DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
Por Joaquim A. Rocha
cartas de um castrejo
15.ª -
«Senhor Redactor: (…) em quase
nada havemos sido atendidos nas nossas justas reclamações. (…) Enquanto ao
humilde castrejo der guarida nas colunas do “Correio de Melgaço” não desanimaremos.
Combater, combater pelas regalias da nossa querida terra, a ver se um dia a
vemos alçapremada ao lugar a que tem jus, é o nosso lema. Por isto e porque estamos
certos de que a nossa paróquia – que conta entre os seus membros verdadeiras
dedicações (pois cá os castrejos só por uma escorregadela é que vão à urna arrebanhados),
não descuidará a nossa lembrança da última carta, preparando uma representação
à Câmara Municipal de Melgaço, pedindo as escolas a que tem direito, segundo a
lei vigente, apresentando com recomendação infalível os recenseamentos
escolares. Não trepidem: no próximo domingo, se não pela semana, em sessão
extraordinária, tratem com carinho do assunto magno da instrução na nossa
terra, e terão as bênçãos dos coevos e dos vindouros. Não duvidamos de que os
membros da nossa paróquia aproveitarão o nosso alvitre, porque temos a plena
certeza de que os nossos queridos conterrâneos não escolheram para lugares de
tão alta responsabilidade pessoas que lhes não mereçam absoluta confiança. E se
não emendem-se, de hoje para sempre, conservando a sua independência na
liberdade de votar e, muito especialmente, nas colectividades administrativas.
Se não os conhecerem, não os elejam, ainda que lhes peça o paizinho. // Não nos
consta que o mais pequenino remédio fosse aplicado à nossa enfermidade,
produzida pelo chefe do posto fiscal, cá da freguesia. Ao castrejo foram-lhe
aplicados direitos e multa, por transgressão, em que teve como Cireneu (*) o
tal chefe de posto. (…) Nós não queremos que este fique sem pão para si e para
os filhos, nós não lhe queremos, mesmo, mal nenhum; mas julgamos que, para
haver igualdade na justiça, seria de extrema necessidade deslocar, ao menos, o
chefe do posto, pagando com o deslocamento o que o castrejo, injustamente em
parte, pagou em dinheirinho!.. Diz-lho, convicto… Castro Laboreiro,
12/5/1916.»
/// (*) refere-se
a Simão de Cirene, que ajudou Jesus a carregar o lenho, segundo a bíblia (novo
testamento).
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