domingo, 11 de agosto de 2019

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha





                                                                            CRIMES


(1917) - ALVES, Manuel. Filho de ---------- Alves e de ------------------------------------------. Nasceu na Gave a --/--/18--. // No tribunal de Melgaço, e sob a presidência do juiz Dr. Justino Correia, respondeu a um processo de polícia correcional, pelo crime de espancamento; a audiência foi adiada (Correio de Melgaço n.º 237, de 18/2/1917).  

 

(1917) - DOMINGUES, Bruno. Filho de Manuel José Domingues, lavrador, natural de Paderne, e de Maria Joaquina Vaz, lavradeira, natural de Penso, moradores no lugar de Lages. Neto paterno de José Joaquim Domingues e de Maria da Rocha; neto materno de Zeferino Vaz e de Rosa Emília Esteves Cordeiro. Nasceu em Penso a 25/2/1879 e foi batizado na igreja no dia seguinte. Padrinhos: Bruno Gonçalves e Maria do Patrocínio Gonçalves, solteiros, lavradores, do lugar de Rabosa. // Era solteiro, camponês, quando casou na igreja da sua freguesia natal a 8/4/1908 com Virgínia Gomes, de 28 anos de idade, solteira, camponesa, sua conterrânea, residente no lugar da Gaia, filha de Anacleto Gomes e de Damiana Pires. Testemunhas presentes: Bruno Gonçalves e Firmino Pereira, casados, proprietários, naturais de Penso. // Morreu na freguesia do Socorro, Lisboa, a 7/12/1917, assassinado aquando da revolução de Sidónio Pais. Lê-se no Jornal de Melgaço n.º 1190, de 12/1/1918: «Com uma bala que lhe atravessou o crânio morreu na última revolução o nosso amigo Bruno Domingues. A quem o matou poucas glórias o cobrem, pois que não matou um revoltoso, mas sim um homem, um republicano, um belo carácter, um bom marido.» O seu funeral levava mais de mil pessoas, segundo o dito jornal. Fizeram-se representar o Arsenal da Marinha e o corpo de marinheiros, o Centro Escolar Castelo Branco Saraiva, e a Associação dos Caixeiros de Lisboa, com a sua bandeira. // Deixou geração. 



 

(1920) - Bento Fernandes. Filho de António Joaquim Fernandes e de Ana Maria Domingues. Nasceu na Gave por volta de 1852. // Lê-se no Jornal de Melgaço n.º 1287, de 2/5/1920: «Assim como todas as terras procuram avançar na civilização, nas artes e indústrias, assim a Gave também avança, mas essa na hediondez do crime. Raro é o ano em que naquela freguesia não vá alguém dormir no cemitério antes do tempo que lhe estaria destinado. O crime deste ano, de hediondo, não sei até como descrevê-lo. Repugna ver um filho responder atrevidamente a seu pai, como revolta simplesmente a ideia de existir um filho que tenha o arrojo de bater naquele que lhe deu o ser, que, com tantos trabalhos, canseiras e cuidados, procurou, enquanto pôde, que ao seu filho nunca faltasse um pedaço de pão, mas ainda revolta e repugna muito mais o crime que acaba de ser praticado na Gave – um desgraçado insulta, fere e mata seu pobre pai. Não sei como das nuvens não cai um raio para fulminar aquele renegado, como outrora um raio fulminou Dioscoro no momento em que assassinava sua filha Bárbara! E a causa do crime? Um acto de desobediência do degenerado filho. Expliquemos: próximo do local onde foi assassinado o “António do Manco” há duas leiras de terreno, uma delas, pertencente a Bento Fernandes (vítima), do lugar de São Cosme, e outra a seu filho Manuel (o parricida). O filho andava a apascentar, na sua leira, duas vacas, e como em certo momento uma delas invadisse a leira vizinha, onde havia melhores pastagens, o Bento (vítima) grita de longe para o filho: «ó ladrão, tira as vacas da minha erva!» O Manuel (filho) em vez de desviar a vaca da erva de seu pai, como era seu dever, antes encaminha a vaca para frente, deixando assim de cumprir as ordens de seu pai. Em virtude disso, o pai, vendo-se desobedecido, tira um pau de uma latada, e com ele se dirige para o filho com ideia talvez de lhe bater. Então o desgraçado filho vai ao encontro do pai, tira-lhe o pau da mão, e com ele lhe dá logo uma pancada na cabeça, fazendo-o cair por terra. Após a queda, tantas pancadas lhe deu ao longo das costelas que a pobre vítima ficou sem fala e quase sem vida. Deu-se este acontecimento trágico no dia 24/4/1920, pelas catorze horas, sucumbindo o pobre velho no dia 25 pelo meio-dia. O Bento era viúvo e tinha sessenta e oito anos de idade, e o filho é casado e tem trinta e seis anos. Mas agora reparo, à medida que vou lendo estes apontamentos: O Bento tinha dois filhos, António e Manuel. O António, que era uma joia, faleceu com a epidemia de 1918. Ficou o Manuel, que assim pôs termo à vida de seu pai. Mas este Manuel já tem um filho, de nome Isaías, com quatro anos de idade, e duas filhas, Felisbela, de oito anos, e Solidária, de dois anos de idade. Que farão estes filhos um dia? Mas que estranhar se o Bento já bateu no sogro e ameaçou seu pai com o tribunal, merecendo de um e de outro a maldição? A providência não dorme! Nunca esqueçamos o ditado: “filho és, pai serás; como fizeres, assim acharás.”» // O filho fugiu, pois lê-se no Jornal de Melgaço n.º 1291, de 30/5/1920: «Pelo Juízo de Direito da comarca de Melgaço, escrivão do 2.º ofício, correm editos de trinta dias a citar Manuel Fernandes, casado, ausente em parte incerta, para assistir a todos os termos do inventário por óbito de Bento Fernandes, que foi do lugar de São Cosme, freguesia da Gave, sem prejuízo do seu andamento e sob pena de revelia. Melgaço, 27 de Maio de 1920. O escrivão: António Freire Falcão Ribeiro de Campos. Verifiquei: o juiz de direito, Manuel Morato             

    

Manuel Fernandes. Filho de Bento Fernandes e de Maria da Conceição Duque, lavradores, residentes no lugar de São Cosme. Neto paterno de António Joaquim Fernandes e de Ana Maria Domingues, camponeses, moradores no lugar do Cerdeiral; neto materno de João Manuel Duque e de Luísa Maria Rodrigues, lavradores, residentes no lugar de São Cosme. Nasceu na Gave a 12/4/1885 e nesse mesmo dia foi batizado na igreja paroquial. Padrinhos: Luís Fernandes, solteiro, tio paterno do batizando, morador no lugar do Cerdeiral, e Rosa Duque, solteira, tia materna do mesmo, lavradeira, residente no lugar de São Cosme. // Rural. // Casou na igreja da Gave a 1/9/1910 com Maria de Jesus Fernandes, de 24 anos de idade, sua conterrânea, filha de Manuel Joaquim Fernandes e de Luísa Rosa Esteves. // A 24/4/1920 deu uma grande tareia em seu pai por causa de uns pastos; o velhote morreu no dia seguinte (ver a biografia do pai). Fugiu para o Brasil, mas foi preso no Rio de Janeiro pela polícia e entregue ao cônsul de Portugal nessa cidade, que o recambiou para Portugal a fim de ser julgado pelo crime cometido (ver Jornal de Melgaço n.º 1287, de 2/5/1920, e Jornal de Melgaço n.º 1301, de 15/8/1920). // Morreu em Mato Grosso, Brasil, a 1 ou 9 de Dezembro de 1953. // A sua viúva faleceu também nesse país no ano seguinte. // Pai de Felisbela, de Isaías, e de Solidária.


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