações que fez à Câmara deixou em pé esses vocábulos,
a feri-lo como látegos contundentes. V. Ex.ª quer ser crítico da Câmara?
Ninguém lhe nega esse direito. Como quer, porém, que não o consideremos um
crítico de má-fé, sem aquela nota inerente à boa crítica, que é a
imparcialidade, se em toda a obra da Câmara só encontra motivos para censurar e
nada que lhe mereça louvor? Dê-nos, meu capitão, o consolo de um elogio saído
da sua pena consagrada e tudo acabará a bem. Esta já vai longe, por isso
termino; agradecendo-lhe os momentos de alegria que me proporcionou, porque –
nestes tempos de tanta tristeza – o riso é o melhor bem deste mundo. Abraça-o o
seu amigo e admirador.» Artur d’Almeida
(pároco de Penso e vogal da Câmara Municipal de Melgaço).
Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 154, de
19/6/1932: «À Ex.ma Câmara – Tendo a Comissão Administrativa ao concluir o seu
artigo com o título “Ao Crítico da Câmara”, publicado no n.º 153 deste
semanário, dito – E ponto final – nós não lhe damos esse ponto final, mas desta
vez dirigimo-nos ao seu Presidente, por ser este o lídimo representante do
Município. Ex.mo Sr. João de Barros Durães: V. Ex.ª num quarto de hora, bem
inspirado, do Ex.mo Governador Civil, foi investido nas funções de presidente
da Câmara Municipal de Melgaço, substituindo um ilustre melgacense, que a parca
arrebatara. Como novo, ilustrado, desejoso de ter nome, era a pessoa indicada
para fazer figura brilhante. A partir do seu investimento nesse cargo, V. Ex.ª
era o representante do 1.º corpo administrativo do concelho e, nessa qualidade,
administrava e representava católicos, ateus, protestantes, nacionalistas,
unionistas, integralistas, democráticos, republicanos e socialistas. Enfim, a
sua religião e o seu partido era, na qualidade do seu cargo, considerar todos
no mesmo pé de igualdade. Nós, como bairrista acérrimo, embora não possuindo,
como de facto não temos, tinta (deve ser
pinta) lustral de jornalismo, escrevemos em
6 de Março, neste semanário, um artigo em que pedíamos, em virtude do Poder
Central ter decretado várias medidas atinentes a debelar a crise com obras de
fomento, melhoramentos para a nossa terra, aproveitando a ocasião que se nos
oferecia. E esses melhoramentos estão todos no ânimo dos nossos concidadãos
melgacenses. A esse apelo, apareceu no jornal “Notícias de Viana”, que nem
todos os nossos conterrâneos leem, umas referências ao nosso artigo, não no
sentido de colaborar e auxiliar esses melhoramentos, mas sim em tom faceto do
que escrevêramos. Respondemos em 3 de Abril. Parece-nos que estava indicada uma
nota oficiosa, dimanada da Câmara, a respeito desses artigos, dissesse que
estava no ânimo da C.A. aproveitar a oportunidade que ofereciam as medidas do
Poder Central, ou então que não concordavam com a sugestão. Enfim, mostrar que
as sugestões dos munícipes lhe mereciam consideração ou que eram rejeitadas em
absoluto e, neste caso, eles ficariam sabendo que a C.A. estava divorciada de
quaisquer alvitres que lhes propusessem os munícipes, e só faria administração
de facção. Esses nossos artigos não foram lidos através de vista clara e
límpida, mas sim por estrábicos e hemarólopos, e interpretados com sectarismo por
almas impregnadas de facciosismo maldoso e, portanto, criticados e
estigmatizados, não na imprensa local, mas no jornal “A Voz”, de Lisboa, onde
se diz - «A Câmara tem feito sempre
consultas; não a ignorantes, mas sim a técnicos, àqueles a quem reconhece
competência profissional.» Tivemos de responder e isso originou o que o Sr.
Durães bem conhece, os escritos da Comissão da sua digna presidência, que nos
parecem não primar de correcção e somente amesquinhar-nos com os vocábulos que
empregam, o que não dignifica a C.A., nem honra a CMM. – Ex.mo Sr. Durães: -
vamos reeditar e ampliar alguns dos nossos pedidos e que levantaram bastante
celeuma, tanto ao correspondente de A Voz como à C.A., da sua presidência.
Aquando da perda do seu antecessor disseram que iam publicar o relatório que o
falecido trazia em preparação. Aguardávamos com impaciência essa publicação,
pois como documento póstumo o queríamos referenciar. Falamos nesse relatório
nos nossos artigos e até esperávamos que a C.A., na imprensa melgacense,
dissesse, como homenagem, qualquer coisa. Ao nosso apelo nada se disse, se
havia sido publicado ou não. Pois, Sr. Durães, tivemos há pouco a seguinte
surpresa: em 26 de Maio entramos em uma casa comercial da aldeia. O dono,
mostrando-nos um livro, perguntou-nos se o havíamos lido. Pegamos-lhe e folheamo-lo
e vimos ser o relatório que nós há tanto tempo aguardávamos e reclamávamos.
Respondemos que não tínhamos lido, pois se nos tivesse vindo à mão não teríamos
nos nossos artigos insistido por ele, como se vê do artigo “Respondendo”.
Perguntando-lhe se o possuía há muito tempo e como lhe fora ter às mãos,
cochichou-nos que há pouco tempo lhe fora arranjado, mas se quiséssemos no-lo
emprestava. Recusamos o empréstimo, pois entendemos que se foi impresso, por
conta da Câmara, deve ser remetido às instâncias oficiais e aos munícipes a que
a Câmara entenda, e anunciado no jornal local a sua publicação e preço de venda
dos exemplares sobressalentes, e facultado um exemplar aos munícipes que na
biblioteca da Câmara o queiram consultar. Se foi impresso por conta particular,
do bolso dos senhores vereadores, então eles podem dá-lo a quem muito bem
entenderem. Da forma como o comerciante o arranjou, nós não o queremos. Vamos
ao resto: um senhor vereador disse que num relatório que ia ser publicado, o
público ficaria sabendo o custo do edifício dos Paços do Concelho, mobiliário e
ornamentação do salão nobre, etc. – Sr. Durães: antecipadamente agradecemos que
quando esse relatório for publicado, anunciem a edição e se se vende, pois que
desejamos adquirir um exemplar. A Comissão Administrativa muito se estimulou
com o que vamos reeditar: pouco depois dos nossos artigos de 6 de Março e de 3
de Abril, um indivíduo procurou-nos e disse-nos que não falássemos mais em
relatório; pois que não havia vontade de o publicar, visto que a certas
despesas (que haviam sido feitas), não sabiam que rubrica lhes haviam de dar e que alguém
alvitrara que lhe dessem a rubrica de “Diversas Despesas”, à semelhança do que
constava no relatório de 1929/1930. Nós fechávamos com o – será verdade? – e
antecipávamos a notícia pedindo o desmentido ou confirmação. Sr. Durães: aquilo
é síntese da conversa que tive. Se V. Ex.ª quiser responder, pode faze-lo;
senão aguardaremos a publicação do relatório. A Comissão Administrativa no seu
quesito 2.º do artigo de 29 de Maio, diz: - Quais
os melhoramentos que a Câmara Municipal fez; não para interesse público, mas
para benefício particular de compadres? Sr. Durães: nós atrás dizemos
que os nossos artigos foram lidos e interpretados diversamente do que era, e
este quesito é um deles. A C.A., da sua presidência, tirante a demolição de um
prédio, e continuar os contratos e deliberações do seu antecessor, que nós
saibamos, nada fez, absolutamente nada! E por isso não se pode criticar aquilo
que não é feito. Deve ser censurada até por aquilo que deixou de principiar em
tempo oportuno, como foi a arborização do Largo Hermenegildo Solheiro e a
instalação da feira do gado, que nestes tempos de calor faz esterricar os
animais. O 4.º, diz: - Quais as razões que tem, para
duvidar da honorabilidade dos componentes da Câmara Municipal? Oh! Sr.
Durães: - esta é de pau! Nós, com a franqueza e sinceridade que nos carateriza,
se soubéssemos, ou conhecêssemos, que os vereadores eram desonestos
chamávamos-lhes com todas as letras. Em certos actos e deliberações, vimos
algumas vezes que enveredam por critério diferente do nosso. Mas esses são
modos de ver. E errar, muita gente erra… e em pública administração é isso o
pão nosso de cada dia. A Comissão Administrativa
diz que somos fecundo em escrever e muito sóbrio em pensar. – Sr.
Durães: bem faz a C. A. da sua presidência, pensa muito e não escreve [quase]
nada. E o pouco que escreve, e alguns dos seus componentes, como
correspondentes de jornais, e coletivamente em resposta a artigos na imprensa
local, emprega um fraseado que não abona a boa correção de escrever para o
público. Adiante… Na presença de semelhante miséria – riqueza de vocabulário,
repetimos, [como] é o da Comissão Administrativa – somos
obrigados a considerá-lo um pobre diabo. Oh! Sr. Durães: éramos rico
diabo quando V. Ex.ª nos dizia que deixássemos a Aliança Republicana Socialista
para nos integrarmos na União Nacional. Já a deixamos, mas continuamos
independente. Antes só do que bem ou mal acompanhado. … pela sua insignificância mental. – Não pedimos vírus mental à Comissão
Administrativa porque então descambávamos para o tripúdio pessoal, com aquele
belo fraseado com que fui mimoseado. // … não pode
ser tomado a sério – pois riam-se, que quem se ri faz festa. Sr. Durães:
este vai longo e vamos fechar, mas antes permita-nos que lhe digamos que a C.
A. da sua presidência nos chama “Crítico da Câmara”. Então sendo nós um
insignificante mental, podíamos ser crítico? E, por último, uma perguntinha, no
interesse do nosso concelho. Dos anunciados 38.000$00 que pela verba dos
melhoramentos rurais a este concelho [cabiam], fez-se ou projetou-se alguma
coisa? E por nós é que pomos – Ponto final.»
Luís A. Carvalho, capitão.
Lemos no Notícias de Melgaço n.º 154, de
19/6/1932: «Carta
ao senhor Artur d’Almeida. Preclaro sacerdote – V. R.ma, que não é natural
deste concelho, quando nos endereça a sua epístola não intercalou no seu nome a
“Ascensão” que realizou da sua terra natal para uma abadia deste nosso torrão,
como pastor d’almas, e que - como os seus fregueses o julgavam de encomenda –
V. R.ma os repreendeu por não lhe darem o título a que tinha direito e,
portanto, que o tratassem pelo seu nome, que era bonito. // Não é só bonito, é
catita, como catita é a sua carta, e pena foi, na ocasião em que a ditou, estar
amnésico, a respeito do latinório que o Médico à força empregou, pois que
gostávamos de o conhecer. // Na sua carta diz-nos que “ficamos” ferido com
látegos contundentes… Bem vemos que V. R.ma fez de nós Jesus Cristo.
Condenou-nos num tribunal onde V. R.ma ditou a sentença, escrita por um jovem e
incitada por um fariseu. O abraço já no-lo envia. Falta o ósculo, que nós
receberemos quando quiser. // Augusto Taveira, descrevendo a origem e vida de
Jesus Cristo, diz que quando o precioso corpo foi despregado do madeiro, e
entregue a Nicodemos, recebeu carinhosa assistência da “incomparável e divina
criatura que se chamou Maria Magdala”, ajudada piedosamente pelas suas jovens companheiras
que eram Maria Cleopbas e Maria Salomé (Renan, Vie 353). Tinha razão a divina e
encantadora Magdalena quando no sepulcro ao senti-lo estremecer, como num
despertar de agonia, banhada em lágrimas, lhe murmurou ao ouvido: “Não valia a
pena, não valia a pena.” // Nós, que não queremos ser um 2.º Jesus Cristo,
diremos: “não vale a pena” perdermos mais tempo. Por isso, exortámo-lo a que
quando faça a sua Ascensão ao púlpito V. R.ma no auge das suas perlengas
oratórias não pratique a irreverência de mandar os fiéis para o nosso apelido,
conforme nos queria mandar… Às ordens, o Cristo que se chama Luís Augusto de Carvalho, capitão.»
Notícias de Melgaço n.º 155, de 3/7/1932.
«PROGRESSO DE MELGAÇO, por L.A.C.: - Este concelho é o cocuruto de Portugal.
Penetrando na Galiza, tendo como limites com esta o rio Minho a noroeste e a
raia seca a norte, para o seu progresso e desenvolvimento económico carece de
muitos melhoramentos materiais. Possui uma grande riqueza: que são as suas
Águas Minero Medicinais do Peso. Mas estas, só por si, não lhe prestam o
necessário desenvolvimento enquanto outros melhoramentos não forem realizados.
Entre alguns, os de maior acuidade, são as suas vias de comunicação, devendo
seguir-se-lhe os de ordem estética para o seu aformoseamento. Há mais de
quarenta anos, algumas vias de comunicação se projetaram, mas em realidade só
se converteram 8,5 km de estrada até à fronteira de São Gregório, e 2,5 km de
estrada municipal para Paderne. Os seus caminhos vicinais são o inferno para a
tração animal de gado bovino, havendo pontos ínvios para a ligação com os das
suas serranias. Algumas destas faltas se teriam remediado se tivesse havido
persistência no pedido ou se em uma descentralização administrativa fossem
dados recursos pecuniários aos seus corpos administrativos. Pertence, pois, a
todos os melgacenses, unirem-se para pedirem que a pouco, e pouco, a sua terra
seja dotada com um mínimo dos seus melhoramentos materiais. No campo, dos de
realização imediata, vamos enumerar pela ordem da sua urgência os que nos
parecem principais. Em vias de comunicação: 1 – ligação na fronteira de São
Gregório com a estrada galega, sendo o governo espanhol o que falta dar
execução ao seu troço até ao rio Trancoso. 2 – Construção da estrada para Castro
Laboreiro, a continuar depois para ligação com Lindoso ou Arcos de Valdevez. 3
– Uma alameda desde as Águas do Peso até ao rio Minho, para recreio dos
aquistas, fazendo-se à margem do rio umas barracas para na época apropriada em
que as águas vêm mais carregadas de agentes terapêuticos, se poder tomar banho.
4 – Entabular negociações com o governo espanhol para a construção de uma ponte
sobre o rio Minho, entre São Marcos e Arbo (estação). 5 – Continuação da estrada municipal de Paderne,
atravessando Queirão e Felgueiras, a entroncar na estrada nacional 1-1.ª, na
freguesia de Penso, no lugar da Polita. 6 – Uma estrada de 3.ª classe, ou
caminho largo empedrado, sem lacadas, partindo de Paderne da estrada municipal,
pela igreja de São Paio, a entroncar na de Castro Laboreiro, nas alturas de
Sante ou Lourenços. 7 – Uma estrada de 3.ª classe, ou caminho largo empedrado,
partindo da estrada de São Gregório, por Fiães, até ao lugar de Alcobaça. 8 –
Idem, do lugar da Igreja, Rouças, a entroncar com a estrada de Castro
Laboreiro. 9 – Um caminho empedrado e ponte sobre o rio Mouro, da estrada de
Castro Laboreiro para o centro da freguesia de Parada do Monte. 10 – Idem, do
lugar de Pomares para Cousso e Gave. // Em ordem do seu urbanismo: 1 – Ligação, por meio de viaduto, dos Paços do
Concelho à estrada nacional 1-1.ª. 2 – Uma rua
do Largo Hermenegildo Solheiro ao castelo. 3 –
Conclusão da rua projetada entre a Praça da República à estrada nacional. // Em
ordem de aformoseamento e utilidade material: 1 – Arborização das valetas das
estradas com árvores frutíferas, tais como oliveiras, nogueiras, cerejeiras, e
outras para madeira, como eucaliptos, acácias e choupos. 2 – Arborização dos
baldios e sítios chãos do alto das montanhas com pinheiros, sobreiros,
castanheiros, etc. // No campo do ensino: 1 –
Construção dos edifícios e criação de escolas primárias necessárias para a sua
população infantil. 2 – Criação e sua
conveniente instalação de uma escola do ensino complementar, com o caráter
agrícola profissional, tendo uma secção de instrução para aperfeiçoamento de
operários. // Todos os melhoramentos enumerados, salvo melhor opinião, são
todos necessários, podendo talvez prescindir-se do da ponte para Arbo. Haverá
outros mais necessários. Apelo para os conterrâneos, amigos do progresso do
concelho, o auxílio para a consecução destes fins.»
No Notícias de Melgaço n.º 199, de
25/6/1933, pode ler-se: «na passada quarta-feira,
de tarde, quando se estava realizando a feira, no Largo Hermenegildo Solheiro,
encontraram-se Marcelino Ilídio Pereira, comerciante e rico proprietário de
Penso, e o capitão Luís Augusto de Carvalho, os quais, depois de alta e acalorada
discussão, passaram a vias de facto com os respectivos guarda-sóis, sendo o
primeiro o que iniciou a luta. Acudiram várias pessoas que apartaram os contendores.
Da refrega saiu ferido o segundo, com uns ferimentos no olho esquerdo feitos
com o manípulo do guarda-sol (…) o qual recebeu tratamento na Farmácia Araújo,
sendo os socorros médicos prestados pelo Dr. Sá… Consta-nos que o segundo vai
mandar imprimir em folheto, para distribuir, uma carta que deu origem ao
conflito.»
Por sua iniciativa, e como fora
mobilizado, organizou-se em Melgaço, por volta de 1935 (Notícias de Melgaço n.º 276),
uma agência, ou secção, da Liga dos Combatentes da Grande Guerra (1914-1918). // A 30/3/1937
foi operado no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa (NM 348, de 4/4/1937 e 358). // Colaborou
com certa regularidade no «Notícias de
Melgaço». // Morreu no lugar da Carreira, São Paio, a 10/9/1940. // A sua viúva
finou-se em Penso a 18/7/1966. // Nota:
ver, no Notícias de Melgaço n.º 151, página 3, o seu artigo “Responsabilidade
Profissional.” /// (*) No Jornal de Melgaço n.º 1306, de 26/9/1920, diz-se que ele
foi «promovido a tenente da Companhia de
saúde…»; continuava a viver em Moçambique.
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