DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
Por Joaquim A. Rocha
CRIMES
(1917) - ALVES,
Manuel. Filho de ---------- Alves e de
------------------------------------------. Nasceu na Gave a --/--/18--. // No
tribunal de Melgaço, e sob a presidência do juiz Dr. Justino Correia, respondeu
a um processo de polícia correcional, pelo crime de espancamento; a audiência
foi adiada (Correio de Melgaço n.º 237, de 18/2/1917).
(1917) - DOMINGUES, Bruno. Filho de Manuel José Domingues, lavrador, natural
de Paderne, e de Maria Joaquina Vaz, lavradeira, natural de Penso, moradores no
lugar de Lages. Neto paterno de José Joaquim Domingues e de Maria da Rocha;
neto materno de Zeferino Vaz e de Rosa Emília Esteves Cordeiro. Nasceu em Penso
a 25/2/1879 e foi batizado na igreja no dia seguinte. Padrinhos: Bruno
Gonçalves e Maria do Patrocínio Gonçalves, solteiros, lavradores, do lugar de
Rabosa. // Era solteiro, camponês, quando casou na igreja da sua freguesia
natal a 8/4/1908 com Virgínia Gomes, de 28 anos de idade, solteira, camponesa,
sua conterrânea, residente no lugar da Gaia, filha de Anacleto Gomes e de
Damiana Pires. Testemunhas presentes: Bruno Gonçalves e Firmino Pereira,
casados, proprietários, naturais de Penso. // Morreu na freguesia do Socorro,
Lisboa, a 7/12/1917, assassinado
aquando da
revolução de Sidónio Pais. Lê-se no Jornal de Melgaço n.º 1190, de 12/1/1918: «Com uma bala que lhe atravessou o crânio morreu na última
revolução o nosso amigo Bruno Domingues. A quem o matou poucas glórias o
cobrem, pois que não matou um revoltoso, mas sim um homem, um republicano, um
belo carácter, um bom marido.» O seu funeral levava mais de mil pessoas, segundo o dito jornal.
Fizeram-se representar o Arsenal da Marinha e o corpo de marinheiros, o Centro
Escolar Castelo Branco Saraiva, e a Associação dos Caixeiros de Lisboa, com a
sua bandeira. // Deixou geração.
(1920) - Bento
Fernandes. Filho de António Joaquim Fernandes e de Ana Maria Domingues. Nasceu
na Gave por volta de 1852. // Lê-se no Jornal de Melgaço n.º 1287, de 2/5/1920:
«Assim como todas as terras procuram
avançar na civilização, nas artes e indústrias, assim a Gave também avança, mas
essa na hediondez do crime. Raro é o ano em que naquela freguesia não vá alguém
dormir no cemitério antes do tempo que lhe estaria destinado. O crime deste
ano, de hediondo, não sei até como descrevê-lo. Repugna ver um filho responder
atrevidamente a seu pai, como revolta simplesmente a ideia de existir um filho
que tenha o arrojo de bater naquele que lhe deu o ser, que, com tantos
trabalhos, canseiras e cuidados, procurou, enquanto pôde, que ao seu filho
nunca faltasse um pedaço de pão, mas ainda revolta e repugna muito mais o crime
que acaba de ser praticado na Gave – um desgraçado insulta, fere e mata seu
pobre pai. Não sei como das nuvens não cai um raio para fulminar aquele
renegado, como outrora um raio fulminou Dioscoro no momento em que assassinava
sua filha Bárbara! E a causa do crime? Um acto de desobediência do degenerado
filho. Expliquemos: próximo do local onde foi assassinado o “António do Manco”
há duas leiras de terreno, uma delas, pertencente a Bento Fernandes (vítima),
do lugar de São Cosme, e outra a seu filho Manuel (o parricida). O filho andava
a apascentar, na sua leira, duas vacas, e como em certo momento uma delas
invadisse a leira vizinha, onde havia melhores pastagens, o Bento (vítima)
grita de longe para o filho: «ó ladrão, tira as vacas da minha erva!» O Manuel
(filho) em vez de desviar a vaca da erva de seu pai, como era seu dever, antes
encaminha a vaca para frente, deixando assim de cumprir as ordens de seu pai.
Em virtude disso, o pai, vendo-se desobedecido, tira um pau de uma latada, e
com ele se dirige para o filho com ideia talvez de lhe bater. Então o desgraçado
filho vai ao encontro do pai, tira-lhe o pau da mão, e com ele lhe dá logo uma
pancada na cabeça, fazendo-o cair por terra. Após a queda, tantas pancadas lhe
deu ao longo das costelas que a pobre vítima ficou sem fala e quase sem vida. Deu-se este acontecimento trágico no dia 24/4/1920,
pelas catorze horas, sucumbindo o pobre velho no dia 25 pelo meio-dia. O Bento
era viúvo e tinha sessenta e oito anos de idade, e o filho é casado e tem
trinta e seis anos. Mas agora reparo, à medida que vou lendo estes
apontamentos: O Bento tinha dois filhos, António e Manuel. O António, que era
uma joia, faleceu com a epidemia de 1918. Ficou o Manuel, que assim pôs termo à
vida de seu pai. Mas este Manuel já tem um filho, de nome Isaías, com quatro
anos de idade, e duas filhas, Felisbela, de oito anos, e Solidária, de dois
anos de idade. Que farão estes filhos um dia? Mas que estranhar se o Bento já
bateu no sogro e ameaçou seu pai com o tribunal, merecendo de um e de outro a
maldição? A providência não dorme! Nunca esqueçamos o ditado: “filho és, pai
serás; como fizeres, assim acharás.”» // O filho fugiu, pois lê-se no
Jornal de Melgaço n.º 1291, de 30/5/1920: «Pelo
Juízo de Direito da comarca de Melgaço, escrivão do 2.º ofício, correm editos
de trinta dias a citar Manuel Fernandes, casado, ausente em parte incerta, para
assistir a todos os termos do inventário por óbito de Bento Fernandes, que foi
do lugar de São Cosme, freguesia da Gave, sem prejuízo do seu andamento e sob
pena de revelia. Melgaço, 27 de Maio de 1920. O escrivão: António Freire Falcão
Ribeiro de Campos. Verifiquei: o juiz de direito, Manuel Morato.»
Manuel
Fernandes. Filho de Bento Fernandes e de Maria da Conceição Duque, lavradores,
residentes no lugar de São Cosme. Neto paterno de António Joaquim Fernandes e
de Ana Maria Domingues, camponeses, moradores no lugar do Cerdeiral; neto
materno de João Manuel Duque e de Luísa Maria Rodrigues, lavradores, residentes
no lugar de São Cosme. Nasceu na Gave a 12/4/1885 e nesse mesmo dia foi
batizado na igreja paroquial. Padrinhos: Luís Fernandes, solteiro, tio paterno
do batizando, morador no lugar do Cerdeiral, e Rosa Duque, solteira, tia
materna do mesmo, lavradeira, residente no lugar de São Cosme. // Rural. //
Casou na igreja da Gave a 1/9/1910 com Maria de Jesus Fernandes, de 24 anos de
idade, sua conterrânea, filha de Manuel Joaquim Fernandes e de Luísa Rosa
Esteves. // A 24/4/1920 deu uma grande tareia em seu pai por causa de uns
pastos; o velhote morreu no dia seguinte
(ver a biografia
do pai). Fugiu para
o Brasil, mas foi preso no Rio de Janeiro pela polícia e entregue ao cônsul de
Portugal nessa cidade, que o recambiou para Portugal a fim de ser julgado pelo
crime cometido (ver Jornal de Melgaço n.º
1287, de 2/5/1920, e Jornal de Melgaço n.º 1301, de 15/8/1920). // Morreu em Mato Grosso, Brasil, a 1 ou 9 de
Dezembro de 1953. // A sua viúva faleceu também nesse país no ano seguinte. //
Pai de Felisbela, de Isaías, e de Solidária.
Sem comentários:
Enviar um comentário