terça-feira, 23 de outubro de 2018

OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de «Os Lusíadas», de Camões)
 
Por Joaquim A. Rocha





Primeira Parte (continuação)
 
 
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Chamaram índios, pele vermelha,

 Àquela gente da livre selva;

Tendo palhotas de barro, sem telha,

Pisando terra grosseira, sem relva…

Comendo raízes duras como relha,

 Ignorando o bom vinho de Huelva.

E para correrem com a má sorte

Rezavam ao próprio deus da morte!

 
                                    7
 

Índio não aceita ser submetido,

Esconde-se nas árvores, no mato;

Prefere andar no matagal fugido,

Como coelho selvagem, ou rato;

Até ser morto, gravemente ferido,

Viver as sete vidas como o gato.

Do branco rejeita qualquer lição,

A cruz de Cristo, hóstia ou pão!


8


O europeu, mui astuto, esperto,

Atrai a si o indígena puro;

Diz-lhe que a fouce anda por perto,

Estar junto de si é mais seguro…

E o inocente, de peito aberto,

 Cérebro limpo, mas um pouco duro,

Aproxima-se do hábil gatuno

Vencendo o parvo por oportuno.


9

 Tudo rouba, o cínico estrangeiro:



           As terras, costumes, a liberdade;

Só não lhe furta joias e dinheiro,

Nem coches, palácios, ou herdade.

Apesar de ser tudo verdadeiro

Há quem diga que isto é falsidade.

É bom que a história se refaça

Para a gente se rir desta chalaça.


10


E ainda que digam que sou cruel,

Que transporto o mal no meu fraco peito,

Que tenho nos olhos peçonha e fel,

E que às crónicas perco o respeito…

Eu pergunto: quem destruiu Babel,

Quem desviou aos rios o seu leito?

Porventura Moisés era menos mau

Por segurar nos braços santo pau?
 
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Nota: este livro pode ser enviado pelo correio. Preço: 10 euros mais custas de envio. Os pedidos devem ser feitos pelo seguinte e-mail: joaquim.a.rocha@sapo.pt

 

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