A GERINGONÇA
(I)
Lembra-me
a torre de Pisa
Inclinada,
a vergar;
O
bacalhau à Narcisa,
Servido
no alto mar.
Não
ganhou as eleições,
O
nauta que deu à costa;
Tinha
lama nos calções,
E
na cara uma lagosta.
Ninguém
nele apostava,
Nem
os companheiros do jogo;
Mas
o homem acreditava
Que
o canhão fazia fogo.
Disparou
contra a direita,
A
esquerda aplaudiu;
A
margem era estreita,
Mesmo
assim não desistiu.
Pôs-se
à frente do partido,
À
cabeça do governo;
Ficou
forte, destemido,
Enfrentou
céu e inferno.
Chamaram-lhe
geringonça
À
coisa que ele formou;
Pesa
menos do que a onça,
Mas
nem o vento a levou.
Passou
um ano a tremer,
Cai
não cai, mas não caiu;
Apesar
dela gemer,
A
coitada resistiu.
Vai
passar mais um anito,
Vinte,
até um centénio;
Este
luso é um grito,
É
português, é um génio.
É
um verdadeiro artista,
Aplaudido
de pé;
Inspirou
já um fadista,
De
seu nome Chama Né.
Ele
ama a coisa pública,
Faz
tudo prà melhorar;
Quer
ser chefe da república,
Todos
nele vão votar.
Ele
engonça, desengonça,
Anda
prà frente e pra trás;
E
assim vai geringonça
Nas
mãos deste capataz.
Um
dia dá ao artelho,
Foge
prò médio oriente;
Leva
com ele o coelho,
A
geringonça da gente.
Deixa
este povo a chorar,
Perdidinho
de saudades;
O
país vai soçobrar,
Estilhaços
pelo ar
Já
se veem pelas herdades.
Talvez
Dom Sebastião,
Volte
do seu cativeiro;
Traga
de novo a ilusão
A
este povo fagueiro.
Corra
com os candongueiros,
Turistas
de meia tigela;
Com
vinte ou trinta dinheiros,
Comem-nos
como gazela.
Devolva
as casas aos velhos
Que
moravam em mil bairros;
Pobrezinhos,
quais fedelhos,
Cobertos
de grossos sairros.
*
GERINGONÇA
(II)
Geringonça
fez dois anos,
Fez
dois anos geringonça;
Os
benefícios e danos
Já
pesam mais do que a onça.
São
já vinte e quatro meses
À
espera de milagres,
Mil
discursos, entremezes,
De
Melgaço até Sagres.
Caiu
dinheiro do céu,
Melhoraram
as pensões,
Ao
Afonso e ao Abreu
Aumentaram
dez tostões!
O
ordenado cresceu
Tal
como a erva daninha,
Aventuras
de Teseu,
A
fortuna da tainha.
À
sombra do orçamento
Viu-se
o “mínimo” trepar;
Mas
não chegou ao seis cento,
O
patrão vai adorar.
À
sede vamos morrer
Neste
Portugal hodierno;
Não
há água pra beber,
Isto
parece o inferno!
Só
vejo gente a chorar,
Pedir
chuvinha ao céu;
Só
nos resta implorar:
«Venha a nós o escarcéu.»
Não
há vento não há chuva
Só
calor e mais calor;
Seca
azeitona, a uva,
As
nozes mirram de dor.
A
castanha não cresceu
Diz-se,
por causa da água;
A
água-pé esmoreceu,
Cheia
de tristeza e mágoa.
Incêndios
na floresta
Crescem
cem todos os anos;
Para
uns é uma festa,
Para
outros são mil danos.
A
culpa morre solteira,
Foi
fulano ou sicrano;
Parece
mais brincadeira
Do
maganão zé beltrano.
Acusa-se
a natureza,
Acusam
incendiários;
Não
se sabe com certeza,
Devem
ser os mercenários.
A
polícia judiciária
Vai
prendendo os suspeitos,
Mas
a canalha alimária
Para
tudo tem seus jeitos.
A
culpa é de São Pedro
Que
nos fechou a torneira;
Foi
iludido por Fedro
Num
dia de borracheira.
Vamos
esperar outro ano,
Esquecer
este verão,
Pedir
ao bom deus Vulcano
Que
não queime o lusitano,
Leve
o fogo prò vulcão.
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