DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
Por Joaquim A. Rocha
ROUBOS
(1936) - Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 325, de
20/9/1936: «Há
pouco tempo apareceu em Melgaço um indivíduo desconhecido que dava pelo nome de
António e consertava relógios ao ar livre no Largo da Calçada. Um dia destes o
tal indivíduo desapareceu desta vila levando todos os relógios que (…) lhe
haviam confiado para consertar, pertencentes aos senhores António Joaquim
Esteves, António Augusto Pires, Manuel da Garage, José Cerdeira, Manuel
Pereira, Manuel Gonçalves, e a uma criada da antiga Pensão Vila Verde. O mesmo
gatuno roubou uma toalha de felpo a Higina Cerdeira, em casa de quem esteve
hospedado e a quem ficou a dever quarenta e cinco escudos de hospedagem. Este
indivíduo, um dia antes de fugir, despachou na Central desta vila, com destino
a Viana, uma mala com diversos objetos. Ignora-se o seu paradeiro.»
*
(1936) - Na noite de 8 para 9/10/1936, noite de tempestade,
os gatunos penetraram pelo telhado e entraram na casa de habitação de Cândido
Augusto Esteves, comerciante, com estabelecimento no lugar do Cruzeiro da
Serra, Prado, descendo à loja, de onde roubaram chapéus, lenços, peúgas e
ligas, tabaco, fósforos, papéis de fumar, queijo, marmelada, chouriços,
bacalhau, e dinheiro que ali restava para trocos; calculou-se o valor do roubo
em 600$00 (Notícias de Melgaço n.º 328).
*
(1936) - PRIETO,
Raimundo (Padre). Filho de Francisco Prieto (Pereira
Lamela) e de Maria Joana Lamosa,
naturais de São Bartolomeu de Lamosa, Galiza. Neto paterno de José Prieto e de
Benita Lamela; neto materno de José Pedro Lamosa e de Maria Rosa Davila. Nasceu
no lugar da Peneda, freguesia da Gavieira, Arcos de Valdevez, às três horas da
manhã de 9/8/1878 (*). Padrinhos: Romão Salgado, lavrador, e Maria Campela. //
Em 1899 os seus pais, mais os irmãos, já residiam na freguesia de Cousso,
concelho de Melgaço. // Depois da instrução primária ingressou no Seminário de
Braga, ordenando-se sacerdote em 1901. // Paroquiou a freguesia de Cousso
durante muitos anos, primeiro como coadjutor; em 1912, já no tempo da
República, recebeu das autoridades uma intimação para no prazo de cinco dias
deixar a casa de residência paroquial. // A 17/8/1919 realizou-se na igreja
paroquial de Cristóval uma festividade em honra do Santíssimo. O correspondente
do Jornal de Melgaço nessa freguesia escreveu: «ao evangelho subiu ao púlpito o nosso amigo reverendo Raimundo Pereira,
digno reitor da freguesia de Cousso. Poucas vezes temos tido ocasião de
assistir a sermões feitos por este nosso amigo, e nunca assisti a sermão tão
erudito e ao mesmo tempo ao alcance de todas as inteligências, apesar do grande
mistério de que nesse dia tratava... (Jornal de Melgaço n.º 1259, de 24/8/1919). // Da freguesia de Cousso, a 9/8/1928,
transitou para a de São Paio de Melgaço, cuja igreja reconstruiu totalmente
entre 1930 e 1931. Essas obras foram muito criticadas, mas nas Obras Completas
do Dr. Augusto César Esteves, volume I, tomo II, página 424, lê-se: «Desta forma fica aliviada a responsabilidade
do encomendado Raimundo Prieto assumida quando em 1930 resolveu alargar e de
facto alargou a igreja, retirando-lhe os tais arcos.» // Na madrugada do
dia 2/11/1936, sendo ele então abade de São Paio, e estando a celebrar a missa,
uns ladrões assaltaram a residência paroquial, na qual ele habitava, e
roubaram-lhe um relógio de ouro, duas libras, uma moeda de 10$00 (em ouro?),
uma coleção de moedas de prata do centenário, uma máquina de cortar cabelo,
três garrafas de vinho fino, doces, chocolates, e uns polvos que estavam a
demolhar na cozinha, que os gatunos abandonaram, espetados num pau, perto da
dita residência. Diversas alfaias de prata, que se encontravam num armário, ficaram
intactas; assim como outros valores que os larápios não descobriram. //
Ideologicamente estava ligado ao regime corporativista, colaborando, assumindo
mesmo a vice-presidência da comissão concelhia da União Nacional. Não custa
crer que apoiou a queda da I República em 1926. // Apareceu morto a uma
terça-feira, 5/12/1939, na já citada residência paroquial de São Paio de
Melgaço; o funeral realizou-se a sete daquele mês, com dezassete sacerdotes a
acompanhar o féretro até à sepultura. Consta que morreu de desgosto, por ter
sido preso pela PIDE, quando albergou em sua casa um indivíduo que lutara na
guerra civil de Espanha contra as forças do Franco; fora denunciado pelo Dr.
João Durães, dono de uma farmácia na Vila de Melgaço. // Foi substituído pelo
padre Marques, natural do lugar de Lobiô, Rouças. // Deixou irmãos e sobrinhos;
entres estes, o pároco de Cristóval, padre Manuel José Pereira. /// (*) Os seus pais, comerciantes galegos, fabricantes
de cera, foram fazer as festas da Senhora da Peneda, e aí nasceu a criança.
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