MELGAÇO E AS INVASÕES FRANCESAS
Por Augusto César Esteves
... (continuação)
«Um escudo esquartelado, no primeiro
quartel as armas dos Sousa por privilégio que são escudo esquartelado, no
primeiro e quarto as quinas de Portugal sem orlas de castelos, no segundo e
terceiro em campo de prata um leão de púrpura, no segundo quartel as armas dos
Castro, em campo de prata seis arruelas azuis postas em duas palas, no terceiro
quartel as armas dos Lobato em campo sanguinho, três castelos de prata em
roquete, com portas e frestas lavradas de preto, e uma orla de ouro e nela oito
lobos negros a seu direito, no quarto quartel as armas dos Menezes Teles, que
são esquarteladas, no primeiro e quarto, em campo de ouro, um leão de púrpura,
no segundo e terceiro em campo de prata também um leão de púrpura. / Elmo de
prata aberto guarnecido de ouro. / Paquife dos metais e cores das armas. / Timbre
o dos Castro que é um caranguejo de prata arruelado de arruelas azuis com as
duas bocas pegadas no elmo e por diferença uma brica vermelha com um trifólio
de ouro.»
Pondo para o lado os papéis
referentes à compra do campo de Corujeiras a D. Isabel Maria da Visitação, uma
senhora nascida em Prado e arrumada no Recolhimento de S. Tiago em Viana Foz do
Lima, peça herdada de seu pai, o Reverendo Sebastião Soares, de Rouças, lera e
levara o mesmo destino a procuração passada em 2/7/1765 constituindo
procuradores a Lourenço José Gomes de Abreu e a Francisco Xavier Gomes de
Abreu, filho e neto do fundador da Capela da Pastoriza, residentes naquela vila
de Viana, para cobrarem do pagador geral do partido da cidade do Porto o
dinheiro que se lhe estava devendo da comedoria da besta da equipagem do tempo
da triste campanha de 1762, durante a qual ele foi capitão do regimento da vila
banhada pelo Lima. Com gesto de enfado atirou para longe de si um outro papel,
porque nele se escrevera:
10.º- «Que o dito avô
comum destas partes, Diogo António, sendo sargento-mor da dita praça de Monção,
foi preso na praça de Valença à ordem do Governador das Armas desta província e
na ocasião em que estava preso na dita praça donde reside e é natural o A.
Gabriel P[ereir]a aí o moveram pelas sobreditas causas a não impedir o dito seu
casamento o que aliás havia de fazer e justas razões.»
Mas salientou, e muito bem,
como tendo enviuvado de D. Escolástica Abundância Teixeira de Freitas e Faria,
de Guimarães, irmã do Licenciado Miguel de Freitas Teixeira de Faria, Juiz de
Fora em Vila Nova de Cerveira e depois Ouvidor de Cabo Verde, passou com o
posto de capitão de infantaria aos Estados do Grão-Pará e de Mato Grosso, no
Brasil, por onde desbaratou um ror de anos da sua vida. // Dali, após mil canseiras
para fazer da aldeia de Santo António de Trocano a progressiva vila de Borba a
Nova e nela ser o primeiro juiz ordinário e o seu governador e exercer outras
funções a contento dos altos poderes da colónia, como voltou à pátria a tempo
de ser incorporado naquela campanha de 1762, em que lhe morreu o primogénito e
como acabou, graças ao seu valor e à sua valentia, por comandar com o posto de
Sargento-Mor a praça de Caminha e, em seguida, a de Monção, onde faleceu em
1780, num quarto do «Hospital Real em que morava.»
De seu trisavô, António de
Castro de Sousa Lobato, também familiar do Santo Ofício, Cavaleiro da Ordem de
Cristo e capitão de cavalos, descreveu como nas fraldas da Quinta do Fecho, nos
terrenos herdados do pai e noutros por ele comprados, a meio caminho da vila e
à margem da primitiva estrada, fez o vínculo do morgado de Galvão à custa dos
terços dos bens seus, de sua esposa, D. Joana Maria de Menezes
Cardoso, oriunda de Guimarães e das seis irmãs dele, D. Madalena Felgueiras, D.
Francisca de Cavedo Araque, D. Jacinta Osores de Castro, D. Maria Lobato de Castro,
D. Antónia Soares e D. Juliana Felgueiras,
todas sem noivo, no dia 16/12/1703 e os encargos impostos aos sucessores e
administradores, nada menos que treze missas, rezadas no decurso do ano na
capelinha de Santo António, construída pertinho do solar, e a obrigação de
tomarem «sempre
os apelidos dos Castro, Sousa e Menezes, em memória dos primeiros instituidores
donde descenderam.»
E contando como seu
trisavô, em 1706, sob o comando do Marquês de Minas fez as campanhas da Guerra
da Sucessão ao trono de Espanha, batendo-se contra as tropas franco-espanholas
comandadas pelo duque de Bervick, expôs a sua acção na conquista e destruição
da vila de Brozas, no cerco e tomada de Alcântara, na entrada em Moraleja, em
Coria, Plassença, Almorás, Ciudad Rodrigo, Salamanca e, de vitória em vitória,
disse como se ocupou Madrid e se fez aclamar rei de Espanha a Carlos III. // E
terminou lembrando como em 1707 o exército português, deixando os quartéis de
inverno e indo procurar o inimigo, o encontrou em Almansa e com ele travou no
dia 25 de Abril uma batalha funesta para as nossas armas. Obraram prodígios de
valor os portugueses, ninguém o contesta; mas isoladamente, sem qualquer
unidade de orientação e, por isso, perderam a batalha, deixando a juncar o
campo milhares de mortos e nas mãos do inimigo milhares e milhares de prisioneiros.
Entre estes ficou o filho do seu trisavô materno, o João, o primeiro administrador
do Morgado do Pombal e, entre os mortos, o seu trisavô paterno, aquele que deu
lustre e grandeza à nobre Casa das Sete Donas. // (continua)...
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