quinta-feira, 29 de março de 2018

OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de Os Lusíadas, de Camões)
 
Por Joaquim A. Rocha
 
 

 
(continuação)...
 
PRÓLOGO
 
27

 Invocarei as cem forças do bem,

Para me ajudarem nesta tarefa;

Pois sozinho, serei um zé-ninguém,

No meio da multidão, da catrefa…

Duvido se chamarei mais alguém

Pra servir de cadilho, de sanefa.

Ai, se eu tivesse o apoio do Olimpo,

Pra este poema eu tornar limpo!

28
 
Pedirei ajuda aos bons poetas,

Escritores daquém e além mar;

A todos os deuses, aos mil profetas,

À natureza, astros, ao luar...

Tirarei manuscritos das gavetas,

Lançá-los-ei aos ventos, ao puro ar!  

Porém, peço-vos, ninguém me apresse,

Antes que Hermes ouça minha prece.

 
 
 
29

Eu só quero ter arte, o talento,

Pra vos dar uma obra acabada;

Passarei mil noites de sofrimento

Deitar-me-ei quase de madrugada.

Não haverá mais arrependimento,

Tédio, uma grande estopada…

Tudo isto farei com gozo, prazer,

Preferindo o trabalho ao lazer.

30

Resistirei à fome, ao cansaço,

Pedirei a Hércules sua força,

- (Que se torne ele madraço) - …

 Um cérebro veloz como a corça,

Um tronco mais forte do que o aço,

Pois o querer na luta se reforça...

E jamais o ser humano se esqueça:

Só deve criticar quem o mereça.

 
 
 
31

Vai causar assombro, admiração,

Esta esfarrapada epopeia;

Nasceu dum sonho, duma ilusão,

De uma estranhíssima ideia…

Pelo feito não vos peço perdão,

Os sonhos não se prendem na cadeia.

    Podem não valer dez réis estes versos,

Mas são puros, altivos, não perversos.

32

Peço-vos, não façam comparações:  

Virgílio escreveu a «Eneida»,

«Os Lusíadas» são obra de Camões;

 «Os Gatos» são de Fialho d’Almeida,

Omitindo mil outras criações

Inspiradas por Tétis a “Nereida”…

Lembro-vos só a «Divina Comédia»,

O Dante a brincar com a tragédia.

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