domingo, 1 de abril de 2018

GENTES DE MELGAÇO
(micro biografias)
 
Por Joaquim A. Rocha





desenho de Luís Filipe G. P. Rodrigues (melgacense)


FERNANDES, Francisco (Padre). Filho de José Fernandes e de Isabel Maria Fernandes, ela do lugar de Cainheiras e ele do lugar de Mareco, onde moravam. Neto paterno de Manuel Fernandes e de Ana Rosa Esteves; neto materno de Sebastião Fernandes e de Anastácia Afonso. Nasceu na freguesia de Castro Laboreiro, concelho de Melgaço, a 28/3/1885 (*) e foi batizado a 29 desse mês e ano. Padrinhos: Francisco Alves e sua mulher, Isabel Gonçalves, do lugar de Dorna (assistiu ao acto, com procuração do padrinho, o padre-cura José António Afonso). // A 18/7/1905, sendo estudante do 2.º ano do Curso Teológico, no seminário de Braga, serviu de testemunha na boda de Bernardo António Pereira de Castro e de Ludovina Rosa Domingues, realizada na casa do noivo, em Eiró, Rouças. // A 5/9/1907, na igreja de Lamas de Mouro, ainda era estudante minorista, foi padrinho de Laura de Jesus Domingues (1907-1997). // Ainda em 1907 concluiu, em Braga, o 3.º ano do dito Curso (Jornal de Melgaço n.º 689). Tomou ordens de subdiácono nesse ano (JM 702). Foram-lhe concedidas ordens sacras de presbítero em 1908 (JM 753). Cantou missa nova na igreja da sua terra natal a 4/10/1908. Assistiram à missa, além de outros, o político João Pires Teixeira, da Vila de Melgaço, os párocos de Fiães, Lamas de Mouro, Rouças, Prado, Cubalhão, o Dr. Manuel Gonçalves, o comendador Matias de Sousa Lobato, os padres João Nepumoceno Vaz, Manuel José Rodrigues, Manuel José Esteves, José António Alves e José António Afonso.

desenho de Luís Filipe G. P. Rodrigues (melgacense)

     A 21/7/1912 foi preso; morava em Cavaleiros, Rouças. Informa-nos o Correio de Melgaço n.º 13, de 1 de Setembro desse ano: «Em harmonia com o disposto no § 1.º do art.º 337 do Código do Processo Criminal foi mandado constituir o tribunal marcial de Braga, a fim de no mesmo serem julgados os presos políticos, nossos conterrâneos, reverendos Francisco Fernandes, Manuel Joaquim Domingues, ausente em parte incerta, e o seminarista João Evangelista Rodrigues…» // Parece que tinham colaborado na intentona monárquica de Paiva Couceiro. Há quem afirme que cantaram: «E viva Paiva Couceiro/viva, viva, outra vez;/ele é que nos demonstra/ser um grande português.» // Mas a sua luta, para derrubar o regime republicano, continuou. // Juntamente com o seminarista João Evangelista Rodrigues, também natural de Castro Laboreiro, foi julgado no tribunal marcial de Braga, tendo sido ambos condenados no tempo em que permaneceram detidos; eram acusados de conspiração contra a República. Chegaram à Vila de Melgaço no dia 24/9/1912, comemorando o evento com os amigos no “Café Melgacense” (Correio de Melgaço n.º 17, de 29/9/1912). // O seu nome surgia de vez em quando nos jornais. Lê-se no Correio de Melgaço n.º 119, de 6/10/1914: «Quando é que o Sr. administrador [Dr.] António Francisco Sousa Araújo, oficia ao delegado do Procurador da República nesta comarca, acusando-se do crime de prevaricação, previsto e punível pelo art.º 287 do Código Penal, visto que, dolosamente, e a pedido do padre Francisco Fernandes, faltou às obrigações de seu cargo, mandando sustar o andamento de um processo de liquidação de legados pios, dando ao mesmo tempo ordem ao secretário (Maker), que agora enviou para juízo (acusado de peculato), para que dali em diante se não instaurassem processos daqueles, pois era mais conveniente avisar particularmente os devedores??? Quando?» // Lê-se no Correio de Melgaço n.º 166, de 19/9/1915: «Pela autoridade administrativa foram detidos dois indivíduos que deram os nomes de Manuel Esteves e José Maria Pereira, o primeiro de Viana e o segundo de Roças, Vieira; supõe-se que sejam conspiradores saídos das cadeias de Guimarães, ou pássaros bisnaus de olho vivo, avaliando pelas declarações contraditórias que prestaram ao administrador do concelho. Este, depois de inquirir também os reverendos Francisco Fernandes, de  Cavaleiros (residente),  e João Evangelista Rodrigues, de Castro Laboreiro, que abonaram os presos numa hospedaria qualquer, requisitou dois agentes da Polícia Judiciária, a fim de procederem a averiguações e custodiarem os detidos até Viana, onde já se encontram de “perfeita saúde” e … sem liberdade

desenho de Luís Filipe G. P. Rodrigues (melgacense)

    No Correio de Melgaço n.º 192, de 26/3/1916, lemos: «No tribunal desta comarca respondeu em audiência de polícia correccional, a 20/3/1916, o reverendo Francisco Fernandes, de Cavaleiros (residente), por ter promovido a tal reunião (política) do Peso, de que já nos ocupámos. Não terminou, porém, em virtude da falta de tempo, sendo marcado o dia 27 para a continuação.» // Concluiu-se na segunda-feira, 27/3/1916, a audiência referida. O réu foi condenado em 30 dias de multa a $50/dia, e custas e selos do processo. O advogado de defesa, Dr. António Francisco de Sousa Araújo, (morador no lugar) do Granjão, Paderne, apelou da sentença para a Relação do Porto (Correio de Melgaço n.º 193, de 2/4/1916). // No Jornal de Melgaço n.º 1175, de 15/9/1917, lemos: «O (…) padre Francisco Fernandes, de Cavaleiros (residente), foi encarregado de pastorear a freguesia de Couto de Gondufe, Ponte de Lima; sentimos a sua ausência, pois era capelão da Misericórdia de Melgaço, cargo que sempre desempenhou com toda a correcção.» // Em Abril de 1919 era anunciada no jornal do concelho a sua visita à família e à terra natal. Morou no lugar de Cavaleiros, freguesia de Rouças, na Quinta que o seu irmão Manuel José ali comprara. Segundo consta, foi pai de três filhos: uma rapariga e um rapaz, gerados numa mulher, e de mais um rapaz, gerado noutra. Também consta que um certo dia foi apanhado por dois homens, numas mimosas, com uma rapariga de 17 anos de idade, órfã de pai, e com a mãe doente. Eles julgavam que era o “padre-nunca” (João Evangelista Rodrigues) e comentaram jocosamente: «Com que então, malandro!» Virou-se para eles, furioso, e disse-lhes: «Se tivesse aqui uma pistola matava-vos!» // No Jornal de Melgaço n.º 1298, de 25/7/1920, informava-se de que ele regressara de Braga. Deve lá ter ido falar com o arcebispo! // Em 1933 era pároco da freguesia de Castro Laboreiro (NM 206, de 27/8/1933). Nesse ano esteve em exercícios espirituais em Braga; com ele estiveram também o padre de Paderne, António Domingues “Amigo”, e o padre de Fiães, Manuel José Rodrigues (NM 209, de 24/9/1933). // Morreu na vila de Castro Laboreiro a 20/2/1940. /// (*) No seu registo de óbito está escrito que ele morreu com 65 anos de idade; se estivesse correto, ele teria nascido em 1875.

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