sábado, 28 de março de 2020

POEMAS DO VENTO
 
Por Joaquim A. Rocha




Ai quem me dera

Comer na tasca do Chiquera,

Os tremoços da Chaufera,

Bifes tenros do Mascote.

Ai quem me dera

Ir nos braços da Quimera,

No outono ou primavera,

Visitar Vénus ou Marte.

 Ai quem me dera

Ter o engenho e arte

De viajar por toda a parte

No dorso duma gaivota.

Ai quem me dera

Ter no colo uma garota,

Bem vestida, ou mesmo rota,

Cantar como a sereia.

Ai quem me dera

Ter sempre vinte anos,

Viver de sonhos e enganos,

Clamar à luz da candeia.

Ai quem me dera

Ter o mundo a meus pés,

Descansar em canapés,

Visitar Adão e Eva.

Ai quem me dera

Afastar de mim a treva,

O raio e o trovão…

Ter alguém que me leva

Para longe da ilusão.

Ai quem me dera

Esvurmar toda a maldade,

Do campo e da cidade,

Em modos de panaceia.

Ai quem me dera

Reerguer a minha aldeia

Entre rochas de granito…

Dormir no silencioso grito,

Acordar sem uma ideia. 
 
Ai quem me dera, irmão,

Invernar na primavera,

Acordar só no verão;

Destruir a filoxera

Das vinhas do coração.



 

 
 

 

 


 



 



 




 





 





 






 







 







 








 









 









 










 











 











 







 

 

 

 

 

 

 

 

















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