DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO
Por Joaquim A. Rocha
DESORDENS
Há dias o ex-ministro da Cultura, Dr. João Soares, prometeu umas bofetadas a dois dos seus críticos. Se ele tivesse lido o artigo jornalístico que se segue, não teria com certeza prometido - teria dado, pois as promessas leva-as o vento. Assim, perdeu o emprego, bem remunerado, e dificilmente terá outra oportunidade como esta, quer para bater, quer para...
Lê-se no Jornal de Melgaço n.º 1257, de 3/8/1919: «Está em moda, nas romarias, à tarde ou à
noite, haver grossa bordoada. Em Pomares (lugar da freguesia de Paderne), quando no dia 25 se realizava a
festividade em honra de São Tiago (Santo Iago), foi o que se viu. No dia 27, quando em Paços
se realizava a festividade em honra de Santa Ana, também não faltou a
traulitada entre a rapaziada de Paços e a de Chaviães. Que ela se desse em
Pomares, quando se festejava o São Tiago, admitimos, visto tratar-se de um
herói na traulitada aos moiros; mas tratando-se da avó de Jesus, que decerto
devia ser toda bondosa, parece que não fica bem. Mas, como os desordeiros acham
sempre bem, toda a vez que podem pregar a sua traulitada, à tarde, pouco depois
de recolher a procissão, houve alguns socos, misturados com bengaladas, o que
deu em resultado alguns dos de Paços virem até ao lugar do Esporão onde
perguntaram aos de Chaviães se queriam guerra ou harmonia. E como os de
Chaviães respondessem que se estavam ali era para bater, e como logo em seguida
fizessem com uma traulitada baixar ao chão o Ricardo Alves, de Paços, os
companheiros deste desafrontam-no, fazendo também ir a terra uns quatro ou
cinco de Chaviães. Não podemos de forma alguma elogiar tais proezas, mas se
temos de censurar estas, como não devemos classificar o facto de os “valentes”
de Chaviães, depois desse dia, baterem em qualquer pessoa que à Portela do
Couto passasse, pelo simples facto de ser de Paços? Desconhecemos as razões
anteriores que naquele dia os levaram a vias de facto, não podendo, por isso,
avaliar bem a responsabilidade de cada grupo, mas o que toda a gente, desconhecendo
embora essas razões e até esses factos, tem de censurar com toda a energia dos
seus nervos, é o facto de certos “valentes” da Portela do Couto baterem há dias
numa mulher de Sá, conhecida por Maria do Romão. Essa mulher deve ter 60 anos
de idade aproximadamente, é viúva e doente, e vive distante um único filho que
tem. Nada mais julgo necessário para aquela mulher ser digna de todo o
respeito; mas os “valentes” da Portela não o entenderam assim. Saem à estrada,
onde lhe perguntam de onde é, e – como ela dissesse que era de Paços – dão-lhe
logo duas bofetadas. Por acaso será crime o ser natural de Paços porque os
desta freguesia bateram nos de Chaviães? Mais juízo, ó “valentes” da Portela,
pois do contrário teremos de chamar a atenção da digna autoridade
administrativa para as vossas proezas, mandando-vos chamar a capítulo!»
Nota: por ironia do destino, Chaviães e Paços uniram-se há algum tempo atrás, formando assim uma única freguesia!
Nota: por ironia do destino, Chaviães e Paços uniram-se há algum tempo atrás, formando assim uma única freguesia!
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