domingo, 2 de outubro de 2016

ESCRITOS VÁRIOS
 
Por Joaquim A. Rocha
 
 
 
 
A GUERRA
     Muito se tem escrito sobre a guerra: uns contra, outros a favor! Os defensores da guerra são, sobretudo, militares de carreira, políticos loucos, e alguns industriais. Os primeiros ambicionam a glória, as medalhas, as páginas bajuladoras de um qualquer historiador. Não é por acaso que civis vestiram farda: Hitler, Estaline, Kadafi, Hussein, e tantos, tantos outros! Angola e Moçambique, já livres de uma guerra colonial, envolveram-se em guerras civis devido à violação de acordos; a Jugoslávia, país de progresso e bem-estar, mergulha numa guerra fratricida inexplicável; algumas repúblicas da ex-URSS disputam, numa linguagem marcial, parcelas de território e migalhas de efémero poder; a Somália entrega-se a Marte, deus da destruição; na África de Sul fala-se de paz e atira-se a matar! Ninguém, quase ninguém, consegue resolver os seus problemas internos ou externos sem recorrer à violência, à lei do mais forte, do melhor armado. Os governos, quer sejam de países ricos ou de países pobres, gastam quantias astronómicas em armamento. Não lhes interessa se o povo tem ou não o essencial para viver. Gastaram-se fortunas fabulosas com armas que hoje já são obsoletas! Gastaram-se rios de dinheiro com investigação na área da defesa que quase sempre se transforma em ataque. A guerra alimenta uma indústria mafiosa: espionagem, contra espionagem, chantagem, corrupção, etc. Em tempo de guerra, ninguém se sente seguro; a imparcialidade é tida como traição e punida com a morte! O Homem desce, desce, até se aproximar dos animais mais selvagens e sanguinários, esquecendo séculos de civilização e cultura. Homero, o poeta cego, não deveria merecer o nosso respeito porque ousou cantar, nos seus belíssimos poemas, a guerra cruel que opôs gregos a troianos. Os poetas devem compor hinos à paz, ao progresso, ao amor. Napoleão, Alexandre, Júlio César, Gengiscão, grandes guerreiros, deveriam ser para nós apenas exemplos negativos. Deveríamos ensinar às crianças que esses homens nunca estiveram ao serviço da humanidade mas contra ela; estiveram sim ao serviço de interesses mesquinhos.
     A tese de que o progresso nasce das guerras é completamente falsa; só em tempo de paz se pode produzir com regularidade e harmonia. Será progresso produzir armas químicas e atómicas que tudo destroem? Será progresso poluir rios, mares, oceanos, cidades? Será progresso construir aparelhos espiões que tudo observam, não respeitando sequer a privacidade, a intimidade das pessoas? Será progresso a insegurança, o mal-estar, o desemprego, o êxodo de populações inteiras? Será progresso pedir aos camponeses e operários que deixem de trabalhar para não haver excesso de produção quando diariamente morrem centenas e centenas de crianças e adultos em todo o mundo à fome? Que raio de progresso é este que não traz felicidade aos habitantes deste martirizado planeta? Os políticos, aquando das campanhas eleitorais, tudo prometem; já no poder, esquecem-se daquilo que prometeram. É daí que nasce a descrença nessa classe: o desespero, a indiferença, a revolta! A guerra não prejudica somente o ser humano: prejudica igualmente as outras criaturas da Terra, os animais da selva, as aves, os peixes do mar…Tudo, sem exceção, é afetado!
 
 Artigo publicado em A Voz de Melgaço n.º 978, de 1/2/1993.



 

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