quinta-feira, 12 de abril de 2018

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
 
Por Joaquim A. Rocha






CELEIRO MUNICIPAL DE MELGAÇO

 

     A entrada de Portugal na guerra de 1914-1918 provocou no país uma grande agitação. Em outubro de 1910 tínhamos saído do regime monárquico, com o erário nas lonas, com um analfabetismo gigantesco, uma agricultura pobre e uma indústria quase inexistente. Apesar disso tudo, o governo português insistiu com a aliada Inglaterra para entrar no conflito armado. Um dos grandes argumentos colocados em cima da mesa consistia no facto de se correr o risco de perdermos as colónias, que - ao tempo - nada representavam para a economia nacional. Os jovens melgacenses foram atingidos gravemente por essa desastrosa decisão. Uns fugiram, outros foram apanhados como coelhos pelas forças armadas. Impreparados, lá foram lutar e morrer nos campos franceses. Alguns deles deixaram viúva e filhos menores. Devido a esse facto, começou a notar-se a falta de braços fortes para trabalhar a terra. O milho, que era a base da alimentação dos minhotos, começou a escassear. O pouco que havia era vendido para alimentar as tropas em combate. Assim, o governo local teve a ideia de criar um celeiro municipal. Em Fevereiro de 1918 estava em vias de formação. Em virtude do país ter entrado em guerra no ano anterior, ao lado dos ingleses e franceses, o milho estava a ser contrabandeado e era necessário que a Câmara Municipal interviesse, comprando-o por grosso a fim de depois o vender a um preço justo a quem dele necessitasse (ver Jornal de Melgaço n.º 1194, de 9/2/1918). // Ainda nesse dito mês de Fevereiro de 1918 os jornais melgacenses anunciam que vai entrar no celeiro a primeira remessa de milho; foi nomeado pela Comissão Administrativa o vogal Fernandes para vender e fiscalizar o dito cereal (JM 1195, de 16/2/1918). O dito celeiro afinal estava instalado em um salão do hospital da Santa Casa da Misericórdia (JM 1196, de 23/2/1918). // Em Março de 1918 já tinha duzentos alqueires de trinta litros (JM 1199, de 16/3/1918). // No Jornal de Melgaço n.º 1216, de 27/7/1918, lê-se: «consta-nos que no celeiro municipal já não há milho. Não sabemos nada deste assunto, porque a Câmara actual propositadamente tem escondido o estado do celeiro do município.» // Enfim, as guerras trazem riqueza para meia dúzia de capitalistas, e a fome e pobreza para a maioria das populações.       



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