sábado, 7 de julho de 2018

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha



volfrâmio


CASA DE MELGAÇO

 

     Fundada em Braga por melgacenses a 10/4/1984. Não tinha fins lucrativos. Desempenhou durante algum tempo um papel importante na divulgação da cultura e produtos da terra, além de promover o convívio entre os naturais residentes na cidade dos arcebispos e apoiar estudantes do concelho, etc. A partir duma certa altura, por manifesto desinteresse dos membros da direção, e pequenas questiúnculas entretanto surgidas, deixou de existir na prática. O argumento é este: «Melgaço está muito próximo, e toda a gente tem carro; em menos de uma hora está-se lá.» // Em 1993 convidavam-se todos os melgacenses para um jantar de reis num restaurante de Braga (VM 998, de 15/12/1993). / No mesmo número do jornal informava-se que a 21 de Janeiro, na Casa-Museu Nogueira da Silva, ia haver um encontro, a fim de se eleger uma Direção «que possa tentar melhorar o funcionamento da Casa de Melgaço em Braga.» Como se podia melhorar se nem sequer havia uma sala própria para os membros da direção se reunirem?! / O padre Carlos Nuno escreveu: «O jovem António José Lourenço (…) vai tentar arranjar uma lista que possa encabeçar em devida forma a revitalização de uma série de iniciativas em favor da Casa de Melgaço em Braga.» E mais abaixo: «Na reunião deste ano, notou-se um pouco a falta dos melgacenses originários de Castro e que constituem um núcleo importante e com certo poder económico» (VM 999, de 1 e 15/1/1994).
 
  Poder-se-ia perguntar: para que era necessário possuir grande poder financeiro se com quaisquer cem euros por ano (ou até menos, se houvesse muita gente inscrita) dava para sustentar a Casa de Melgaço em Braga? Quanto a mim o problema nunca foi de dinheiro, mas sim de falta de energia, de tempo, e até um resquício de rivalidades entre freguesias do concelho. / A 1/2/1994, na Casa da Cultura da Câmara Municipal de Braga, elegeram-se os órgãos sociais: Alexandre Amoedo da Cruz Lourenço, presidente da direção; cónego e professor Dr. José Marques, presidente da assembleia geral; Dr. José Domingues, presidente do conselho fiscal. A duração do mandato seria de três anos. Um dos objetivos dos eleitos era angariar fundos para uma sede, mas isso nunca conseguiram, apesar da Câmara de Braga ter cedido o terreno (ver A Voz de Melgaço n.º 1002, de 1/3/1994). / Em 1995, a fim de celebrar o seu 11.º aniversário, levou a cabo dois eventos: o 1.º, um rico jantar: nas entradas, presunto de Fiães com melão, e enchidos, também de Fiães, e a seguir arroz de lampreia, tudo regado com os bons vinhos do concelho; o 2.º, de 21 a 25 de Abril, teve a ver com a sua participação na Agro/95, no Parque de Exposições de Braga, com pavilhão próprio, onde foram expostos produtos melgacenses (presunto, broa de milho e de centeio, lampreia seca, águas do Peso, etc.) e peças de artesanato (rendas, linhos, etc.), além dos livros “Na Terra de Inês Negra” e “VI Centenário da Tomada do Castelo de Melgaço”, e jornais. Foi um sucesso, por isso prometeu-se repetir (VM 1028, de 1/5/1995). Teve um grande elogio de Luís de Castro (VM 1029, de 15/5/1995). // Contudo, por inércia, tudo esmoreceu. / Em 1996 as coisas não corriam bem: adiou-se para 9 de Fevereiro «o tradicional jantar de natal» e iam substituir-se alguns elementos da Direção. O local da Assembleia Geral é que ainda não se sabia! (VM 1043, de 1 e 15/1/1996). / Num artigo, assinado por C.N., lê-se: «Em 9 de Fevereiro, sexta, à noite, em instalações da Universidade do Minho, no Campus de Gualtar, teve lugar o jantar de convívio entre melgacenses residentes em Braga e que já há doze anos vêm tentando fazer com que a Casa de Melgaço em Braga seja, realmente, o grande foco aglutinador dos melgacenses residentes na cidade dos arcebispos.» E mais à frente: «Apesar de haver uma sede provisória em instalações da Junta de Freguesia da Cividade, à Rua de São Geraldo, 42-1.º, são muito poucos os que, à noite, frequentam a sede e convivem, trocando ideias, dando sugestões» (VM 1045, de 15/2/1996). A direção tentava fazer alguma coisa além dos comes-e-bebes, como, por exemplo, criar uma biblioteca com livros e documentos de Melgaço, mas o individualismo reinante não permitiu isso. Uma lampreiada, acompanhada de bom vinho, tudo bem; agora ajudar o concelho, divulgar as suas potencialidades, pagar uma quota mensal, isso não.
 
 
    A Casa de Melgaço participou na Agro/96. No dia 30 de Abril os sócios foram comer um arroz de lampreia à Casa do Rio, em Palmeira, propriedade do professor Peixoto, presidente da Junta de Freguesia da Cividade. Houve discursos interessantes, boa disposição, ótimo convívio. Pela noite fora ouviram-se fados e guitarradas (VM 1050, de 1/5/1996). / Nova presença na Agro/97. A seguir teria lugar o «tradicional jantar de lampreia», outra vez na Casa do Rio, Palmeira, Braga (VM 1071, de 1/5/1997). / Em Novembro de 1998, numa assembleia geral, foram alterados os estatutos a fim da Casa de Melgaço ser equiparada a Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), beneficiando desse modo de ajudas do Estado. A Câmara Municipal de Braga colocou à disposição da Direção um terreno com 3200 m2, a fim de se construir a sede (VM 1110, de 15/2/1999). / A presidência da Câmara Municipal de Melgaço «manifestou apoio total às pretensões dos representantes da Casa de Melgaço em Braga, de construir uma sede social, centro de dia e outras valências na freguesia de Nogueira.» Para esse fim disponibilizou o arquiteto da Câmara (Melgaço Hoje n.º 36, de Março/1999). / A 15/5/1999 houve mais uma reunião de associados. Primeiro estiveram na igreja de Nossa Senhora-a-Branca, Braga, onde o cónego Dr. José Marques celebrou a Eucaristia, solenizada com cânticos, acompanhados com música de órgão executada pelo padre Júlio Vaz (sobrinho). Depois das fotografias dirigiram-se para a Casa do Rio, em Palmeira, viram o esboço da futura obra, «atacando depois a ementa…»: arroz de lampreia ou prato de carne. «Os vinhos eram da nossa terra, desde o São Rosendo tinto até várias marcas de alvarinho local» (VM 1117, de 1/6/1999). / Óscar Marinho, solicitador, afirma: «Sou um dos fundadores da Casa de Melgaço em Braga que, nos anos iniciais, manteve alguma actividade, mas que hoje, por factores vários, a que não é alheio o político, caiu em letargia» (VM 1171, de 15/11/2001). / Em A Voz de Melgaço n.º 1182, de 15/5/2002, convidavam-se os melgacenses residentes na capital do Minho para irem a Alvaredo comer um arroz de lampreia, no restaurante «Pomba», a 19 desse mês. Correu tudo bem. / A 28/3/2003 houve mais um jantar de lampreia: outra vez na Casa do Rio, em Palmeira (VM 1202, de 15/4/2003). / A partir daí não se conseguiu levar a cabo mais nenhum convívio produtivo, apesar de algumas tentativas, sobretudo junto do vice-presidente da Câmara Municipal de Braga, senhor Vítor de Sousa, nascido em Angola, salvo erro, mas descendente de melgacenses, que prometeu muito mas nada fez pelo concelho de seus pais. Entretanto, o presidente da direção, engenheiro Alexandre Lourenço casou, e a nova vida de casado e pai não lhe permite nenhuma disponibilidade. // Raul Francisco Cerdeira, bancário, descendente de um senhor melgacense, grande amigo de Melgaço, dinâmico como poucos, residente na cidade de Braga, morreu no dia 6/2/2013. Os outros melgacenses a residir na capital do Minho foram envelhecendo e desinteressaram-se da Casa de Melgaço. A Câmara Municipal de Melgaço também esqueceu esse projeto. Pudera! Com tantos problemas internos por resolver. Esqueceu os soldados que lutaram na 1.ª Grande Guerra, na Guerra Colonial, a reedição das obras completas do Dr. Augusto César Esteves, a edição das peças de teatro de Vasco Almeida, a aquisição de uma cópia do filme Serra Brava, etc., mas lembrou-se dos contrabandistas, que deram uma péssima imagem do concelho, dedicando-lhe um museu! A juventude já não quer saber de tal assunto. Melgaço está a cem quilómetros de Braga, as estradas não são más, de automóvel a gente põe-se lá em uma hora. // (ver também artigo publicado na VM 1182, de 15/5/2002, página 8).  
 

 

 

 

 
 
 
 
 
 
 









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