QUADRAS AO DEUS DARÁ
Por Joaquim A. Rocha
«Penso, logo
sobrevivo»,
Dizia o grão
pensador.
Eu digo ao tal
senhor:
Penso, logo
estou f’rido.
O burro da
minha terra
Não pensa,
mas existe;
O que ele
quer é comer,
À boa palha
não resiste.
O abade
esfomeado
Diz à criada
e amante:
Traz-me
presunto fumado
E garrafa de
espumante.
O bruto do
marinheiro
Diz à sua
namorada:
Traz linguiça
do fumeiro,
Espumante da
Bairrada.
Pede à sua cozinheira:
Traz-me
presunto da terra,
E bom vinho
da Madeira.
O Serafim de
Fiães
Só trata do seu
umbigo:
Gosta de
gatos e de cães
Mas não lhes
dá o presigo.
A tia Maria
Farruca
Era amiga desta
gente:
Da chirela e
da cuca,
E até do ladro
tenente!
O Antoninho,
coitado,
Tinha corpo
de anão;
Bebia que
nem soldado,
Comia que
nem leão!
Eu não quero
dizer mal,
Daqueles que
conheci;
É a grei de
Portugal,
Com sangue
de javali.
Eu não quero dizer mal
Da gente da
minha terra;
Eu sou como
eles, tal qual,
Lobo-do-mar
e da serra.
Eu não posso
dizer mal
Da malta da
minha estirpe;
Não há outro
povo igual,
Mas temo que
me extirpe.
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