DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
Por Joaquim A. Rocha
cartas de um castrejo
20.ª - «Senhor
Redactor: inertes como uma pedra,
paralisadas como um defunto, assistem as autoridades que superintendem na
escola, às nossas justas reclamações. Baseados no princípio incontestável de
que pugnamos pelo bem da nossa querida freguesia, firmes no propósito de fazer
quanto esteja ao nosso alcance para que a dotação de escolas, neste meio, seja
equitativa com a população escolar, não arrepiaremos caminho, ainda que seja
preciso mandar vir um dos trons que escaparam em Aljubarrota, para despertar
estes sonâmbulos. E, enquanto não nos chega a encomenda – único remédio seguro
talvez, vamos tratar de outro assunto que, conquanto de somenos importância,
pode ser um factor potente para o começo do nosso progresso, para o nosso
engrandecimento. Os nossos ares, embalsamados do aroma salutar das flores da
giesta, da urze e do tojo; as nossas águas filtradas através das mais finas
rochas – (…) – e superiores às melhores águas, aconselhadas pela medicina, para
facilitarem a digestão (…); os nossos montes, aqui plenos e escarpados, além
com quedas abruptas e fantásticas, mais além com cristas que assemelham
gigantes negros, à espreita do raiar do sol – a nossa Pena da Anamão, um bloco
maciço de pedra, de onde dizem se avista Braga e Barcelos; o nosso castelo que
(…) daria muito que estudar a doutos arqueólogos; a nossa igreja, que deveu ser
um templo magnífico, de que conserva as insígnias; os nossos lugares dispersos;
a nossa vila, que já foi sede de concelho; os nossos prados; as nossas searas;
os nossos urzais e giestais; os nossos barbeitos de batatais, em flor; as
nossas casas colmadas, a destacarem-se nas encostas pelo fumo das lareiras…
tudo isto e o tipo natural do homem e da mulher castrejos, estudados no seu
trajar e modalidades, e na sua psicologia particularíssima, dariam azo a um
estudo demorado e lucrativo. Este misto de poesia e dureza, este feixe de
encantos e desilusões, devia ser visitado por inúmeros “alpinistas”, para o
admirarem na sua grandeza natural, para o estudarem no mais recôndito dos seus
arcanos. Sei que não temos hotéis, nem mesmo as estalagens mais comezinhas para
receber os visitantes; mas, se se estabelecesse uma corrente, que merece a
pena, Castro Laboreiro tem energias e conseguiria proporcionar-lhes um
bem-estar relativo, em harmonia com o meio. Enquanto… uma merenda ao ar livre …
é um mimo. E junto dum regato rumorejante? E ao pé duma fonte que murmura?
Quando a benemérita Sociedade de Propaganda de Portugal nos conhecer, estamos
certos até de que o silvo da locomotiva, como já sonhamos, nos despertará, um
dia, do nosso sono criminoso. // Amedrontaram-nos as últimas chuvas, pois nos
lançaram por terra as searas prometedoras. O tempo, porém, melhorou e a
colheita deve ser óptima. // Lavradores amigos, não se esqueçam de sulfatar os
batatais. Um pulverizador pode servir um lugar ou mais. O sulfato está carinho,
mas dá resultado no excesso da colheita. Não durmam, pois, se querem que a
batata castreja não perca os seus foros de ser a melhor desta região. Castro Laboreiro,
22/6/1916.»
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