POEMAS DO VENTO
Por Joaquim A. Rocha
O
vento fala comigo
e
eu não sei o que ele diz:
«trago novas de um amigo,
lamentos
de uma infeliz.»
Açoita
meu rosto pálido,
afaga
meus brancos cabelos;
nivela
meu olhar cálido,
aviva e agita meus desvelos.
Traz-me
à ideia a infância,
onde
a pobreza reinava,
e,
sem fé, nem esperança,
os
tristes dias passava!
Vento!
– Que novas são
as
que trazes no teu bojo?
Diz-me,
que meu coração
está
já a pedir, de rojo!
Diz-me
onde estão meus amigos,
Se
vivem bem no outro mundo;
Se
tem por lá inimigos,
Um
novo amor profundo.
Diz-me
que comidas comem,
Se
são servidos por anjos;
Se
em macias camas dormem,
Se têm asas como arcanjos.
Diz-me
tudo o que lá se passa,
Tudo
eu quero saber;
Diz-me
se por lá há desgraça,
Se
há ódio e malquerer.
Diz-me
tudo, que eu não sei
O
que por lá acontece;
Diz-me
se há rainha ou rei,
Se
a aranha ainda tece.
Diz-me
tudo, tudo, tudo,
Neste
tão longo e triste dia;
Eu,
para te ouvir, fico mudo,
Indiferente à maresia.
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