ESCRITOS VÁRIOS
Por Joaquim A. Rocha
A GUERRA
Muito se tem escrito sobre a guerra: uns
contra, outros a favor! Os defensores da guerra são, sobretudo, militares de
carreira, políticos loucos, e alguns industriais. Os primeiros ambicionam a
glória, as medalhas, as páginas bajuladoras de um qualquer historiador. Não é
por acaso que civis vestiram farda: Hitler, Estaline, Kadafi, Hussein, e
tantos, tantos outros! Angola e Moçambique, já livres de uma guerra colonial,
envolveram-se em guerras civis devido à violação de acordos; a Jugoslávia, país
de progresso e bem-estar, mergulha numa guerra fratricida inexplicável; algumas
repúblicas da ex-URSS disputam, numa linguagem marcial, parcelas de território
e migalhas de efémero poder; a Somália entrega-se a Marte, deus da destruição;
na África de Sul fala-se de paz e atira-se a matar! Ninguém, quase ninguém,
consegue resolver os seus problemas internos ou externos sem recorrer à
violência, à lei do mais forte, do melhor armado. Os governos, quer sejam de
países ricos ou de países pobres, gastam quantias astronómicas em armamento.
Não lhes interessa se o povo tem ou não o essencial para viver. Gastaram-se
fortunas fabulosas com armas que hoje já são obsoletas! Gastaram-se rios de
dinheiro com investigação na área da defesa que quase sempre se transforma em
ataque. A guerra alimenta uma indústria mafiosa: espionagem, contra espionagem,
chantagem, corrupção, etc. Em tempo de guerra, ninguém se sente seguro; a
imparcialidade é tida como traição e punida com a morte! O Homem desce, desce,
até se aproximar dos animais mais selvagens e sanguinários, esquecendo séculos
de civilização e cultura. Homero, o poeta cego, não deveria merecer o nosso
respeito porque ousou cantar, nos seus belíssimos poemas, a guerra cruel que
opôs gregos a troianos. Os poetas devem compor hinos à paz, ao progresso, ao
amor. Napoleão, Alexandre, Júlio César, Gengiscão, grandes guerreiros, deveriam
ser para nós apenas exemplos negativos. Deveríamos ensinar às crianças que
esses homens nunca estiveram ao serviço da humanidade mas contra ela; estiveram
sim ao serviço de interesses mesquinhos.
A tese de que o progresso nasce das
guerras é completamente falsa; só em tempo de paz se pode produzir com
regularidade e harmonia. Será progresso produzir armas químicas e atómicas que
tudo destroem? Será progresso poluir rios, mares, oceanos, cidades? Será
progresso construir aparelhos espiões que tudo observam, não respeitando sequer
a privacidade, a intimidade das pessoas? Será progresso a insegurança, o
mal-estar, o desemprego, o êxodo de populações inteiras? Será progresso pedir
aos camponeses e operários que deixem de trabalhar para não haver excesso de
produção quando diariamente morrem centenas e centenas de crianças e adultos em
todo o mundo à fome? Que raio de progresso é este que não traz felicidade aos
habitantes deste martirizado planeta? Os políticos, aquando das campanhas
eleitorais, tudo prometem; já no poder, esquecem-se daquilo que prometeram. É
daí que nasce a descrença nessa classe: o desespero, a indiferença, a revolta!
A guerra não prejudica somente o ser humano: prejudica igualmente as outras
criaturas da Terra, os animais da selva, as aves, os peixes do mar…Tudo, sem
exceção, é afetado!
Artigo publicado em A Voz de Melgaço n.º 978, de 1/2/1993.
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