OS NOVOS LUSÍADAS
(tentativa de continuação de «Os Lusíadas» de Camões)
Por Joaquim A. Rocha
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Índio
não aceita ser submetido,
Esconde-se
nas árvores, no mato;
Prefere
andar no matagal fugido,
Como
coelho selvagem, ou rato;
Até
ser morto, gravemente f’rido,
Viver
as sete vidas como o gato.
Do
branco rejeita qualquer lição,
A
cruz de Cristo, hóstia ou pão!
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O
europeu, mui astuto, esperto,
Atrai
a si o indígena puro,
Diz-lhe
que a fouce anda por perto,
Estar
junto de si é mais seguro;
E
o inocente, de peito aberto,
Cérebro limpo, mas um pouco duro,
Aproxima-se
do hábil gatuno
Vencendo
o parvo por oportuno.
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Tudo
rouba, o cínico estrangeiro:
As
terras, costumes, a liberdade;
Só
não lhe rouba casas e dinheiro
Por
eles estarem noutra Idade.
Apesar
de ser tudo verdadeiro
Há
quem diga que isto é falsidade.
É
bom que a história se refaça
Para
a gente se rir desta chalaça.
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E
ainda que digam que sou cruel,
Que
transporto o mal no meu fraco peito,
Que
tenho nos olhos peçonha e fel,
E
que às crónicas perco o respeito…
Eu
pergunto: quem destruiu Babel,
Quem
desviou aos rios o seu leito?
Porventura Moisés era assaz mau
Por
segurar nos braços grosso pau?
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