DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
Por Joaquim A. Rocha
canastro vazio |
CELEIRO
MUNICIPAL DE MELGAÇO
A entrada de Portugal na guerra
de 1914-1918 provocou no país uma grande agitação. Em outubro de 1910 tínhamos
saído do regime monárquico, com o erário nas lonas, com um analfabetismo
gigantesco, uma agricultura pobre e uma indústria quase inexistente. Apesar
disso tudo, o governo português insistiu com a aliada Inglaterra para entrar no
conflito armado. Um dos grandes argumentos colocados em cima da mesa consistia
no facto de se correr o risco de perdermos as colónias, que - ao tempo - nada
representavam para a economia nacional. Os jovens melgacenses foram atingidos
gravemente por essa desastrosa decisão. Uns fugiram, outros foram apanhados
como coelhos pelas forças armadas. Impreparados, lá foram lutar e morrer nos
campos franceses. Alguns deles deixaram viúva e filhos menores. Devido a esse
facto, começou a notar-se a falta de braços fortes para trabalhar a terra. O
milho, que era a base da alimentação dos minhotos, começou a escassear. O pouco
que havia era vendido para alimentar as tropas em combate. Assim, o governo
local teve a ideia de criar um celeiro municipal. Em Fevereiro de 1918 estava
em vias de formação. Em virtude do país ter entrado em guerra no ano anterior, ao
lado dos ingleses e franceses, o milho estava a ser contrabandeado e era necessário
que a Câmara Municipal interviesse, comprando-o por grosso a fim de depois o
vender a um preço justo a quem dele necessitasse (ver Jornal de Melgaço n.º 1194, de 9/2/1918).
// Ainda nesse dito mês de Fevereiro de 1918 os jornais melgacenses anunciam que
vai entrar no celeiro a primeira remessa de milho; foi nomeado pela Comissão
Administrativa o vogal Fernandes para vender e fiscalizar o dito cereal (JM 1195, de 16/2/1918). O dito celeiro afinal estava instalado
num salão do hospital da Santa Casa da Misericórdia (JM 1196, de 23/2/1918). // Em Março de 1918 já tinha duzentos
alqueires de trinta litros (JM 1199, de
16/3/1918). // No Jornal de Melgaço n.º 1216, de 27/7/1918, lê-se: «consta-nos que no celeiro municipal já não
há milho. Não sabemos nada deste assunto, porque a Câmara actual
propositadamente tem escondido o estado do celeiro do município.» // Enfim,
as guerras trazem riqueza para meia dúzia de capitalistas, e a fome e pobreza
para a maioria das populações.
O milho para alimentar as tropas em combate!... Sempre se disse e está comprovado que as tropas em combate eram alimentadas pelo "corn beef" inglês, que a tropa detestava, bem como o respectivo armamento e até fardamento. Isto sim dà-nos a ideia da miséria mais que franciscana da república afonsista. O milho escasseava isso sim, mas era para alimentar os de cá, pois era preciso dinheiro (e não havia) para importar o carvão e algum trigo para alimentar os citadinos (que não estavam habituados á broa, mas á falta de melhor...) Óbviamente que o milho era o mesmo de sempre , mas as perturbações do mercado levavam a que os lavradores o vendessem a preço de mercado em vez de o "dar" ao preço que o governo queria. Ora para a tropa é que não ia; talvez algum fosse para as bestas e muares do nosso exército.
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