OS NOVOS LUSÍADAS
O
tabaco passou a dar dinheiro,
Luís
Goes trouxe até nós a planta;
Foi
ele aqui de facto o primeiro,
Mas
em Espanha já ninguém se espanta.
Espalhou-se
pelo mundo inteiro,
A
todos agrada, muitos encanta.
Em
Lisboa, a Farmácia Real,
Cultivava-o
pra nosso bem e mal.
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Tornou-se
numa coisa milagrosa,
Curava
tudo, até enxaquecas;
Não
se dava conta quão perigosa
Era
a planta dos maias e astecas…
O
cheiro, o fumo, pose vistosa,
Criaram
templos, crentes, novas mecas.
Desenvolveu-se
a praga, o vício,
Atingindo
o próprio deus Lício.
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Fuma
pobre, rico, remediado,
O
dono das terras e seu caseiro;
Fuma
patrão, esposa, e criado,
O
alfaiate e o sapateiro…
Na
tasca, loja, em todo o lado,
Sorvo
fumo como tripa em fumeiro.
Cachimbo,
rapé, ou o vil cigarro,
Provocam
o aflitivo catarro.
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Pelo
sertão entraram garimpeiros,
Famintos
de vis metais preciosos;
Malta
sem trabalho, aventureiros,
Todos
eles rudes, gananciosos.
Vendiam
a alma por trinta dinheiros,
Terríveis
mentes, olhos capciosos.
Ai
que corja aquela, tão matreira,
Mais
feroz do que a fera verdadeira!
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E
para que serviu tanto metal,
Tanto
ódio, tanta vil matança?
Riqueza
sem controlo é letal,
Rói
em todos nós a doce esperança.
O
bem sucumbe perante o mal,
A
justiça falece na balança.
E
não há céu que tal obra suporte,
Por
isso, por sentença dá a morte.
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